sexta-feira, dezembro 26, 2008

O GÊNIO DO MAL (Baby the Rain Must Fall)



Pretendo manter uma tradição aqui neste espaço de homenagear diretores, atores ou atrizes que faleceram recentemente. Que eu me lembre, pude fazer isso quando da morte de Ingmar Bergman, de Paul Newman e de Sydney Pollack. E quero fazer o mesmo agora com Robert Mulligan, que faleceu no dia 20 de dezembro de parada cardíaca. Mulligan foi um dos cineastas mais importantes da geração anos 60/70, mas ao mesmo tempo mais subestimados. O diretor, hoje, é mais lembrado pelo seu trabalho em O SOL É PARA TODOS (1962), que rendeu o Oscar de melhor ator para Gregory Peck, mas ele fez outras obras memoráveis como o romântico e nostálgico HOUVE UMA VEZ UM VERÃO (1971), o western A NOITE DA EMBOSCADA (1968), o horror A INOCENTE FACE DO TERROR (1972) e o drama sobre o aborto O PREÇO DE UM PRAZER (1963), com Natalie Wood e Steve McQueen.

E foi novamente com McQueen que Mulligan trabalhou no filme seguinte: O GÊNIO DO MAL (1965), que aqui no Brasil infelizmente recebeu esse título horrível e totalmente sem propósito. Aparentemente criado por alguém que nem se deu ao trabalho de ver o filme, que traz momentos de pura poesia, além de seqüências de mistério que remetem a PSICOSE, de Alfred Hitchcock. O filme começa mostrando a viagem da personagem de Lee Remick, de uma cidadezinha a outra no interior do Texas, com sua filhinha pequena. O destino das duas é encontrar o pai da menina, que esteve preso por motivos não muito bem explicados e que obteve recentemente a sua liberdade condicional. Aliás, uma dos melhores coisas do filme é a opção por não explicar muito e deixar no ar um clima instigante. Steve McQueen está perfeito na pele do cantor de rock que sonha em ser famoso como Elvis Presley, mas que não consegue fugir das encrencas. É ele o pai da criança e que recebe com surpresa a chegada da esposa com sua filha. Apesar de a população da cidade não acreditar na recuperação do problemático rapaz e do mistério envolvendo uma velha senhora moribunda, a chegada da esposa traz um novo alento para ele, que passa a sonhar em dar o melhor para sua família. Ele tem pesadelos constantes com o tempo em que esteve na penitenciária e a pressão da sociedade para que ele se adapte à sua vontade faz com que ele se torne ainda mais rebelde e indignado com a difícil vida que leva.

Filme representativo de uma época de transformações na sociedade, O GÊNIO DO MAL é também um trabalho que encanta por misturar momentos de suspense com outros de romantismo, ambos os momentos valorizados pela belíssima fotografia em preto e branco, que dá ao filme um ar noturno, principalmente nas seqüências nos interiores. Nos exteriores, a fotografia acentua os vastos horizontes do Texas e a melancolia reinante, presente constantemente também nos olhares de Lee Remick e McQueen. Remick tem aquele olhar de esperança e aceitação, enquanto que McQueen alterna momentos de descrença com outros de euforia, raiva ou completa fúria. Eis um grande ator, também subestimado. Lamento não ter visto mais filmes de Mulligan. Acho que esse é apenas o terceiro filme do cineasta que vi, mas acredito que vou à procura de outras obras dele assim que puder.

P.S.: André Setaro fez uma bela homenagem a Mulligan em seu blog. Vale conferir, até porque Setaro iniciou-se como cinéfilo exatamente no mesmo ano que Mulligan iniciou sua carreira e tem muita experiência para compartilhar conosco.

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