segunda-feira, novembro 09, 2020

TENET



Que loucura este 2020, hein. E como tudo foi afetado pela pandemia, claro que o cinema não poderia deixar de ser. Na verdade, o cinema foi um dos setores mais prejudicados. A escolha de Christopher Nolan e da Warner de colocar TENET (2020) nos cinemas mesmo com os índices de contaminação ainda altos e com muito do público temeroso de pisar os pés em uma sala de cinema foi arriscada. Com isso, o filme de Nolan acaba sendo o único blockbuster deste segundo semestre, já que houve uma rejeição a OS NOVOS MUTANTES, um filme bem simpático e que mereceria um pouco mais de consideração.

Começar o texto falando de loucura e abordar TENET até que tem um pouco a ver. Mas só um pouco, já que Nolan é um diretor cerebral. Se tem alguém que fica com os neurônios pegando fogo durante a projeção de seus filmes é o público. E mesmo assim eles gostam, levando em consideração o bom número de pagantes para o filme, que de fato tem suas qualidades de produção valorizadas na sala IMAX. Se as pessoas acharam INTERESTELAR (2014) complicado, TENET leva essa complexidade a uma outra escala. Quando a gente pensa que está começando a entender a trama, eis que ele traz novas cenas que nos deixam perdidos novamente.

Mas há que se respeitar um cineasta que é capaz de fazer um filme caro como este, sem nenhum grande astro no cartaz (o nome de Robert Pattinson não aparece em destaque), de difícil compreensão, e ainda atrair um número considerável de espectadores em plena pandemia. Minha reação ao filme foi variando ao longo da metragem. Comecei me irritando com explicações sobre as balas reversas, depois fui achando fascinante a história de um mundo reverso, e ficando bastante impressionado com as cenas de ação, e em especial com o som, com a qualidade de som do filme, que numa sala IMAX é estrondoso de bom. A trilha sonora, a cargo do sueco Ludwig Göransson, lembra o som de algumas bandas de rock industrial, como o Ministry, e isso também me agradou.

Comecei, com este filme, a achar aceitável o estilo de Nolan: um diretor com uma absoluta fascinação pelo tempo e que vem brincando com isso de maneira cerebral ao longo de sua filmografia, talvez desde a sua obra de estreia. Lembremos que em Nolan até o sonho é racionalizado, vide A ORIGEM (2010). Não é algo que vai me agradar plenamente, claro, mas estou começando a dar novas chances ao diretor. Até porque uma coisa que percebemos vendo TENET é que estamos diante de um dos cineastas mais dispostos a trazer a ficção científica para o cinema da maneira mais séria possível. Ou seja, trazendo conceitos de física e química que lhe auxiliam na construção de uma trama complexa.

O problema (ou seria a solução?) é que ele não quis apenas fazer um filme de ficção científica, mas também uma espécie de thriller de espionagem à James Bond, com o mérito de trazer um protagonista negro e cheio de brilho e carisma. John David Washington é uma aposta , já que seu papel de maior destaque até então era o de INFILTRADO NA KLAN, de Spike Lee, um filme mais direcionado ao circuito alternativo. Aqui ele incorpora um James Bond meio perdido, mas que nunca abandona a elegância. Sempre com um terno chique, mesmo quando está às voltas com lutas braçais com criaturas vindo do futuro.

O fato de o protagonista (ele não tem um nome no filme) estar tão perdido quanto o espectador não deixa de ser um alento. Aliás, é curioso que, na época da divulgação do filme, contou-se que nem o elenco entendeu a história de TENET. Então, quando vemos os personagens dialogando sobre esses assuntos complicados e de uma maneira até um tanto robótica, fiquei pensando em um cineasta mais ou menos ditatorial, que não se importa com o que o ator está sentindo ou deve sentir para a cena. É o caso de ver o ator como gado, como Alfred Hitchcock tempos atrás.

As cenas que mais se aproximam de uma sensação mais dramática ou minimamente sentimental vem da personagem de Elizabeth Debicki, que interpreta a esposa de um homem que tem em suas mãos o destino do universo, vivido por Kenneth Branagh. Uma das cenas mais empolgantes do filme, inclusive, é uma em que os dois coadjuvantes estão em um barco. Por outro lado, as cenas de ação mais ambiciosas, como a dos caminhões pressionando uma camionete, parecem um pouco engessadas. Mas ainda assim funcionam como um alívio para o cérebro nas duas horas e meia de duração que, acredite se quiser, passam voando.

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