terça-feira, março 13, 2007

CAMINHO DA GLÓRIA (The Road to Glory)



Como é bom ter a chance de ver de vez em quando mais um filme de Howard Hawks. CAMINHO DA GLÓRIA (1936), apesar de ter sido lançado em DVD pela Fox, eu só consegui assistir graças à ajuda do amigo Renato Doho, que fez a gentileza de copiar esse DVD pra mim - thanx, buddie! With a little help from my friends, eu vou conseguindo ver pérolas como essa. Do pacote de filmes que ele me enviou, o primeiro título que eu quis ver foi esse do Hawks.

Vale lembrar que CAMINHO DA GLÓRIA não é uma refilmagem do filme homônimo dirigido por Hawks em 1926. O filme surgiu a partir do momento em que Darryl F. Zanuck mostrou para Hawks um filme francês chamado LES CROIX DE BOIS (1932) que continha cenas reais da batalha nas trincheiras na França, na I Guerra Mundial. Hawks aproveitou cenas noturnas desse filme no seu trabalho. Por falar em guerra, interessante como cada guerra tem um rosto. Numa cena de CAMINHO DA GLÓRIA, Lionel Barrymore diz que bom era no seu tempo, onde se guerreava ao som de cornetas, como costumamos ver nos filmes de cavalaria de John Ford. Nessa guerra, tudo que os soldados faziam era cavar buracos.

Mas CAMINHO DA GLÓRIA não é um filme de guerra qualquer. É um filme puramente hawksiano, com muitas das características do cinema do diretor. Há homens vivendo em circunstâncias perigosas; homens desvinculados de suas famílias (a exceção talvez seja a apresentação do já citado pai do personagem de Baxter); há uma mulher atirada (não tanto quanto a dos filmes seguintes de Hawks, mas já é um começo); há um protagonista bem humorado. Poderia citar também o sacrifício dos heróis, mas ainda não sei se isso é um tema recorrente nos filmes de Hawks. É que eu vi algo parecido em HERÓIS DO AR (1936), o filme imediatamente anterior do diretor.

O eixo central da trama mostra dois oficiais do exército francês apaixonados pela mesma mulher no cenário da guerra. A fotografia de Gregg Toland, o mesmo de CIDADÃO KANE (1941), ajuda a conferir uma atmosfera de escuridão, tanto no front, quanto nas cidades, que também são constantemente bombardeadas. É em pleno bombardeio que o tenente Michel Denet (Fredrich March) conhece a jovem Monique (June Lang), uma enfermeira que por acaso é namorada de seu superior, o capitão Paul La Roche (Warner Baxter). Apesar de o triângulo amoroso ser o centro do filme, Hawks nos brinda também com várias seqüências nas trincheiras. A mais memorável delas é aquela em que os soldados franceses sabem que os alemães estão construindo uma mina logo abaixo deles mas nada podem fazer a não ser torcer para que eles consigam trocar de posto com os soldados do próximo turno a tempo. A batalha final, liderada pelo capitão La Roche é também um dos pontos altos e até lembra as espetaculares seqüências de GLÓRIA FEITA DE SANGUE, de Stanley Kubrick. Talvez Kubrick tenha se inspirado nesse filme de Hawks, quem sabe.

Quanto à bela June Lang, Hawks não gostou muito dela. Na entrevista a Peter Bogdanovich, ele comentou que ela era incapaz de representar e que teve muito trabalho para conseguir arrancar algo próximo de uma interpretação da menina, que só tinha cerca de dezessete anos na época. No entanto, apesar de se notar que ela não é uma grande atriz, eu gostei da moça. Tanto que considero uma das seqüências mais emocionantes do filme aquela que mostra a moça numa igreja, rezando pelos dois homens que ama, ao som de "Ave Maria". Aquilo ali ficou muito bonito. Aliás, o filme todo é cheio de seqüências maravilhosas. Só é um pouco irregular, principalmente se comparado com outros filmes de primeira grandeza de um gigante como Hawks. De qualquer maneira, Hawks já está no pódio dos meus diretores preferidos e até os filmes menores dele eu aprecio.

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