quinta-feira, agosto 26, 2010

UM DOCE OLHAR (Bal / Honey)



Filmes turcos são raros de estrear em nosso circuito, mesmo o alternativo. UM DOCE OLHAR (2010) ganhou espaço graças ao Urso de Ouro faturado no Festival de Berlim deste ano. O filme é o terceiro de uma trilogia do diretor Semih Kapanoglu, que trazem o mesmo personagem, Yusuf, em diferentes momentos de sua vida e que contam com títulos com nomes de alimentos. "Bal" quer dizer "mel", enquanto que os anteriores são chamados YUMURTA (2007), que quer dizer "ovo", e SUT (2008), que significa "leite". E apesar de ter um significado que poderia remeter apenas a uma metáfora, pelo menos no caso de UM DOCE OLHAR, o mel em si também faz parte integrante da história.

A trama é narrada de maneira lenta e contemplativa, com uso de pouca música. Na maior parte das vezes o que ouvimos é o som da densa floresta, onde vive o pequeno Yusuf com seu pai, um apicultor, e sua mãe, plantadora de chá. Nota-se que ele tem uma aproximação bem maior com o pai do que com a mãe, com quem guarda certo distanciamento. O pai, demostrando segurança em seu trabalho de pegar mel das colmeias e de ainda ajudando-o na tarefa escolar, é uma figura de respeito e amor.

E falando em tarefa escolar, alguns dos momentos mais tocantes do filme são os que mostram a dificuldade do garoto em conseguir ler, enquanto os demais colegas ganham medalhas. O modo como o diretor filma o pote de medalhas - do ponto de vista do pote - e longe do alcance do pequeno Yusuf, é de dar dó. O menino também tem uma dificuldade muito grande em se socializar com os demais colegas. Na hora do recreio, enquanto os outros brincam, ele fica dentro da sala, olhando-os pela janela. Num sistema mais humano, o garoto poderia ser diagnosticado com algum tipo de desordem que poderia ser solucionada - o menino, além da timidez e dificuldade de ler, ainda sofre de gagueira.

Esses momentos do menino na escola fazem lembrar alguns filmes iranianos, centrados na inocência das crianças, mas UM DOCE OLHAR se diferencia no uso ambicioso dos efeitos de câmera e de fotografia tanto dos interiores quanto da densa floresta e da paisagem rural. Pena que, mais uma vez, com a cópia digital, o filme, que já tem uma fotografia bastante escura, sofre com essa bitola.

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