quarta-feira, agosto 08, 2012

À BEIRA DO CAMINHO



Um transbordar de emoções. É o que aguarda o espectador que se permitir emocionar com À BEIRA DO CAMINHO (2012), de Breno Silveira. Quem viu 2 FILHOS DE FRANCISCO (2005) sabe do que o diretor é capaz quando une música e cinema. E tendo Roberto Carlos como trilha sonora, então, é preparar-se para muitas emoções. Claro que gostar ou não do filme depende do grau de tolerância do espectador ao sentimentalismo, que Silveira não se envergonha de abraçar. O cineasta afirmou que seu dom é o de emocionar a plateia. "Se não for um filme emotivo, não me interessa fazer", disse ele.

A história é simples, mas sua condução e seus personagens aquebrantados por tragédias pessoais fazem a diferença. Há um caminhoneiro que perdeu a esposa em um acidente (João Miguel) e que vive atormentado por memórias do passado, sejam as boas, sejam as aterrorizantes. Ele procura fuga através do trabalho e da bebida. E de vez em quando fica remoendo o passado, ouvindo canções de Roberto Carlos em seu caminhão. A primeira delas, "A distância", já sintetiza a situação do personagem, com a dor da saudade da amada o atormentando.

Por destino ou acaso, ele encontra um garotinho escondido em seu caminhão. Duda (Vinícius Nascimento), o menino, diz que sua mãe morreu e que ele procura o pai que nunca conheceu, em São Paulo. A relação entre os dois, a princípio, é de difícil comunicação, até porque João não é uma pessoa muito sociável. Não é preciso ser nenhum gênio para saber que o sentimento entre os dois crescerá ao longo do filme. Ambos têm a perda e a saudade como sentimentos comuns; e isso pode ser o suficiente para uma aproximação.

A história guarda algumas similaridades com CENTRAL DO BRASIL, de Walter Salles, mas tem identidade própria. Embora possamos classificá-lo como um melodrama, há alguns momentos de suave alívio cômico, como nas frases de parachoques de caminhão. Uma delas diz: "Viver é como desenhar sem borracha". Essa frase ajuda a resumir em poucas palavras o drama do personagem, já que, não à toa, ele vive escrevendo e riscando num caderninho. Suas anotações têm mais riscos do que exatamente palavras aceitas por ele. O riscar as palavras carrega essa metáfora da vida, esse desenhar (ou escrever, no caso) sem borracha.

O filme poderia ter mais canções do Roberto, mas o Rei não autorizou boa parte delas, embora curiosamente tenha sido dele a ideia de incluir "A distância". Tanto essa canção quanto a que encerra o filme ("O portão") se integram perfeitamente à história. Mas nem só de Roberto se faz a trilha: há também Márcio Greyk, com "Impossível acreditar que perdi você", Bartô Galeno, com "No toca-fita do meu carro", e Antônio Marcos, com sua versão de "Como vai você".

À BEIRA DO CAMINHO foi o grande vencedor do último Cine PE, faturando os prêmios de melhor filme, melhor roteiro, melhor ator (João Miguel), ator coadjuvante (o menino Vinícius Nascimento) e melhor filme pelo júri popular. Espero que essa representatividade junto ao público popular se reflita no circuito comercial.

O filme entra em cartaz nos cinemas na próxima sexta-feira, dia 10.