terça-feira, dezembro 09, 2008

TRÊS DOCUMENTÁRIOS



De vez em quando, para filmes que em geral eu não tenho muito o que falar, costumo fazer um post "três em um". Se bem que o critério nem é bem esse, pois já fiz "três em um" do Dario Argento, do Clint Eastwood, do Sidney Lumet, do Jerry Lewis, gigantes do cinema. E alguns filmes abaixo até poderiam ter um post exclusivo, mas como não me acho capaz de adentrar com segurança o terreno da política, melhor ser curto, grosso e rasteiro nessas horas.

THE ROAD TO BRESSON (De Weg naar Bresson)

Muito bacana este documentário holandês sobre Robert Bresson, feito no calor do festival de Cannes de 1983, quando Bresson, sob vaias e aplausos, recebeu o prêmio de melhor diretor por O DINHEIRO (1983) e Andrei Tarkovski recebeu outro prêmio por NOSTALGIA. Só de ver a cena de Orson Welles entregando o prêmio para os dois mestres e ver os três no palco juntos já é motivo mais do que suficiente para conferir esse documentário. Interessante como tanto o cineasta russo quanto o francês se mostraram bem tímidos diante do palco. Mas THE ROAD TO BRESSON (1984) foi feito principalmente para quem já viu ou já tem certo grau de intimidade com os trabalhos nem sempre fáceis do cineasta. Numa cena do doc, em entrevista coletiva, Bresson tinha que responder coisas do tipo "eu não entendi o seu filme" ou "por que seus filmes são sempre frustrantes?". Sobre não entender O DINHEIRO, eu confesso que também não entendi, mas a resposta dele foi interessante. Ele falou: meus filmes não são para serem entendidos, mas para serem sentidos. E por isso, acho que eu só tive a oportunidade de sentir de verdade o cinema de Bresson em duas de suas obras: O PROCESSO DE JOANA D’ARC (1962) e UM CONDENADO À MORTE ESCAPOU (1956). Quanto aos demais, talvez tenha me esforçado demais para entendê-los. Precisaria, portanto, rever para tentar absorver melhor. Leo De Boer e Jurriën Rood, os diretores do documentário, se vêem também numa situação complicada ao tentar agendar uma entrevista com Bresson, para enriquecer o documentário, que já contava com entrevistas de Louis Malle (que dizem que é o maior herdeiro do cinema de Bresson), Dominique Sanda (a atriz de UNE FEMME DOUCE, 1969), o roteirista e cineasta americano Paul Schrader (foda que não tinha legendas nas falas dele e o Schrader tem uma dicção complicada) e o genial cineasta russo Andrei Tarkovski. Com sorte, eles negociaram por telefone para fazerem apenas três perguntas e Bresson, mais enjoado que João Gilberto, só aceitou responder uma pergunta. Isso pelo telefone, pois lá no quarto de hotel até que ele respondeu mais um pouquinho. Entre entrevistas, cenas de seus filmes e discussões em torno de seu livro, "Notas sobre o Cinematógrafo", o filme só peca por ser curto demais. Menos de uma hora de duração é pouco para um cineasta tão intrigante e instigante quanto Bresson.

COMANDANTE

Quando revi O PODEROSO CHEFÃO – PARTE II e me chamou a atenção aquela cena em que Michael Corleone está em Cuba presenciando o momento em que Fidel Castro toma o poder e instala a sua revolução, fiquei curioso para saber mais sobre aquilo. E em breve, com os dois filmes sobre Che Guevara chegando por aí, acho que Cuba voltará a ser tema quente. Enquanto isso, nada como ver COMANDANTE (2003), o imperdível documentário que Oliver Stone fez depois de ter ganhado a simpatia e a confiança de Fidel. Legal ver o presidente cubano chamando Stone de Oliver e batendo papo, apesar da barreira da língua, que é resolvida com a intérprete de Fidel. Além do bate-papo às vezes descontraído às vezes tenso - Stone não teme em fazer perguntas complicadas a Fidel, mas ele responde passando convicção -, o filme ainda conta com cenas de arquivo, mostrando Fidel jovem, antes de tomar o poder, quando lutava ao lado de Ernesto "Che" Guevara. No fim das contas, o saldo foi positivo para o velho Fidel, que com muito sacrifício e apesar do embargo econômico dos americanos, além das ameaças de serem bombardeados, conseguiu instalar dentro de sua pequena ilha um socialismo igualitário com uma educação e um sistema de saúde de fazer inveja a muitos países ricos (como já provou Michael Moore em SICKO). E Depois do controverso JFK – A PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR (1991) e do pouco visto NIXON (1995), Stone vem aí com W. (2008), que deve dar o que falar. Há quem não curta o trabalho de Stone, mas ele é um diretor cuja obra deveria ser levada mais a sério.

PEQUENO GRÃO DE AREIA (Granito de Arena / Grain of Sand)

Não tinha ouvido falar desse filme, mas depois que eu emprestei o documentário brasileiro PRO DIA NASCER FELIZ, de João Jardim, para a minha amiga Valéria, ela resolveu me emprestar este PEQUENO GRÃO DE AREIA (2005), que também trata de questões educacionais, mas com um registro bem diferente. Na verdade, achei o tom do filme excessivamente panfletário, mais preocupado com o jornalismo e com o discurso de esquerda do que com a arte. As cenas que supostamente deveriam me deixar comovido e indignado, na maior parte das vezes, me causou cansaço e até um sentimento de desesperança, de que tem certas lutas que não valem a pena, mesmo vendo os atos heróicos nas greves dos professores do ensino público no México. Claro que o filme de Jill Friedberg não trata apenas disso, mas a complexidade com que o filme joga as informações e a falta de intimidade com o assunto e com a realidade mexicana me deixou distante do filme. Por mais que os problemas gerados pela globalização estejam cada vez mais próximos de nossa rotina, acho que faltou sensibilidade na direção desse documentário. Mesmo assim, valeu ter visto para me inteirar de uma realidade que, como profissional da educação, me interessa.

Agradecimentos especiais à Valéria e ao Renato, que me forneceram as cópias dos citados filmes.

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