sábado, fevereiro 03, 2007

À PROCURA DA FELICIDADE (The Pursuit of Happyness)



A impressão que muitos podem ter de À PROCURA DA FELICIDADE (2006) é que se trata apenas de um melodrama lacrimoso digno de ser ignorado. Mas ignorar esse belo trabalho que marca a estréia do cineasta italiano Gabriele Muccino em Hollywood é cometer um erro. Assim como eu, Will Smith gostou bastante de O ÚLTIMO BEIJO (2001) e de PARA SEMPRE NA MINHA VIDA (1999), dois dos trabalhos mais conhecidos de Muccino. E foi Will Smith quem fez questão de que Muccino fosse o diretor desse filme que narra a difícil luta de Chris Gardner (Smith) para sair da miséria em que se encontra.

Chris Gardner é um sujeito que trabalha como vendedor. Apesar de estar com o aluguel atrasado, de ter seu carro levado embora por causa do acúmulo de multas, e de estar prestes a perder a esposa, ele tenta sempre acreditar que essa má sorte vai passar, que aquilo tudo será superado. Ele vende um equipamento médico que poucos hospitais se interessam em adquirir e recebe vários "nãos" por dia. Certo dia, ao passar em frente a uma corretora de valores, ele olha para a expressão de alegria daquelas pessoas que lá trabalham e resolve tentar a sorte naquele lugar, mesmo sem ter nenhum curso superior.

À PROCURA DA FELICIDADE é um filme indicado para levantar os ânimos daquelas pessoas que pensam em desistir. Apesar do termo depreciativo, até poderiam chamá-lo de filme de "auto-ajuda". Acontece que poucas pessoas passaram pelo que Chris Gardner passou em sua vida. Refiro-me não ao verdadeiro Chris Gardner, de quem pouco sei, mas daquele mostrado no filme. Dizem que o verdadeiro estava longe de ser tão bonzinho e que na vida real o estágio que ele conseguiu era remunerado. Quanto às liberdades tomadas pelos realizadores, não vejo problema algum. Se é para o bem do filme, que venham as mentiras e os exageros. Aliás, até que para um filme assumidade classificicado como melodrama, até que Muccino fez um trabalho bastante contido. O único momento de derramar lágrimas que eu senti foi mesmo no final. Naquele momento ali é difícil segurar as lágrimas.

Engraçado que eu pretendia ver esse filme sozinho pra não passar vergonha. Não queria que a pessoa que me acompanhasse durante a sessão me pegasse chorando. Mas quis o destino que eu visse o filme na companhia de alguém, que depois ainda ficou tirando sarro comigo, perguntando se eu também estava gripado. Como diria o Chapolin: "se aproveitam da minha nobreza".

O filme traz o melhor desempenho de Will Smith, que já havia mostrado competência em ALI, mas que dessa vez faz um trabalho fantástico. Smith contracena ao lado de seu filho, Jaden Christopher Syre Smith, e a química funcionou muito bem, já que nem foi preciso Smith fingir que amava aquele garoto. Dessa maneira, as coisas aconteceram de maneira bem mais natural. Tanto que o filme cresce mais quando Thandie Newton, que faz a mãe do garoto, sai de cena, dando mais espaço para o filme focalizar melhor a relação entre pai e filho. Interessante notar que em nenhum momento o filme sugere haver preconceito racial na pessoa de Gardner, algo praticamente inédito em se tratando de cinema americano.

A trilha sonora é um caso à parte, destaque para as canções de Stevie Wonder. Já conhecia "Higher Ground" numa versão dos Red Hot Chilli Peppers e foi muito bom ouví-la no original. Num dos vários momentos tristes do filme, toca uma bela versão de "Bridge Over Troubled Water", cantada pela Roberta Flack.

P.S.: Acabei de saber que o último filme italiano de Muccino está para sair em DVD no Brasil pela Paris Filmes com o título de NO LIMITE DAS EMOÇÕES (2003).

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