terça-feira, dezembro 20, 2016

BELOS SONHOS (Fai Bei Sogni)























Que triste a Itália não ter mais tantos cineastas gigantes, nem ter se renovado com novos grandes nomes. Mas ao menos o país pode se orgulhar de ainda ter Marco Bellocchio ainda ativo em seus 77 anos de vida, fazendo filmes com uma frequência consideravelmente muito boa. BELOS SONHOS (2016) é mais um belíssimo exemplar de um grande cinema, com uma história tão envolvente que poderíamos ficar quatro, cinco horas assistindo os trechos do protagonista, que nos são apresentadas ao longo da narrativa.

E isso é um mérito e tanto, pois poucos filmes conseguem ser ao mesmo tempo tão fragmentado e tão orgânico, conseguindo se fechar muito bem em sua cena final. Na trama, acompanhamos homem, Massimo (Valerio Mastandrea), que carrega consigo um passado traumático relacionado à morte precoce de sua mãe, quando ele tinha apenas nove anos de idade. No princípio o filme concentra-se na infância do protagonista, no quanto a afeição pela mãe é grande, na doença dela, na terrível cena do caixão fechado, em sua quase negação de sua partida.

Mais adiante, o filme voltará a essa infância, mas aos poucos também somos apresentados ao Massimo adulto em diversas passagens da década de 1990, dando destaque ao momento em que ele conhece a médica Elisa, vivida por Bérénice Bejo. Seu personagem é pequeno, mas é responsável pela única cena verdadeiramente feliz de BELOS SONHOS, quando Massimo dança em uma festa da família de Elisa, ao som de "Surfin' bird", dos Ramones.

No mais, o que mais vemos é o olhar entristecido de Massimo, seja a criança que nega a morte da mãe, seja o adulto que luta para seguir adiante em sua profissão. Nas sequências escolhidas por Bellocchio da fase adulta do protagonista, vale destacar outras duas: uma delas tem tudo a ver com o que aconteceu recentemente com a tragédia da Chapecoense; a outra envolve a experiência de Massimo em Sarajevo.

São, aliás, tantas as sequências tão bem orquestradas que é quase um milagre não ter no filme nenhum momento aborrecido. As aparentemente menos importantes situações apresentadas ao longo da narrativa se agigantam em nosso interesse no caleidoscópio de cenas de BELOS SONHOS. Mal comparando, é como se fosse um grande álbum contendo várias excelentes faixas que podem ser vistas separadamente, dado seu aspecto fragmentado.

Talvez isso possa ser dito sobre qualquer filme, mas em BELOS SONHOS – e em outros filmes em que esse aspecto se explicita – o herói também é fragmentado, tanto por ser pós-moderno, quanto por ser uma pessoa que nunca mais foi o mesmo, nunca mais deixou de ser uma pessoa quebrada, após a dramática morte da mãe.

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