terça-feira, junho 28, 2011

M. BUTTERFLY



Todo grande diretor tem direito a uma escorregada em sua carreira. E no caso de David Cronenberg, eu diria que a maior delas é este M. BUTTERFLY (1993), filme pouco badalado e recebido friamente pela crítica. E por razões óbvias, ainda que pudesse ter causado algum impacto por causa do relacionamento homossexual entre um o diplomata francês vivido por Jeremy Irons e uma cantora de ópera chinesa, ou melhor, um cantor de ópera travestido (John Lone). Diferente de TRAÍDOS PELO DESEJO, de Neil Jordan, que mostra um protagonista apaixonado por um travesti muito parecido com uma mulher e que pegou muita gente de surpresa, em M. BUTTERFLY sempre sabemos que não é uma mulher que está ali na frente do abobalhado diplomata. A dúvida que fica no ar é se, em algum momento, o protagonista também sabe disso, mas quer permanecer na ilusão.

Curioso o tratamento da temática da homossexualidade nos filmes de Cronenberg. Nas entrevistas, ele faz questão de dizer que é hetero. Por que essa fixação tão grande nessa temática, presente até mesmo nas entrelinhas de filmes que não apresentam aparente proximidade com o assunto? A resposta talvez esteja no aspecto da transformação, que é uma das principais marcas autorais do cineasta. Mas também talvez esteja na obsessão pelo corpo, que no caso de M. BUTTERFLY fica mais sutil, embora na cabeça do espectador, depois de uma cena de amor entre os dois e uma elipse cortando para a cena de Irons saindo da casa do travesti de manhã cedo, fica a dúvida sobre o que ocorreu na intimidade dos dois.

Há uma boa reconstituição de época, dos tempos da Revolução Cultural chinesa, na década de 1960, mas também não é nada de mais. O mais importante, o relacionamento dos dois, misturado com elementos puramente cronenberguianos, é que não dá caldo. O final, então, é uma tentativa pífia de trazer uma catarse para algo que já estava perdido. De qualquer maneira, é um filme que tem a sua parcela de admiradores. Pena que o livro que li com entrevista com o diretor, "Cronenberg on Cronenberg", só vai até MISTÉRIOS E PAIXÕES (1991). Queria ter lido o próprio diretor defendendo ou comentando sobre o filme.

Enquanto isso, ficamos na expectativa de seu tão aguardado novo trabalho, A DANGEROUS METHOD (2011), sobre Freud e Jung. Desde já, um dos filmes mais aguardados do ano. Mas no Brasil só deva estrear em 2012.

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