quinta-feira, setembro 08, 2005
HOWARD HAWKS EM DOIS FILMES
Uma pena que Howard Hawks não tenha o mesmo prestígio que Alfred Hitchcock tem no mercado de DVDs. Não há muitos filmes dele disponíveis em vídeo no Brasil. E eu estou gostando tanto dos filmes dele que dá vontade de ver a filmografia completa, enquanto leio a entrevista do livro "Afinal, Quem Faz os Filmes". Fiquei, por exemplo, muito curioso para ver SUPREMA CONQUISTA (1934), uma de suas primeiras comédias malucas, e que recebeu bastante destaque na entrevista do livro. Dessa vez, pude (re)ver duas obras-primas que são a cara de Hawks: LEVADA DA BRECA (1938), talvez a mais famosa das screwball comedies, e O PARAÍSO INFERNAL (1939), drama de aviação considerado um dos mais arquetípicos da filmografia do diretor. Os dois filmes são estrelados por Cary Grant, ator que trabalharia com Hawks em mais três filmes: JEJUM DE AMOR (1940), A NOIVA ERA ELE (1949) e O INVENTOR DA MOCIDADE (1952).
LEVADA DA BRECA (Bringing up Baby)
Não se fazem mais comédias como antigamente. Poucas vezes eu dei risadas tão gostosas quanto nesse fim de semana, vendo Cary Grant todo bobão correndo atrás de um cachorro durante um jantar com a família da personagem de Katherine Hepburn. Por falar em Kate, fica muito fácil lembrar de Cate Blanchett interpretando Hepburn em O AVIADOR. Principalmente na cena do campo de golfe. De acordo com o que Hawks falou na entrevista, as cenas com o cachorro e o leopardo deram um trabalho dos diabos. Mas o diretor não desistiria e ainda faria cenas ainda mais trabalhosas envolvendo bichos em HATARI! (1962).
LEVADA DA BRECA dá de dez no remake de Peter Bogdanovich - ESSA PEQUENA É UMA PARADA (1972). Talvez porque a graça das comédias malucas esteja no clima dos anos 30. Interessante que o título nacional dos dois filmes, o original e a refilmagem, são representativos do tipo de título adotado no Brasil nos anos 30 e 70. A comédia é o gênero que mais costuma se utilizar das gírias da época. Exemplo de título atual: PENETRAS BONS DE BICO.
O PARAÍSO INFERNAL (Only Angels Have Wings)
Impressionante como Cary Grant desempenhava com a mesma excelência papéis cômicos e papéis dramáticos. Em O PARAÍSO INFERNAL, ele é um piloto de aviões que trabalha de entregar correio e mercadoria num pequeno aeroporto de um país da América do Sul. O lugar é muito perigoso por estar com o tempo constantemente nublado. Além do mais, tempestades são uma constante lá. O trabalho de piloto é semelhante ao trabalho de um soldado numa guerra: nunca se sabe se a pessoa vai conseguir sobreviver. Cary Grant só aparece depois de vinte minutos de filme. Antes disso, nós somos apresentados à personagem de Jean Arthur. Assim como Elsa Martinelli em HATARI!, essa mulher chega para ficar no grupo formado em sua maioria por homens. E assim como em HATARI!, ela se apaixona por um dos líderes do grupo. Há semelhanças também entre os personagens durões de Cary Grant e John Wayne.
Nos filmes de Hawks, há uma espécie de ausência do núcleo familiar. A família é o grupo de amigos. A mulher chega de longe e se identifica com o lugar, mesmo ele sendo árido ou perigoso. A mulher nos filmes de Hawks é bastante ativa. No relacionamento amoroso é ela que passa a cantada, é ela que dá o primeiro passo. Hawks achava ridículo homens passando cantada. Outra característica comum dos filmes de Hawks é que dificilmente há espaço para o choro. Mesmo em momentos de extrema tristeza. E há muitos em O PARAÍSO INFERNAL. Hawks, ao matar um dos primeiros personagens apresentados no filme mostra o quão perigoso é o trabalho daqueles homens.
O diretor era fanático por aviação. Antes de O PARAÍSO INFERNAL, já tinha feito três filmes ambientados nesse universo: PATRULHA DA MADRUGADA (1930), HERÓIS DO AR (1935) e PILOTO DE PROVAS (1938). As cenas de vôo, o suspense causado pela iminência do perigo, o som do avião, tudo isso contribui para a excelência do filme. Há uma cena particularmente digna de nota, que é a cena do pássaro atravessando o para-brisa do avião.
O PARAÍSO INFERNAL foi também o primeiro filme importante estrelado por Rita Hayworth, que viraria mito em 1946, com GILDA, de Charles Vidor.
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