quinta-feira, agosto 23, 2012

NOVE CURTAS GAÚCHOS



O dia que encontrei Davi de Oliveira Pinheiro foi o dia em que fomos ver os curtas gaúchos. Infelizmente, no sábado não pude ir e perdi de ver o curta dele. Mas foi uma surpresa muito boa ver uma produção de qualidade como a dos curtas produzidos no Rio Grande do Sul. Em geral, os curtas que não são classificados para a mostra competitiva principal são menores, inferiores. Não foi isso o que eu senti vendo os curtas-metragens exibidos na tarde de domingo (12) em Gramado. Inclusive, alguns deles eu gostei até mais do que o franco favorito e superestimado CASA AFOGADA.

CASA AFOGADA

Falando no dito cujo, o curta de Gilson Vargas foi o primeiro a abrir a mostra do dia. Trata-se de um trabalho admirável do ponto de vista técnico, com destaque para a edição de som, toda feita em estúdio, recriando com sons artificiais os sons naturais do filme, que se passa numa espécie de pântano, onde vive um homem. Um homem afastado da civilização e que vive sozinho, com seus livros e sua vara de pescar. Aos poucos sabemos de algo de seu passado. Mas tudo através de imagens. Algumas tomadas foram filmadas embaixo d’água. É, sem dúvida, um achado do ponto de vista técnico. Mas que a mim não envolveu ou comoveu. 2011, 13’30”.

IGNÁCIO E SALDANHA

Dois velhos amigos de infância conversam enquanto jogam damas. Até que um deles diz que vai confessar uma coisa para o outro: ele é o diabo. O outro aproveita para confessar algo importante também: ele é Deus. E a partir desse momento, o curta oferece um dos diálogos mais divertidos da seleção, com brincadeiras em torno de tanta história envolvendo Deus e o diabo, aproveitada como tiradas engraçadas nesse trabalho divertido de Boga Migotto. 2012, 11’40”.

SÓ ISSO

Provavelmente o mais belo dos curtas exibidos naquela tarde, SÓ ISSO, de Iuli Gerbase (filha de Carlos Gerbase), é de uma poesia admirável. Dividido em pequenos blocos, o filme tem uma fotografia em vertical que cobre parte da tela e no início passa a impressão de que ela vai se expandir. Não é o que acontece. Os blocos são semi-independentes e cada um tem a sua própria beleza. Destaque para a cena da dança de uma das protagonistas. 2012, 13’.

A VIDA DA MORTE

A própria morte esteve presente para prestigiar a exibição do curta. E foi lá trajada a rigor, com sua cara de caveira, sua roupa preta e sua foice. O filme de Maciel Fischer foi o que mais arrancou gargalhadas da plateia. E foi para isso mesmo que ele foi criado. Na história, a morte vai seguindo tranquila a sua rotina de ceifar a vida das pessoas até que um dia lhe é dada a missão de matar um conhecido cantor. Uma tarefa que para ela não é nada fácil. 2011, 9’.

ELEFANTE NA SALA

O grande vencedor da mostra de curtas gaúchos, ELEFANTE NA SALA mostra o modo como um adolescente lida com a solidão, em sua luxuosa casa, enquanto os pais estão fora. O destaque desse trabalho de Guilherme Petry, além da bem cuidada montagem e do fato de praticamente não ter diálogos, é a bela fotografia colorida, que foi muito bem aproveitada na excelente aparelhagem do festival. 2012, 10’.

BOA VIAGEM

Um dos mais fracos da tarde, BOA VIAGEM, de Clailton Mossmann, é uma espécie de ANTES DO AMANHECER mais pobrinho e com diálogos mal cuidados. Ainda assim é um curta que não tem nada de cansativo, embora tenha algo de constrangedor. Poderia ter se salvado, pelo menos em parte, se tivesse optado por um final diferente, que eu teria comparado com os finais dos contos de "Dublinenses", de James Joyce. Em vez disso, o óbvio imperou e o filme derrapou. 2011, 8’36”.

LOBOS

Um curta que aparentemente não tem muito a oferecer, LOBOS (foto), de Abel Roland e Emiliano Cunha, torna-se gigante na cena da estrada, mostrada em flashback. Os diretores fizeram um incrível trabalho de direção de atores. A atriz até ganhou o prêmio dessa mostra. A atmosfera assustadora de um acidente na estrada pode até ser comum de se ver em filmes americanos, mas isso não impediu que eu ficasse impressionado com o trabalho desses realizadores. 2012, 12’.

NOITE UM

Um filme de vampiro que, como o Davi bem disse, poderia passar facilmente em festivais internacionais de cinema fantástico. O curta de Rafael Duarte e Taísa Ennes Marques já ganha pontos a partir do belo cartaz. E para uma produção que tem uma história previsível até que eles se saem muito bem na criação atmosférica e nos diálogos dos personagens presos em um ambiente fechado. 2012, 18’51”.

RUA DOS AFLITOS, 70

Pena a mostra ter terminado justamente com um curta fraco como este RUA DOS AFLITOS, 70. Creio que o trabalho de Leandro Daros deve funcionar melhor em exibição em escolas, ao abordar o problema do abuso sexual infantil. Na trama, o patriarca da casa, depois de um AVC, perde a capacidade de falar, mas é testemunha dos abusos do padrasto à filha. O principal problema do filme está na atuação e na direção, mais do que no enredo. 2011, 17’15”.