quarta-feira, junho 29, 2011

ATÉ AS VAQUEIRAS FICAM TRISTES (Even Cowgirls Get the Blues)



Já que falamos de momentos de queda na carreira de um grande diretor, aproveito a chance para comentar sobre ATÉ AS VAQUEIRAS FICAM TRISTES (1993), que curiosamente é do mesmo ano da experiência ruim de David Cronenberg descrita no post anterior. O caso de Gus Van Sant é bem particular. Começou na direção de longas-metragens com uma obra até hoje longe de ser famosa, MALA NOCHE (1986), e ganhou importância com DRUGSTORE COWBOY (1989), filme que me trás boas lembranças, pois foi visto na aurora de minha cinefilia - e no cinema. E lembro que me impressionou positivamente. Uma revisão seria bem-vinda, portanto.

Em certo momento da carreira de Van Sant, ele pareceu se deixar levar por Hollywood e seus esquematismos comerciais, tornando-se quase um diretor genérico. Esse momento talvez vá de UM SONHO SEM LIMITES (1995) a ENCONTRANDO FORRESTER (2000), passando pelo sucesso de GÊNIO INDOMÁVEL (1997) e a experiência polêmica de refilmar uma obra-prima, PSICOSE (1998). Foi a partir de GERRY (2002) que ele pareceu se voltar novamente para as experimentações, para um cinema de vanguarda, que continuaria com ELEFANTE (2003) e ÚLTIMOS DIAS (2005), formando uma espécie de "trilogia da morte" e com ousadias formais bem interessantes. Van Sant, com isso, recuperou o status de importante realizador e voltou a ser querido pela crítica. E quando isso acontece, até as obras de menor interesse para aqueles que seguem a teoria do autor se tornam objetos de reavaliação.

E vendo por esse aspecto, ATÉ AS VAQUEIRAS FICAM TRISTES até que se inseriria, pois é uma obra bastante esquisita. O problema é que é um filme bem difícil de agradar, por maior que seja a boa vontade do espectador. Mas não deixa de ser coerente dentro da temática gay, que havia sido iniciada em GAROTOS DE PROGRAMA (1991) e que retornaria num registro mais clássico no quase panfletário MILK – A VOZ DA IGUALDADE (2008). Há também um pouco interesse pela narrativa e uma vontade de ousar mais na forma, embora eu não consiga enxergar sucesso nessa empreitada, em particular.

Na trama, Uma Thurman é uma garota que nasceu com polegares absurdamente grandes. E que descobriu que o seu grande dom na vida é ser caronista. Basta ela apontar o seu dedão para que qualquer carro pare para ela. Assim ela conhece a vastidão dos Estados Unidos e não tem um lugar que possa chamar de lar. A atriz está particularmente muito bonita neste filme, com seus 23 aninhos. O que também desperta logo a atenção de imediato é o elenco estelar, que inclui Lorraine Bracco, Pat Morita, Angie Dickinson, Keanu Reeves, John Hurt, Sean Young, Grace Zabrisky e a irmã de River Phoenix, Rain Phoenix. Aliás, o filme é dedicado a River, que havia morrido há pouco tempo. ATÉ AS VAQUEIRAS FICAM TRISTES é torto, chato e sem graça, mas que merece uma espiada, apesar de tudo.

Nenhum comentário: