terça-feira, março 20, 2007
SANGUE POR GLÓRIA (What Price Glory)
Mais uma obra menor de John Ford. No livro de Scott Eyman e Paul Duncan editado pela Taschen, SANGUE POR GLÓRIA (1952) é mais um filme a receber um único parágrafo pelos autores e ainda assim como comparativo de inferioridade do bem sucedido filme homônimo dirigido pelo aventureiro Raoul Walsh em 1926, também baseado na mesma peça teatral. Por mais que SANGUE POR GLÓRIA seja um filme problemático, ele mereceria mais consideração. Até porque a presença de James Cagney num filme de Ford é algo para se festejar, sendo uma exceção numa filmografia onde a presença de John Wayne ou Henry Fonda é quase regra. E por falar em Henry Fonda em filme de Ford, aproveito a deixa para lembrar que mais dois filmes do diretor estrelados pelo astro chegarão em DVD em breve: A MOCIDADE DE LINCOLN (1939) e AO RUFAR DOS TAMBORES (1939). CAMINHO ÁSPERO (1941) também está previsto para chegar em abril pela Fox.
Engraçado como a palavra "glória" é associada à guerra. Só recentemente, eu vi, além desse filme de Ford, CAMINHO DA GLÓRIA, de Howard Hawks, e DIAS DE GLÓRIA, de Rachid Bouchareb. De cabeça, lembro-me de GLÓRIA FEITA DE SANGUE, de Stanley Kubrick, e TEMPO DE GLÓRIA, de Edward Zwick. Meu Deus, o que há de tão glorioso em morrer por um país? O que se ganha com isso além de uma morte sangrenta e de momentos de horror? Acredito que a nossa geração seja mais crítica nesse sentido - os dois filmes de guerra de Clint Eastwood estão aí para comprovar -, mas ao que parece até a Segunda Guerra Mundial, as pessoas encaravam esses conflitos com mais romantismo. E de certa forma, é até bonito ver esse entusiasmo dos soldados pela batalha, como é mostrado no final desse filme de Ford, ou nas duas versões de HENRIQUE V.
Mas afinal, o que há de errado em SANGUE POR GLÓRIA? O principal problema do filme se deve a um certo artificialismo devido às filmagens em estúdio e à falta de realismo nas poucas seqüências de ação. A fotografia em technicolor também não ajuda a esconder esse problema. Ao contrário, acentua ainda mais. As cenas musicais tornam o filme ainda mais datado, chegando a ser incômodo. Nem sempre o humor do filme funciona, mas quando funciona é gostoso de se ver. Acho que eu fiquei um pouco frustrado, já que eu esperava um filme de guerra dramático e sério como CAMINHO DA GLÓRIA e o que eu vi foi um filme híbrido, metade comédia (com cenas musicais) e metade drama de guerra. Gosto mais da segunda metade do filme, claro. A primeira parte, ao mesmo tempo que nos ajuda a simpatizar com os personagens, estraga um pouco a tentativa de se levar a sério a sua parte mais dramática.
Quanto à parte musical, soube depois que Ford odiava as canções e que se recusou a gravar a maior parte delas. O produtor Daryl F. Zanuck é que queria mesmo fazer um musical. Tanto que o teaser trailer do filme, que não consta da edição nacional da Fox, prometia treze novas canções! Imagina se Ford tivesse filmado tudo isso? Seria um negócio insuportável de se assistir. Soube também que Ford queria em seu filme o seu casal favorito - John Wayne e Maureen O'Hara - mas Zanuck não aceitou.
A trama gira em torno da rivalidade entre o Capitão Flagg (Cagney) e o Sargento Quirt (Dan Dailey). Ambos se interessam pela mesma mulher, uma garçonete francesa. Ambos fazem parte de um regimento americano na França, na época da Primeira Guerra Mundial. A missão da equipe do Capitão Flagg é capturar um oficial alemão. Tem também uma subtrama fraquíssima envolvendo um soldado americano apaixonado por uma adolescente francesa, que rende o pior momento do filme, mas é melhor esquecer disso e ficar apenas com a lembrança dos bons momentos.
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