terça-feira, setembro 20, 2005

HOTEL RUANDA (Hotel Rwanda)



Se HOTEL RUANDA (2004) tivesse sido lançado no Brasil na mesma época que os outros indicados ao Oscar (MENINA DE OURO, RAY, O AVIADOR etc.), talvez tivesse sido recebido melhor pelo público, com uma bilheteria maior. O que aconteceu nesse ano foi que boa parte dos filmes indicados ao Oscar nem chegaram nos cinemas. Por isso, o filme acabou indo para os circuito alternativo. Bom, pelo menos foi o que aconteceu aqui em Fortaleza. A principal indicação de HOTEL RUANDA foi na categoria de melhor ator, pela brilhante performance de Don Cheadle. Ele faz o papel do gerente de um hotel que salva a vida de mais de mil pessoas, abrigando-as no hotel, como uma espécie de Oscar Schindler africano.

HOTEL RUANDA é um bom filme. Envolvente, trata de um assunto que mexe nos calos dos americanos, que não tiveram interesse em intervir numa das guerras civis mais sangrentas dos últimos anos. Nem eles, nem nenhum outro país da Europa. Nem mesmo a Bélgica, o país diretamente responsável por essa guerra, onde morreram mais de um milhão de ruandenses em cem dias de conflito. Como o país é muito pobre, e não havia muitas armas de fogo disponíveis, o massacre se deu principalmente por meio de facões.

Tudo começou quando a Bélgica, na época em que colonizava a Ruanda, resolveu classificar a população entre hutus e tutsis. Os tutsis seriam geneticamente superiores aos hutus e, portanto, teriam o direito de comandar a país. Essa classificação foi feita levando em consideração a cor da pele, o tamanho e a espessura do nariz. Quer dizer, um absurdo. Principalmente porque nos anos 90 já não se podia distinguir um hutu de um tutsi apenas olhando para ele. Só se distingue com a apresentação de um documento de comprovação. Por causa de tantos anos de dominação, instalou-se um ódio mortal dos hutus aos tutsis. Foi com a alimentação desse ódio que criou-se a idéia de massacrar os tutsis, apelidados de "baratas" pelos hutus, que clamavam a morte de seus inimigos através de uma estação de rádio.

Um dos momentos mais chocantes do filme é quando Don Cheadle passa com uma caminhonete por cima de centenas de cadáveres sem se dar conta do que está bloqueando a estrada. O cenário do filme, aliás, lembra uma daquelas ficções apocalípticas sobre o fim do mundo estilo TERRA DOS MORTOS, do Romero. Mas o pior é que aquilo ali foi bem real. Chega a ser assustador imaginar que tudo aquilo é fruto da estupidez do ser humano: de sua vontade de ser superior, da incapacidade de perdoar e da facilidade de se deixar levar pela histeria coletiva.

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