sexta-feira, abril 25, 2008

A MARQUESA D'O... (Die Marquise von O.../La Marquise d'O...)



Dando uma pausa entre os filmes de Eric Rohmer do ciclo "Seis Contos Morais", falemos sobre essa interessante produção que o diretor realizou na Alemanha. A MARQUESA D'O... (1976) foi produzido após o término do referido ciclo e, assim como A INGLESA E O DUQUE (2001) e PERCEVAL LE GALLOIS (1979), demonstra o gosto e o interesse que o diretor tem por dramas de época. A MARQUESA D'O...talvez seja o filme de Rohmer que mais lembra os trabalhos de Robert Bresson. Tanto pela estrutura e montagem quanto pela maneira contida - pelo menos no inicio - com que os personagens demonstram suas emoções. Quanto às emoções, essa impressão vai se apagando aos poucos, à medida que vamos nos envolvendo com o drama dos personagens, especialmente a da atormentada marquesa (Edith Clever).

A trama se passa na região da Lombardia, na Itália, que na época era dominada pelos alemães (ou austríacos, ou prussianos, não sei). O pai da marquesa é o comandante do lugar. Uma noite, os russos, armados, tomam o lugar, mas o oficial russo, o conde (Bruno Ganz), que lidera o batalhão, salva na mesma noite a marquesa do ataque de três homens que tinham a intenção de estuprá-la. Com esse gesto nobre, até a própria família da marquesa vê com bons olhos aquele homem que era até então seu inimigo. O que eles não sabem é que o tal conde havia se aproveitado da marquesa enquanto ela estava desfalecida. Tanto que, depois de alguns dias, ele aparece estranhamente na casa da marquesa para pedir a seus pais a mão da viúva em casamento. (Ela havia perdido o marido há alguns anos e tinha dois filhos desse casamento, além de um voto de que jamais se casaria novamente). Pela vontade do conde, eles se casariam imediatamente. A pressa do conde de se casar com a marquesa é o principal motivo do estranhamento da família da jovem senhora. Depois que ele parte de volta para seu destacamento, obtendo a esperança que desejava, a marquesa se vê num estado que jamais imaginava: ela estava grávida. Desesperada e sem saber quem é o pai, ela é abandonada pela própria família e expulsa da casa de seus pais, que não suportariam a vergonha.

A MARQUESA D'O... é baseado num conto de Heinrich von Kleist, que suicidou-se com a idade de 34 anos em 1811, deixando pouco material literário disponível. Um dos aspectos mais belos do filme é o modo como Rohmer trata com carinho seus personagens, tanto a marquesa e o conde, quanto os pais da marquesa. Aliás, uma das seqüências mais emocionantes do filme é quando o pai da jovem vai até sua casa para pedir-lhe perdão. Isso me lembrou muito o meu pai. Quando minha irmã ficou grávida e saiu de casa por uns tempos até ter seu filho, ele ligou pra ela, pedindo para ela voltar pra casa. Confesso que quando soube disso fiquei comovido. E essa cena me trouxe um pouco para a realidade e me aproximou mais um pouco dos personagens. Só achei que faltou um final mais emocionante, como é comum ver em vários outros trabalhos de Rohmer. Ainda assim, é um final satisfatório.

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