sábado, outubro 17, 2020

A MALDIÇÃO DA MANSÃO BLY (The Haunting of Bly Manon)



Em tempos de resistência a séries de minha parte, só mesmo Mike Flanagan para fazer eu me empolgar com uma delas com todo carinho e entusiasmo, mesmo já esperando ser um trabalho inferior ao maravilhoso A MALDIÇÃO DA RESIDÊNCIA HILL (2018), que é algo próximo de uma obra-prima e tem todos os episódios dirigidos por seu criador. Aqui Flanagan terceirizou: dirigiu apenas o primeiro, "The Great Good Place". Ainda assim ele conseguiu imprimir sua marca na série como um todo. A MALDIÇÃO DA MANSÃO BLY (2020) guarda várias similaridades com a minissérie anterior, utilizando novamente o método de ir aprofundando e apresentando melhor os personagens a cada episódio.

No caso, temos personagens vivos e também há os vários mortos. Esses é que trazem as histórias mais fascinantes e angustiantes, como a mostrada no episódio 7, o meu favorito. Essa ampliação do universo da novela de terror A Volta do Parafuso, de Henry James, fez eu me interessar mais ainda pela obra literária e pelas outras versões cinematográficas (falta eu ver ATRAVÉS DA SOMBRA, de Walter Lima Jr., e OS ÓRFÃOS, de Floria Sigismondi). E sim, eu sei que o texto original serve apenas de base para a construção de um roteiro que usa muitas liberdades para contar sua própria história de amor e morte.

Aliás, uma coisa que me encantou bastante neste MANSÃO BLY foi o caráter essencialmente romântico da história. Mas por romântico, eu me refiro ao romantismo "raiz", aquele que envolve dor, morte, sofrimento, assombração. No já referido sétimo episódio, "The Two Faces, Part Two", ficamos sabendo dos planos terríveis de Peter Quinn (Oliver Jackson-Cohen) para conseguir se livrar do purgatório em que vive desde que foi assassinado pelo misterioso espírito de uma mulher que já assombrava a casa há vários anos.

Aliás, é no episódio 8, "The Romance of Certain Old Clothes", quase todo filmado em preto e branco, que saberemos toda a história dessa mulher do século XVII (vivida por Kate Siegel, esposa de Flanagan). E a história é tão fascinante que teria força muito bem para ser um longa-metragem independente. No entanto, como parte do conjunto da obra se torna ainda mais poderosa, pois mais uma vez nos mostra a morte como algo extremamente perturbador. Ou seja, o temor maior aqui não é de morrer, mas é ter essa consciência da morte. Isso já havia sido mostrado nos episódios que revelam a morte de Peter e de Rebecca (Tahira Shariff), a governanta anterior da mansão.

A história, assim como a trama clássica de OS INOCENTES, de Jack Clayton, se inicia com a nova governanta, Dani Clayton (Victoria Pedretti), conseguindo o emprego a partir de uma entrevista com Henry Wingrave (Henry Thomas). O maltratado homem é o atual responsável pela mansão e pelas crianças, depois que os pais dos meninos faleceram. As crianças, aliás, são responsáveis por muito da força da minissérie. Tanto a doce Flora (Amelie Bea Smith) quanto o às vezes assustador Miles (Benjamin Evan Ainsworth). Essas crianças sabem de coisas que a jovem governanta jamais imaginaria. Ela, por sua vez, também já é assombrada por um fantasma pessoal.

No mais, antes que eu me esqueça, há mais três personagens muito importantes na linha do tempo do presente da série, mas preciso destacar Hannah Grose (T'Nia Miller), uma mulher que cuida com muito carinho da casa, mas que possui uma habilidade de locomoção temporal muito interessante. Essa brincadeira com as idas e vindas no tempo já era algo muito bem trabalhado em RESIDÊNCIA HILL e é novamente explorado com brilhantismo em MANSÃO BLY.

Aguardando agora o próximo projeto de Flanagan, outra série para a Netflix, em fase de gravações, chamada MIDNIGHT MASS. Por enquanto ainda não há uma data de lançamento, mas tudo leva a crer que será ainda mais especial do que esta, já que nela todos os episódios são dirigidos por Flanagan. E isso é um ótimo sinal.

Nenhum comentário: