sexta-feira, junho 17, 2011

MACUNAÍMA



Joaquim Pedro de Andrade, ainda que não tão popular quanto Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos, já era, quando da realização de MACUNAÍMA (1969), um cineasta bem respeitado dentre o grupo dos cinemanovistas. Já havia "dado aula" de como dirigir e montar uma partida de futebol com o documentário GARRINCHA, ALEGRIA DO POVO (1963) e feito um belo drama de múltiplos significados sociais com O PADRE E A MOÇA (1965). Essa múltipla abertura semântica também está presente em MACUNAÍMA, filme que até hoje guarda seu aspecto provocador.

Joaquim Pedro de Andrade trouxe um elenco dos sonhos para o filme: Grande Otelo, Paulo José, Dina Sfat, Milton Gonçalves, Jardel Filho, Joanna Fomm, Wilza Carla e uma ponta de Hugo Carvana na impagável cena do pato. A restauração feita recentemente da obra e o lançamento em DVD realçou a beleza da fotografia de Guido Cosulich, com sua ênfase no verde, no amarelo e no vermelho. Em tempos em que a maioria dos artistas estava sendo perseguida pela ditadura – o cineasta chegou a ser preso em 1969 -, destacar o vermelho do comunismo com o verde e amarelo da bandeira do Brasil já era por si só uma ousadia, por mais que esse detalhe pudesse passar despercebido.

O nome "Macunaíma" é mais ligado ao romance de Mário de Andrade, representante da geração modernista de 1922 e que quebrava com as formas clássicas vigentes. Nunca li o romance, mas o que dizem é que é um dos mais representativos dessa ruptura com a forma clássica, por mais que na década seguinte, as coisas voltassem a ser menos radicais. Cada nova geração vanguardista tem mesmo esse instinto destruidor.

Quanto ao filme, seria preciso ler o livro para saber o quanto ele tem em comum com a obra de Mário de Andrade, mas certamente trata-se de outro registro. O esqueleto do enredo, porém, deve estar lá: a figura do herói sem caráter, que nasce preto num tribo indígena (Grande Otelo) e sai branco (Paulo José) para a cidade grande, depois de passar por uma fonte mágica. Sendo branco, ele tem mais chance que os irmãos de conseguir se dar bem.

MACUNAÍMA tem um aspecto debochado que agrada até mesmo àqueles que não procuram significados ocultos em seu discurso. Como não se divertir com as cenas das escapadelas do "herói" com a personagem de Joanna Fomm? Ou a cena em que ele esconde pencas de bananas enquanto sua família fica procurando peixe na lama? E como não se divertir ouvindo "Papo firme", cantada pelo rei Roberto Carlos, enquanto Dina Sfat corre atrás do marido que já não aguenta mais tanto sexo? A Jovem Guarda já tinha passado naquela altura e o Tropicalismo é que era a bola da vez, influenciando inclusive esse filme em particular, mas Roberto é Roberto.

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