quinta-feira, agosto 25, 2011

NÓ NA GARGANTA (The Butcher Boy)



Lendo o livro "Introdução à teoria do cinema", de Robert Stam, vi um curioso capítulo que fala de várias visões psicanalíticas do cinema. Entre elas, a que mais me chamou a atenção foi a de Christian Metz, que lida com a questão do prazer e do desprazer no cinema. Geralmente costumamos gostar de um filme que nos dá prazer, ainda que esse filme seja repulsivo para a maior parte da audiência. Segundo Metz, "os espectadores-críticos confundem uma questão estética – a qualidade do filme – com uma questão psicanalítica: por que esse filme desagradou a mim?".

Sem querer entrar num território que estou longe de dominar, o da psicologia, esse questionamento é válido para a minha relação com diversos filmes, que racionalmente vejo qualidades, mas que me provocam mal estar. É o caso deste NÓ NA GARGANTA (1997), de Neil Jordan, filme que já havia assistido na época de sua exibição nos cinemas, mas que tive a oportunidade de rever num cineclube promovido pela amiga Beatriz Saldanha. Novamente o mal estar persistiu: o filme é barulhento, o ritmo supostamente de "história em quadrinhos" associado a um humor negro e a sorrisos amarelos contribuíram para isto.

E isso nem é uma característica do diretor, que já dirigiu obras que muito me agradaram, no sentido do prazer de se ver um filme mesmo, como em ENTREVISTA COM O VAMPIRO (1994), FIM DE CASO (1999), TRAÍDOS PELO DESEJO (1992) e em um mais recente dele, VALENTE (2007). Admiro o diretor, mas não sou entusiasta de seu trabalho, a ponto de acompanhar todos. Não vi, por exemplo, CAFÉ DA MANHÃ EM PLUTÃO (2005), geralmente citado como um dos mais interessantes do cineasta e comentado como um dos favoritos do debatedor do cineclube. Aliás, quem ficou para o debate pôde assistir a uma análise de alto nível, a do professor Orlando. O amigo Carlos Primati estava lá e fez, inclusive, umas interessantes observações.

Curiosamente, ao ver a história do garotinho nada bonzinho que tinha de cuidar da família, pois a mãe sofria de depressão e o pai era alcóolatra, e de ver principalmente a sua amizade com Joe como sendo a coisa mais importante do mundo, acabei associando esse amor devotado pelo amigo a certos filmes do diretor que lidam direta ou indiretamente com a homossexualidade. Caso de TRAÍDOS PELO DESEJO, de CAFÉ DA MANHÃ EM PLUTÃO e de ENTREVISTA COM O VAMPIRO, pelo menos. Ainda assim, como o filme não entra no aspecto sexual da relação dos dois garotos, talvez não seja o caso de fazer esse tipo de diálogo.

De qualquer maneira, o debate após a sessão, que serviu como um alento após tanto barulho, ajudou a ver o filme sob outras óticas, a valorizá-lo mais, a ver suas inúmeras qualidades e especificidades. Por exemplo, a total anarquia e a coragem de mostrar a falência de instituições como o Estado, a Igreja e a família. Mas, como disse no início do texto, uma coisa não dá pra negar: o mal estar persistiu. Poderia até falar mais do filme – coisa que faltou no texto -, mas, pra usar um termo psicanalítico, nosso tempo acabou.

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