quinta-feira, março 21, 2019

15 CURTAS BRASILEIROS

O ÁTOMO BRINCALHÃO

Confesso que tenho dificuldade de falar sobre obras assim mais experimentais, que não tem exatamente um fio de narrativa ou algo próximo disso. No caso, o que conta mais para mim é a história do curta. O diretor desenhou no intervalo de três anos este curta de quatro minutos nos próprios fotogramas. Acredito que numa revisão abstrações possam vir à mente. Direção: Roberto Miller. Ano: 1964.

AMOR SÓ DE MÃE

Na revisão, AMOR SÓ DE MÃE se mostrou ainda mais intenso e perturbador. Talvez por ver em uma televisão maior, mas diria que é mérito do filme mesmo, que se mantém forte passados alguns anos de sua realização. Na trama, homem é desafiado por uma prostituta a deixar sua mãe e ir embora com ela do povoado. Acontece que as coisas são muito mais mórbidas e macabras do que isso. As cenas de possessão são impressionantes. Um dos melhores filmes de terror já feitos no Brasil. Direção: Dennison Ramalho. Ano: 2003.

À MEIA NOITE COM GLAUBER ROCHA

Filme de colagem com a intenção de homenagear poeticamente não apenas Glauber Rocha, mas também Hélio Oiticica, Torquato Neto e outros. Cenas não apenas do Cinema Novo e dos filmes de Glauber especificamente, mas também do cinema marginal, do tropicalismo e até de obras estrangeiras. Há falas de Glauber tomando para si a fundação do Cinema Novo e elevando o cinema como a mais importante das artes. Em outro momento, ele lamenta a pobreza cultural brasileira. Direção: Ivan Cardoso. Ano: 1997.

ALMA NO OLHO

Ao mesmo tempo que se mostra uma louvação do corpo e do espírito do negro, também traz a questão da chegada no negro à cultura ocidental e no quanto isso pode representar uma volta às correntes do tempo da escravidão. Parece mais uma performance de teatro, mas, por outro lado, em um teatro não seria possível haver os cortes que no cinema tem das imagens, tanto dos closes quanto das mudanças de figurino. A música-tema é de Coltrane, homenageado explicitamente no início do filme, embora as batidas sejam bem brasileiras. Direção: Zózimo Bulbul. Ano: 1974.

AMOR!

Já tinha visto esse curta na TV (ou em VHS, talvez). Acho que talvez tenha envelhecido um pouco. Na época me parecia mais esperto, mais ácido e mais engraçado. Mas ainda é bem divertido. E as mudanças de narrações, da voz do Paulo José para a do Pereio, funcionam que é uma beleza. Até podia dizer que é um filme sem esperança, se o próprio filme parecesse se levar a sério. Acho que não é o caso. Direção: José Roberto Torero. Ano: 1994.

ANIMANDO

Teria curtido mais se fosse de menor duração. É um trabalho admirável de brincar de Deus com um pequeno boneco usando inteligentemente os recursos da animação. Dar um pouco de consciência para sua criação é o melhor momento do filme, quando o boneco se rebela com as cores/roupas que lhe são dadas/pintadas. Direção: Marcos Magalhães. Ano: 1987.

UM APÓLOGO

Um dos mais famosos contos de Machado de Assis (até as crianças o conhecem), Um Apólogo ganha uma simpática adaptação para o cinema por um de nosso pioneiros mestres. O filme tem um sabor de tesouro arqueológico pela época em que foi realizado e por parecer velho mesmo, mas justamente por isso que ganha força e até os efeitos especiais parecem muito bons. O começo, falando sobre Machado de Assis e um pouco de sua obra, dá um ar de curta-metragem feito para alguma televisão educativa governamental, embora na época ainda não existisse televisão. Direção: Humberto Mauro. Ano: 1939.

