segunda-feira, dezembro 05, 2016

QUATRO FILMES SUL-AMERICANOS























Interessante como estamos tão perto mas ao mesmo tempo tão longe da cultura de nossos hermanos, dos países da América do Sul. Muitas vezes é preciso que os filmes tenham que conseguir aval em algum festival internacional para que cheguem em nosso circuito, embora haja, de vez em quando, o sucesso de certo diretor, que alcançou um espaço maior na mídia, como é o caso de Pablo Trapero. Falemos desses quatro filmes, então, ainda que brevemente.

O CLÃ (El Clan) 

Pablo Trapero é um dos casos raros de cineasta argentino que alcançou uma popularidade tão boa no circuito alternativo que até chegou a ter o seu mais recente filme, O CLÃ (2015), exibido em cinema de shopping. Isso porque se trata de uma obra que dialoga bastante com a narrativa americana, lembrando, às vezes, OS BONS COMPANHEIROS, de Martin Scorsese, no modo como conta a história, embora alguns possam acusar o filme de glamorizar os atos hediondos dos personagens, uma família que rapta, pede o resgate e em seguida mata as vítimas. De todo modo, não há como negar a elegância na direção de Trapero, a direção de arte que nos remete à década de 1980, e o bom suspense que é criado, graças, principalmente, ao fato de termos na família um personagem que questiona os atos do patriarca, que é vivido brilhantemente por Guillermo Francella, mais conhecido na Argentina por seu trabalho como humorista.

DE LONGE TE OBSERVO (Desde Allá) 

Se não fosse o Leão de Ouro conquistado no Festival de Veneza, é muito pouco provável que este filme venezuelano jamais chegasse aos nossos cinemas. DE LONGE TE OBSERVO (2015), de Lorenzo Vigas, inclusive, foi o selecionado pelo país para a vaga no Oscar de filme estrangeiro. Eu, particularmente, não gosto muito do filme. Mas ele tem o seu charme. Conta a história de um homem que tem por hábito pagar jovens rapazes para que eles tirem a roupa para que ele possa se masturbar. Um caso em especial, porém, faz com que sua rotina seja perturbada: ele encontra um rapaz que bate nele, depois de pegar o seu dinheiro. O curioso é que a relação dos dois evolui e aos poucos o jovem vai se interessando em ficar mais próximo daquele homem que até então desprezava. O filme tem um andamento lento e um encaminhamento interessante.

NO FIM DO TÚNEL (Al Final del Túnel) 

Quem pôde ver Leonardo Sbaraglia em O SILÊNCIO DO CÉU, de Marco Dutra, deve ter ficado interessado em conhecer mais filmes estrelados por ele. A chance veio com NO FIM DO TÚNEL (2016, foto), de Rodrigo Grande, um desses suspenses redondinhos que prendem a atenção do início ao fim. Sbaraglia interpreta um cadeirante que aluga seu quarto para uma mulher e a filha. Aos poucos, ele começa a se aproximar sentimentalmente da mulher (e também da menina, já que sabemos que ele perdeu a família em um acidente). Mas o que pega mesmo é que ele acaba descobrindo que sua casa funcionará como ponto de partida para a realização de um assalto a um banco que fica nas intermediações, através de um túnel. Não faltam momentos de tensão. Dá pra reclamar, porém, de algumas sequências um pouco esperadas e de uma apropriação muito próxima do cinema americano. 

ESTEROS 

Exibido no 10º For Rainbow, esta coprodução Argentina-Brasil consegue contar de maneira bem delicada uma história de amor em dois tempos entre dois rapazes. ESTEROS (2016), de Papu Curotto, nos apresenta a Matias e Jeronimo, que têm uma segunda chance depois de se separarem durante muito tempo. Em paralelo, a história conta a experiência dos dois quando crianças, e quando se reencontram, na fase adulta. Uma das cenas mais bonitas e talvez arriscadas do filme é a que mostra os dois, ainda crianças, em sua primeira relação sexual. ESTEROS perde um pouco a força quando mostra os dois na fase adulta. Ainda assim, é desses trabalhos bem cuidados e com uma narrativa agradável de acompanhar. Tem potencial para ganhar espaço no circuito comercial.

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