quarta-feira, abril 04, 2007

Ó PAÍ, Ó



Acho que um dos maiores acertos de Ó PAÍ, Ó (2007) pra mim foi conseguir tornar algo que não desperta o meu interesse e a minha simpatia, como o carnaval bahiano e a axé music, em algo simpático e interessante. Saí do cinema com um sentimento de respeito em relação ao carnaval de Salvador, aos blocos (Araketu, Olodum etc), à vontade que o povo bahiano tem de esquecer de seus problemas - que não são poucos - e ser feliz por três dias. Antes eu acreditava que o Carnaval era uma festa que só servia para aumentar a taxa de mortalidade e para o povo brasileiro ficar mais acomodado e não se rebelar contra o Governo, já que aqueles três dias funcionam como uma espécie de catarse. Hoje eu já não sei se ainda acredito nessa teoria.

Quanto ao filme, Ó PAÍ, Ó é um trabalho bem diferente dos anteriores de Monique Gardenberg. Quer dizer, não vi JENIPAPO (1996), mas BENJAMIM (2003) me pareceu bem interessante, ainda que um pouco pretencioso e metido a vanguardista, moderno ou algo parecido. Nesse novo filme, a intenção de Gardenberg foi fazer algo mais despojado, mais despretencioso. Em entrevista à ISTOÉ Gente, a diretora falou: "Eu tinha muita cobrança de passar inteligência atrás de cada cena, atrás de cada solução, algo profundo. Isso é quase uma arrogância, você tem que ser mais despretensioso." Como o filme lida com algo bastante popular, não tem mesmo que tentar dar uma de Bergman.

O filme é uma comédia com momentos de musical e drama sobre um grupo de moradores de um cortiço no Pelourinho que estão sofrendo com a falta de água, graças a um boicote da dona do prédio, uma senhora evangélica (Luciana Souza) que odeia carnaval e que é mostrada de uma maneira um tanto quanto caricatural, meio que uma vilã da estória. Fica claro que o filme simpatiza mais com o pessoal do Candomblé do que com os crentes. Mas isso já não é novidade: o único filme brasileiro que eu vi respeitando os evangélicos foi CARANDIRU, do Babenco.

Os principais personagens são um aspirante a cantor (Lázaro Ramos), uma bahiana que voltou da Europa (Dira Paes), um traficante (Wagner Moura), uma morena gostosíssima cheia de pretendentes (Emmanuelle Araújo), um travesti (Liu Arrison), um comerciante (Stênio Garcia), entre outros. Integram também o time de principais personagens uma dupla de atores mirins que conquista a simpatia do público. Eles fazem o papel dos irmãos Cosme e Damião, filhos da dona do prédio. Quem está bem ruim no filme é o Wagner Moura. Tanto o seu personagem é dispensável, como sua interpretação chega a ser incômoda de tão ruim. Felizmente ele não aparece muito no filme.

As cenas musicais são bem realizadas. Na verdade, não saberia dizer do ponto de vista técnico e cinematográfico, mas eu gostei da edição e até das canções, algumas delas bem conhecidas. Como a diretora já tem alguma experiência com videoclipes ("Não Enche", do Caetano Veloso) e até com direção de shows (ela dirigiu o show de Marina Lima no Auditório do Ibirapuera e dois espetáculos filmados de Caetano Veloso) e como eu já estou ficando conhecido por não gostar de musicais, algum crédito esse filme deve merecer, não é verdade?

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