ARRAIAL DO CABO

O que mais me chamou a atenção neste curta de Saraceni e Carneiro foi o quanto as imagens mostradas na tela parecem distantes das de hoje, de nossa realidade. Talvez pelo fato de terem pegado uma humilde vila de pescadores. Aí passa-se a impressão de que um cinema feito no começo dos anos 60 parece mais primitivo do que os trabalhos de Humberto Mauro dos anos 30. O bom é que a narrativa é dispensada rapidamente e as imagens se detêm nos pescadores, muitas vezes flagrados contra a luz do sol. A música ajuda a dar um ar mais lírico. Ainda assim me incomodou o meu distanciamento a uma obra tão incensada e importante dentro da história do cinema brasileiro. Direção: Mario Carneiro e Paulo Cezar Saraceni. Ano: 1960.

ARUANDA

Uma espécie de pai de VIDAS SECAS, de Nelson Pereira dos Santos, ARUANDA é pioneiro em mostrar o povo preto e pobre do sertão nordestino, do jeito que eles são de fato. E não deixa de ser impressionante para nós, criados em cidade grande, ver o modo de vida e de sobrevivência de quem tem que se virar com o que tem, ou seja, o barro, a água barrenta e os galhos secos para fazerem tanto os potes quanto a própria casa. Uma longa jornada da escravidão até a vida de pequenos proprietários de terra na sertão. Direção: Linduarte Noronha. Ano: 1960.

DIVERSÕES SOLITÁRIAS

O ponto de vista de uma pessoa que se diverte na solidão, embora aparentemente muito feliz com seu walkman, passeando nas ruas e ouvindo um bom rock. A cidade de São Paulo é um personagem na história que praticamente só conta com um protagonista e umas duas coadjuvantes que o abordam em dois momentos distintos. Há uma espécie de crítica àqueles que condenam os que consomem cultura pop estrangeira. Direção: Wilson Barros. Ano: 1983.

A PASSAGEM DO COMETA

Cada novo filme de Juliana Rojas é uma alegria, pois todos os seus trabalhos são no mínimo ótimos. Agora, então, que já tem longas premiados e devidamente louvados, está no domínio ainda maior de seu trabalho. Aqui ela conta a história de uma jovem que vai fazer um aborto na época em que o cometa Haley está passando. É gostoso de ver e um tanto enigmático. Ano: 2017. (foto)

NOTURNO

Não me sinto apto para analisar animações mais abstratas e que principalmente foram produzidas em uma outra época, em que esse tipo de produção era mais raro no Brasil, era um feito de fato heroico. Este pequeno e belo curta de Aída Queiroz se encaixa nesse quesito. O filme ficou na posição de número 57 da lista das melhores animações segundo a Abraccine. Ano: 1986.

O PROJETO DO MEU PAI

Que desenho lindo! Encanta já desde o começo, quando a diretora/narradora conta sobre como era sua família quando ela era pequena e como ela os desenhava, com os tradicionais bonecos-palito. A questão da ausência do pai dói um pouco no tom agridoce do filme e se torna ainda mais forte nas emoções quando a narradora-personagem reencontra o pai quando adulta. De dar uma leve dor no peito. Direção: Rosaria. Ano: 2016.

O VIOLEIRO FANTASMA

Um filme que mistura elementos da cultura nordestina, como o cantador de repente, com coisas da cultura mexicana, como o culto aos mortos, e até a coisas relativas à cultura japonesa (pelo que eu entendi ou remeti), nas cenas em que o filme ganha ares de sonho, com cabeças voadoras e coisas parecidas. Só faltou eu me conectar mais com o trabalho, mesmo gostando muito do visual, das cores etc. Direção: Wesley Rodrigues. Ano: 2017.

MENINA DA CHUVA

Outra belezura de trabalho de Rosaria, que dessa vez trata da solidão através do drama de uma garotinha de cor roxa que não encontra inclusão entre as meninas da sua idade nem entre os adultos. Quem tem uma relação mais forte com a solidão é fácil entrar em sintonia tanto com o filme quanto com a personagem, no sentido de que é possível trafegar por momentos de tristeza e por outros de satisfação, mesmo sozinha, como na bela cena da chuva. Há também uma valorização da visualização da vida cotidiana como elemento de graça para a vida a sós. Ano: 2010.

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