quarta-feira, outubro 28, 2020

OS NOVOS MUTANTES (The New Mutants)



Um filme que já nasceu como um cachorro morto para o povo chutar. Ou para as pessoas não verem. A própria distribuidora o lançou no meio da pandemia, quando ninguém quer ir ao cinema. E chovem críticas negativas (34% de aprovação no site Rotten Tomatoes). Mas OS NOVOS MUTANTES (2020) é envolvente. Fico agradecido por ele existir e finalmente ter sido lançado após tanto tempo na geladeira, por mais que tenha sido mais arremessado do que exatamente lançado. É como se a Disney, mesmo tendo comprado a Fox, tratasse o material como concorrente e digno de ser execrado.

O filme de Josh Boone, diretor dos bons dramas de relacionamentos LIGADOS PELO AMOR (2012) e A CULPA É DAS ESTRELAS (2014), é sem dúvida superior aos dois filmes anteriores dos X-Men - lembrando: os horríveis X-MEN - APOCALIPSE e X-MEN - FÊNIX NEGRA. É claramente uma produção mais barata e mais humilde. Não há aquela megalomania dos outros filmes dos mutantes. E há um diferencial muito atraente: a pegada de filme de horror, que oferece uma experiência diferente ao subgênero de filmes de super-heróis.

Junte-se a isso as angústias dos adolescentes em lidar com seus poderes, que podem servir de metáfora para as explosões hormonais que surgem neste estágio da vida humana. Há um romance gay muito bonito entre duas personagens, inclusive, o que conta ainda mais pontos a favor do filme. Assim, nota-se que a escolha de Boone para a direção do filme teve mais a ver com seu sucesso popular com o melodrama teen A CULPA É DAS ESTRELAS do que com sua intimidade com filmes de ação ou horror. Na verdade, ele não tinha nenhuma. 

E isso infelizmente depõe contra o filme quando ele se aproxima de seu clímax e as cenas de ação merecem ter um cuidado maior. É quando OS NOVOS MUTANTES cai bastante. Os efeitos especiais do urso gigante também são outro problema, mas talvez isso possa ser relevado diante do projeto como um todo. Até porque há outros tantos aspectos positivos, como a presença brilhante de Anya Taylor-Joy como a provocadora e badass Ilyana Raspuntin. A atriz ficou muito bem, trazendo expressividade e charme para a personagem. Ilyana tem o poder de se teleportar para um limbo, tem uma espada mágica gigante e um dragãozinho demoníaco como companheiro.

Todos os demais atores e atrizes acabam ficando eclipsados pela presença de Taylor-Joy. Mas isso não quer dizer que a química não funcione. Rahne (Maisie Williams), a menina que se transforma em lobo; Dani (Blu Hunt), com poderes a ser descobertos; Sam (Charlie Heaton), uma espécie de míssil humano descontrolado; e Roberto (Henry Zaga, ator brasileiro), cujo corpo arde como um vulcão; todos estão bem. Aliás, temos dois intérpretes brasileiros no filme: além de Zaga, a nossa querida Alice Braga, no papel da médica responsável pelos novos mutantes naquela instalação que os aprisiona.

Quem leu as histórias clássicas do grupo, com roteiro de Chris Claremont e arte de Bill Sienkiewicz e Bob McLeod provavelmente vai ter ainda mais prazer vendo o filme. É uma pena que o filme morrerá neste único exemplar. Assim sendo, a abertura para o futuro na vida daqueles jovens em processo de autodescoberta ao final da narrativa traz um gostinho amargo de interrupção. Caso de obra que definitivamente teve má sorte em seu processo de produção, pós-produção e lançamento. 

Vi o filme numa sala IMAX gigante. Havia apenas seis pessoas na sala. Uma tristeza. Mas é totalmente compreensível nesses tempos de perigo invisível no ar.

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