sexta-feira, agosto 13, 2010

DE SALTO ALTO (Tacones Lejanos)



Mais uma vez minha memória me prega uma peça. Mas é natural que depois de tanto tempo a gente esqueça de alguns filmes. Daí eu ficar muito surpreso com um filme que eu vi há cerca de 18 anos, vendo-o praticamente como se fosse inédito. Do DE SALTO ALTO (1991), só me lembrava, muito vagamente, da cena de sexo de Victoria Abril com o Miguel Bosé travestido. No mais, fiquei surpreso até com o fato de o filme ser bem mais sério do que eu lembrava. Talvez na época eu tenha ido ao cinema preparado para ver mais uma comédia de Pedro Almodóvar. E a encarar as sequências musicais não como dramáticas, mas como cômicas. Talvez quisessem que o filme fosse vendido assim. E isso acabou por provocar reações confusas na audiência.

DE SALTO ALTO é um dos trabalhos mais clássico-hollywoodianos de Almodóvar. Há inspiração nos melodramas de Douglas Sirk e na vida de Joan Crawford, que tinha uma relação complicada com sua filha (ver MAMÃEZINHA QUERIDA). O filme mistura melodrama com trama policial, envolvendo o marido assassinado de Rebeca, a personagem de Victoria Abril. Mulheres que matam seus maridos não são novidade no cinema de Almodóvar: aparecem em QUE FIZ EU PARA MERECER ISTO? (1984) e VOLVER (2006). Problemas relacionados a figuras paternas (ou até maternas) são bastante comuns em obras de diversos cineastas. Mas não deixa de ser curioso o fato de ele querer ver mulheres (e no caso de DE SALTO ALTO, até criancinhas) armando uma maneira de matar seus homens.

Marisa Paredes faz o papel da mãe de Rebeca, uma cantora famosa que volta à Espanha, depois de passar muitos anos longe de seu país e distante da filha. Há um ressentimento da filha em relação à mãe. Mas, apesar dos problemas, a balança pende mais para o amor. Na verdade, o filme aborda um turbilhão de sentimentos conflitantes que provavelmente nenhum outro filme de Almodóvar tenha alcançado. Esse conflito também se apresenta nas três confissões de Rebeca. E como o próprio Almodóvar destacou em entrevista do livro "Conversas com Almodóvar" as tais confissões não acontecem perante Deus ou perante a Lei. Aliás, o grande momento do filme talvez seja a confissão de Rebeca no noticiário - ela é âncora de telejornal.

Outro coisa que Almodóvar conta é que, na Espanha, há um preconceito com o tipo de música mais sentimental, utilizado em seus filmes, o que para mim foi até um surpresa. E eu curto essas canções meio bregas, de dor-de-cotovelo. Em DE SALTO ALTO, gostei especialmente de "Piensa en mi", que é cantada num momento muito emocional do filme, com a filha ouvindo do presídio, no rádio, a mãe dedicando-lhe a canção.

Ainda assim, considero DE SALTO ALTO um dos filmes de Almodóvar menos queridos por mim. Tanto que só voltei a ver outra obra dele no cinema a partir de CARNE TRÊMULA (1998). KIKA (1993) e A FLOR DO MEU SEGREDO (1995), só vi depois, em vídeo.

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