terça-feira, julho 31, 2007

A HORA DO LOBO (Vargtimmen)



Triste e curioso ver que Ingmar Bergman e Michelangelo Antonioni foram para o outro plano da existência quase que no mesmo dia. Eles que foram as principais influências do cinema de Walter Hugo Khouri. Mas não estava preparado para falar de Antonioni. Talvez num outro dia. Dedico, então, esse post a Bergman. Assim que soube que ele tinha falecido, peguei a minha cópia de A HORA DO LOBO (1968), que há tempos eu havia conseguido com a amiga Carol Vieira, e o assisti ontem à noite. Inclusive, a noite é a melhor hora para se ver os filmes de Bergman, já que eles estão tão próximos dos sonhos.

Lembro que quando estava em São Paulo, na casa do Eduardo Aguilar, ele me falou algo como: "Ailton, você precisa gostar de Bergman, ver mais Bergman. Ele é o grande cineasta canceriano." E é mesmo. E se o sonho é um dos símbolos mais representativos do signo de Câncer, Bergman soube explorá-lo muito bem em seus filmes. Mas é como eu estava dizendo ontem para o Marcos por MSN: quando eu vejo os filmes de Bergman, eles meio que ficam numa zona escura do meu cérebro, como se eles se juntassem aos meus próprios sonhos, sendo, portanto, passíveis de serem esquecidos. Por isso, poucos filmes do diretor ficam vivos em minha memória. PERSONA (1966), por exemplo, eu vi duas vezes mas, curiosamente, guardo poucas lembranças do filme. Por essas e outras razões que o cinema de Bergman é um prato cheio para os estudantes de psicologia. Inclusive, já se escreveu muitos ensaios sobre Bergman e a psicologia freudiana.

Pra quem viu PERSONA, A HORA DO LOBO não é tão diferente, embora seja um filme que se destaca dos demais por sua maior aproximação com o gênero horror, ainda que bem distante do que se imagina de um tradicional filme de horror. Eu, como não tinha lido nada sobre o filme, até pensava se tratar de um filme de lobisomem. Na verdade, eu ainda continuo sem ter entendido o filme. A tal "hora do lobo" do título, conforme o próprio personagem de Max Von Sidow diz, é a hora em que os insones são perseguidos pelos seus demônios interiores, seus temores mais profundos. É também a hora em que a maioria das pessoas morrem. Talvez tanto Bergman quanto Antonioni tenham ido embora nessa "hora do lobo".

Na trama, Max Von Sidow é um pintor atormentado que sofre de insônia e que mora com a esposa (Liv Ullmann) numa casa situada numa ilha isolada. Aos poucos, ele vai se comportando de maneira estranha, fazendo desenhos sinistros, tratando mal a esposa. O pintor recebe, então, convites para participar de festas num castelo local. A partir da cena que mostra os homens e mulheres presentes na festa, com a câmera inquieta focalizando mais de perto seus rostos, mostrados com um aspecto quase monstruoso graças ao alto contraste da fotografia em preto e branco de Sven Nykvist, a partir desse momento, o filme vai entrando num clima crescente de pesadelo. Como na cena em que uma velha arranca o próprio rosto e os seus olhos - cena que me lembrou A MONTANHA SAGRADA, de Alejandro Jodorowsky - ou aquela na qual um homem sobe pelas paredes.

Woody Allen constumava dizer que Bergman - seguido de Buñuel e Kurosawa - era o maior poeta do cinema. Obviamente, ele que tanto bebeu da fonte do cineasta sueco sentiu muito a sua perda. Sobre Bergman, Allen um dia falou: "é provavelmente o maior artista de cinema desde a invenção da máquina de filmar".

P.S.: Chico Fireman preparou uma pequena homenagem ao cineasta em seu blog, convidando vários blogueiros cinéfilos para escrever um pequeno texto sobre um filme do diretor. Eu contribuí com o meu Bergman favorito: MORANGOS SILVESTRES (1957).

Nenhum comentário: