terça-feira, dezembro 27, 2016

O ROUBO DA TAÇA























Uma das melhores comédias do ano, se não a melhor, é brasileira. Ela compete pau a pau, e ganhando por alguns pontos, eu diria, com outra comédia sobre pessoas atrapalhadas cometendo um grande roubo, GÊNIOS DO CRIME, de Jared Hass. Mas se a comédia americana tinha um orçamento poupudo para torrar com um elenco estelar e cenas de destruição de carros, o nosso O ROUBO DA TAÇA (2016) é mais modesto, mas ganha bastante tanto em criatividade quanto no modo como descreve o Brasil daquele período, 1983. Ambos os filmes são baseados incrivelmente em fatos.

O ROUBO DA TAÇA começa com um prólogo que vai direto ao ponto: os dois atrapalhados e pobretões tendo a chance de roubar a taça Jules Rimet. E, nesse prólogo, tem uma sequência ligada a uma superstição que é genial. Depois disso, somos apresentados à esposa de um deles, Dolores, vivida brilhantemente por Taís Araújo, que às vezes toma o papel de narradora da história. Dolores também desempenhará um papel importantíssimo na história e é a única personagem com inteligência. Todos os homens são uns paspalhões.

A começar, principalmente, por seu marido, Peralta (Paulo Tiefenthaler), que deve uma fortuna em jogo. Todo o dinheiro que ele ganha vai parar em jogo e mesmo assim a mulher ainda gosta dele. Cara de sorte. Depois de se ver numa enrascada por causa da dívida, ele tem a ideia de roubar a taça, com a ajuda do amigo Borracha (Danilo Grangheia). Só que, como era de se esperar, vender um dos objetos mais famosos do mundo não é tarefa fácil para amadores.

Uma das belas sacadas do filme é também saber nos situar quanto ao valor da taça, principalmente de natureza sentimental, através de um breve histórico inicial em formato de telejornal. Também situa o espectador na realidade econômica e social do Brasil naquele momento de fins de ditadura, mas de crise econômica das grandes. E como os personagens parecem saídos de pornochanchadas daquela época, então nos sentimos em casa e ainda achamos tudo muito gostoso de ver.

Uma pena que O ROUBO DA TAÇA tenha passado pelo cinema de maneira tão rápida. Se feita uma propaganda efetiva, teríamos um excelente filme popular que ganharia e muito com o boca a boca. Infelizmente, ele só ficou uma semana em cartaz aqui. Nem eu, que costumo ver quase tudo, consegui vê-lo em uma dessas semanas de "lançamentos de estreias". Mas, felizmente, o filme está aí na telinha para ser descoberto e devidamente apreciado.

O diretor, Caíto Ortiz, é um apreciador do futebol, tendo em seu currículo um documentário sobre a paixão pelo esporte brasileiro por excelência chamado O DIA EM QUE O BRASIL ESTEVE AQUI (2005) e a minissérie (fdp) (2012), produção da HBO sobre um árbitro de futebol. Seu longa-metragem de ficção anterior, porém, ao que parece, não tem nada de futebol: é sobre um paulista descendente de japoneses que recebe uma carta do Japão.

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