Ver O PROSCRITO (1943) significou pra mim matar três coelhos com uma só cajadada: 1) o filme faz parte de minha mini-peregrinação pela obra de Howard Hawks, embora Hawks tenha dirigido apenas algumas poucas cenas; 2) depois de O AVIADOR, de Scorsese, meu interesse pelo universo de Howard Hughes cresceu bastante; 3) especialmente depois de PAT GARRETT & BILLY THE KID, de Sam Peckinpah, e MATEI JESSE JAMES, de Samuel Fuller, também passei a me interessar mais pelos filmes que contam histórias dessas figuras mitológicas do velho oeste.
Não gostei muito de como são mostrados Billy the Kid e Pat Garrett no filme de Hughes. Especialmente Garrett (Thomas Mitchell), mostrado como um xerife velho e barrigudo, bem mais velho que o jovem Billy (Jack Buetel). Já tinha me acostumado com a idéia de eles terem uma idade aproximada e com o fato de eles terem sido amigos de longa data, como é mostrado no melancólico filme de Peckinpah.
A trama de O PROSCRITO junta essas duas lendas do oeste com o não menos famoso Doc Holliday, interpretado no filme por Walter Huston. No filme, Doc é amigão de Garrett. Mas quando Billy surge na cidade, Doc esquece um pouco o amigo Garrett para estabelecer um vínculo de amizade com o jovem pistoleiro. Em certos momentos, dá a entender que há uma espécie de atração entre os dois. Isso, vindo de Hughes, é até normal - dizem que ele era bissexual. Talvez pra não desconfiarem muito, o filme foca a atenção na personagem de Jane Russell, atriz que foi escolhida por causa de seu busto grande. Ela interpreta a mulher de Doc Hollyday, que acaba por se apaixonar por Billy.
Hughes chegou a desenhar um modelo de sutiã para levantar e ressaltar ainda mais os já generosos seios da moça. A polêmica gerada em torno da sensualidade do filme e dos seios de Russell pôde ser vista em O AVIADOR, com Hughes rindo da hipocrisia e do puritanismo dos americanos. O lançamento do filme demorou três anos por causa dessa briga de Hughes com a censura. A briga durou tanto que Hughes finalmente decidiu lançar o filme sem o selo de aprovação do Motion Picture Code, marcando o início do fim da censura em Hollywood.
Mesmo com toda a importância, O PROSCRITO não chega a ser um grande filme. Acho irritantes as seqüências de humor, que não parecem combinar com a música do filme, quase sempre em tom épico. Parece que Hughes não tinha mesmo talento para o humor como Hawks ou Ford. O filme também parece não se levar a sério em tempo nenhum, perdendo o impacto que poderia ter.
Próximo filme de Hawks que pretendo ver: UMA AVENTURA NA MARTINICA (1944), com o ilustre casal Humphrey Bogart e Lauren Bacall.
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