sábado, outubro 01, 2011

HIROSHIMA, MEU AMOR (Hiroshima, Mon Amour)



Primeiro que compro dos livros/dvds da coleção "Cinema Europeu" da Folha de São Paulo, HIROSHIMA, MEU AMOR (1959) representa o meu retorno a um filme que havia visto no início de minha cinefilia. Não havia entrado na "viagem" na época, mas resolvi revê-lo com outros olhos agora, passados uns vinte anos. Confesso que não foi do início ao fim que o filme me conquistou, embora eu veja muita beleza nas imagens e no lirismo das palavras do casal formado por uma francesa e um japonês.

A primeira parte do filme é encantadora, com a alternância dos corpos dos amantes, conversando sobre Hiroshima, e as imagens, muitas delas de dor e tristeza de Hiroshima, a cidade que desapareceu com uma bomba atômica na Segunda Guerra Mundial. Só de imaginar uma nova cidade sendo reconstruída, em plenos anos 1950, é um exemplo da força do povo japonês diante de situações terríveis. Este ano, por exemplo, muitos deles terão que fazer praticamente o mesmo devido aos grandes terremotos e maremotos que assolaram algumas regiões.

Quanto ao filme, trata-se da estreia na direção de Alain Resnais. HIROSHIMA, MEU AMOR se destaca bastante dos primeiros filmes de François Truffaut e de Jean-Luc Godard. Na verdade, Resnais não fazia parte da Nouvelle Vague, era dez anos mais velho que os jovens críticos-cineastas, mas como estreou praticamente no mesmo período dá para fazer uma espécie de comparação entre os seus trabalhos. O que mais me chamou a atenção foi a ausência de jump cuts. Os cortes entre uma cena e outra são feitos com extrema delicadeza, quer seja utilizando um fade to black mais demorado, quer seja uma interposição de imagens. A beleza da fotografia em preto e branco salta aos olhos, bem como dos enquadramentos.

Talvez o que não tenha me deixado tão ligado ao filme tenha sido a relação do casal. De mais difícil identificação para mim. HIROSHIMA, MEU AMOR mostra um dia na vida dos dois, que apesar de bem casados, se apaixonam e vivem o dilema de abandonarem suas famílias para ficarem juntos. O roteiro de Marguerite Duras ajuda bastante a tornar alguns momentos extremamente belos e tocantes, como no pensamento da mulher, quando ela vai embora, mas deseja que ele a impeça, que a tome nos braços e a beije. Nesse sentido, o filme se aproxima muito mais da mulher do que do homem. Não por acaso, temos um flashback dela e não dele. Muito provavelmente pela mais fácil identificação de Duras com uma personagem feminina. Mas o importante é que valeu rever esta que é uma das obras mais importantes do cinema e que me prepara para finalmente ver o lendário ANO PASSADO EM MARIENBAD (1961).