domingo, setembro 04, 2005

GAIJIN, OS DOIS FILMES



Caso raro de continuação no cinema brasileiro, os dois filmes GAIJIN, de Tizuka Yamasaki, são duas produções corajosas. A diretora não tinha nenhum filme no currículo quando teve a pretensão de fazer um filme contando a história da emigração japonesa para o Brasil do ponto de vista de uma mulher: Titoe, a personagem principal dos dois filmes e em ambos interpretada por Kyoko Tsukamoto. GAIJIN - CAMINHOS DA LIBERDADE (1980), eu assisti, graças a uma exibição recente na Rede Globo. Já GAIJIN - AMA-ME COMO SOU (2005), acabei de voltar de uma sessão do filme, com apenas outros quatro gatos pingados no Multiplex Iguatemi. É provável que o filme esteja sendo melhor recebido no Espaço Unibanco Dragão do Mar, onde também está em cartaz, já que o público das salas, teoricamente, é diferente.

GAIJIN - CAMINHOS DA LIBERDADE

O drama de ser estrangeiro não está apenas na história de Titoe e do grupo de japoneses que, fugindo da miséria que assola o Japão no início do século XX, vem para o Brasil para reconstruir suas vidas e trabalhar na lavoura, no interior de São Paulo. A intenção deles é ganhar dinheiro para poder retornar em alguns anos para o Japão. Além de sofrerem com uma viagem de barco extremamente cansativa, ao chegar no Brasil, eles ainda são explorados e humilhados pelos latifundiários, que os usam como mão-de-obra escrava, já que dinheiro, que é bom, só depois de um ano de trabalho. Mas, como eu falava no início, o drama de ser estrangeiro não está apenas na história japonesa, mas também na figura do nordestino, representado pelo Ceará (José Dumont), e dos italianos, liderados por Enrico (Gianfrancesco Guarnieri). Uma das cenas mais interessantes do filme é quando José Dumont fala sobre suas crenças nos santos do Catolicismo para um japonês que mal entende a língua, que dirá suas crenças. Pena que o filme, lá pela metade, vai perdendo a força. E o romance entre Tonho (Antônio Fagundes) e Titoe não convence. O não convencer, aliás, é um dos problemas de ambos os filmes. Há várias cenas que parecem interpretadas por um grupo de teatro amador. Mas isso pode ser relevado. Não sei se a Globo fez dublagem do japonês ou se o áudio era daquele jeito mesmo.

GAIJIN - AMA-ME COMO SOU

Essa continuação é melhor do que o filme original, apesar de também ter os seus problemas. É uma obra ainda mais pretensiosa que a anterior, já que cobre uma história de um século. O filme começa no Japão do início do século XX, quando Titoe ainda era uma garotinha e termina com ela velhinha, próximo dos dias atuais. Em todo esse tempo, fatos históricos importantes são citados, como a Guerra do Japão contra a China e a Rússia, a diáspora japonesa devido à crise, a participação do Japão na Segunda Guerra Mundial, com destaque para o ataque a Pearl Harbor e as duas bombas atômicas, o momento de crescimento brasileiro nos anos 50 e 60, o Governo Collor. É muita coisa para um filme só, mas ele ainda se propõe a falar dos relacionamentos amorosos de três gerações de mulheres. Felizmente, dessa vez arranjaram um dublador para o cubano Jorge Perugorría. Coisa que Ruy Guerra devia ter feito quando escalou o ator para o seu ESTORVO. Do elenco do filme anterior, há também a participação de Louise Cardoso. O filme recebeu um monte de prêmios em Gramado, mas a crítica não anda nada generosa. Durante o filme, eu até esqueci que Yamazaki é a diretora da pior experiência que eu tive dentro de uma sala de cinema: o dia em que assisti XUXA POPSTAR (2000). Mas eu juro que vi esse "filme" contra a minha vontade. Melhor não me lembrar pra não ficar com raiva.

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