sexta-feira, março 22, 2019

MALIGNO (The Prodigy)

Os filmes de horror que têm chegado ao nosso circuito não têm passado exatamente por uma curadoria, por assim dizer. As distribuidoras em geral querem apenas jogar o produto para os fãs que costumam prestigiar o gênero, por pior que seja o material. Isso, com o tempo, acaba gerando uma falta de interesse até pelos próprios fãs, que se vêem entristecidos pela falta de qualidade dos filmes que chegam, dando até a impressão de que não há mais bons exemplares atualmente. O que depois se confirma como uma mentira, quando vemos várias listas de filmes do gênero e muitos dos melhores não têm a chance de chegar ao nosso circuito, e muitas vezes nem mesmo aos serviços de streaming.

Felizmente, MALIGNO (2019), do cineasta americano Nicholas McCarthy, é dessas gratas surpresas que encontramos. Um filme que funciona sem necessariamente procurar ser inovador ou algo do tipo. Ao contrário, ao acompanhar a história do garoto Miles sentimos até um sentimento de familiaridade com os filmes de horror produzidos nas décadas de 1960 a 1980. O enredo em si traz elementos que lembram filmes tão distintos quanto BRINQUEDO ASSASSINO e A ÓRFÃ.

Na trama, Taylor Schilling (da série ORANGE IS THE NEW BLACK) é Sarah Blume, uma jovem mulher que dá à luz uma criança que aos poucos vai se revelando um prodígio: com poucos meses já começa a falar e logo cedo é enviado para uma escola de crianças superdotadas. Mas há algo de errado com o pequeno Miles (Jackson Robert Scott, de IT - A COISA): aos poucos ele passa a manifestar uma maldade pouco comum até para crianças perversas de sua idade.

Um dos méritos do filme é conseguir criar uma atmosfera de terror e medo crescente. Uma vez que se descobre que o corpo do garoto está coabitado pelo espírito de um homem muito perigoso, e experienciamos momentos de puro medo em certas cenas envolvendo imagens do tal homem, rapidamente nos vemos envolvidos pelo drama daquela mãe. O pai também é importante para a trama, mas ele a princípio não acredita na teoria de que o espírito do garoto está duelando com o espírito do psicopata.

Soltando alguns alguns spoilers aqui: o que dizer da cena em que Sarah está sozinha na cama e o pequeno Miles pede para dormir com ela? De arrepiar! E a cena da hipnose, da batalha entre o garoto e o homem que descobriu seu segredo? E a ida de Sarah até a casa da última vítima do assassino serial? São apenas algumas, mas talvez as mais marcantes desse filme tão bem conduzido e tão envolvente que é uma pena que não esteja recebendo o devido mérito.

Quem sabe no futuro MALIGNO seja lembrado como uma das melhores obras do gênero de nosso tempo. Mas isso só o futuro irá dizer. No mais, não custa dar uma espiada nos longas anteriores de McCarthy: PESADELOS DO PASSADO (2012) e NA PORTA DO DIABO (2014).

+ TRÊS FILMES

NÃO OLHE (Look Away)

É um filme que se beneficiaria de um olhar mais crítico do próprio realizador para aproveitar melhor as boas ideias e não tropeçar no andamento. O que poderia ser um filme bem eficiente sobre a insegurança de uma adolescente, acaba ganhando contornos meio bobos quando se assume como filme de terror teen. Isso, depois de ganhar uma audiência de filmes menos convencionais, por causa de seu andamento mais lento e da elegância dos planos. Aí põe tudo a perder no final. Há uma cena de sexo que poderia ser ótima se o filme não insistisse em mostrar a personagem alterada como uma vilã qualquer com o uso de uma música de mistério. Se deixassem um tom mais dúbio seria tão melhor. Há também momentos em que os excessos nos distanciam do filme, como as maldades de um garoto da escola em relação à protagonista. Direção: Assaf Bernstein. Ano: 2018.

A MORTE TE DÁ PARABÉNS 2 (Happy Death Day 2U)

Com essa onda de reciclagens de FEITIÇO DO TEMPO (a última foi a série BONECA RUSSA), perde até a graça ver essas novas produções que brincam com esse negócio de reviver o mesmo dia. A diferença deste aqui em relação ao primeiro é que agora entra a noção de multiverso, como em DE VOLTA PARA O FUTURO - PARTE II. Alguns momentos engraçados e divertidos, mas, no geral, bem sem-graça. E a parte dramática, não sei se chega a comover alguém da audiência. Direção: Christopher Landon. Ano: 2019.

A MALDIÇÃO DA FREIRA (The Devil's Doorway)

O problema nem é os filmes de found footage já estarem fora de moda e terem se esgotado nas ideias. O problema é que mesmo se fosse novidade esse recurso, este A MALDIÇÃO DA FREIRA não tinha ser como ser considerado ao menos razoável. E que idiotice colocar trilha sonora em material supostamente encontrado nos anos 60? O filme piora ainda mais quando se aproxima do final, quando já não ligamos mais em saber as origens das estátuas chorando sangue ou coisa do tipo. Direção: Aislinn Clarke. Ano: 2018.

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