terça-feira, abril 17, 2007

O CAVALO DE FERRO (The Iron Horse)



Hoje tive um dos piores dias da minha vida, mas deixar vir o choro foi bom para que eu entrasse em contato novamente com Deus, com o espiritual, há tempos relegado a segundo plano. Talvez por isso agora eu esteja arcando com as conseqüências de minha negligência. E isso vale também para o meu corpo, que eu podia ter cuidado mais, fazendo atividades físicas e tal. Mas agora não adianta mais chorar pelo leite derramado e o negócio é correr atrás do prejuízo, tentar buscar forças e recomeçar, dessa vez do jeito certo. Ou o mais próximo disso que eu conseguir. Agora, o filme em questão.

Sei que quem acompanha o blog estava esperando eu falar de RASTROS DE ÓDIOS (1956), mas tive a oportunidade de baixar do emule essa pérola da fase muda de John Ford e resolvi voltar um pouco no tempo na peregrinação que estou fazendo dos filmes do diretor. Considerada a primeira obra-prima de Ford, O CAVALO DE FERRO (1924) tem mais cara de documento histórico que muito documentário por aí não consegue ter. O filme foi a primeira grande produção de Ford, que ele assumiu quando tinha apenas 31 anos. O interessante é que a equipe de filmagens trabalhava como se estivesse dentro do próprio filme, isto é, eles filmavam em várias locações, construindo novas cidades sempre que chegavam a novos lugares. A equipe tinha até o seu próprio fabricante de bebidas e o seu próprio bordel. Tudo intinerante. Além do mais, as locomotivas utilizadas no filme são autênticas locomotivas da época.

O CAVALO DE FERRO conta a história da construção das primeiras estradas de ferro que ligaram uma ponta à outra dos Estados Unidos. Foi o Presidente Abraham Lincoln quem aprovou a construção desse ambicioso projeto, iniciado em plena Guerra Civil. O filme narra de forma didática como se desenvolveu a construção da estrada, a luta contra os índios, a chegada dos chineses para aumentar a mão-de-obra operária, a chegada dos búfalos. Mas como não se trata de um documentário, mas uma obra de ficção com alguns personagens reais (além de Lincoln, aparecem no filme Wild Bill Hickok e Buffalo Bill), há uma história de amor usando como pano de fundo a construção das estradas de ferro. Na trama, Davy Brandon é filho de um sujeito que sonhava com um trem que pudesse ir de uma ponta a outra dos Estados Unidos. Esse rapaz, quando adolescente, viu o pai morrer pelas mãos de um índio. Quando cresce, seu objetivo é continuar o sonho do pai.

O filme mostra a construção de toda a mitologia do western, os primeiros saloons, os barmen que funcionavam como advogados e juízes, as prostitutas, os pistoleiros, os índios, o gado. Ford já meio que antecipou nesse trabalho o que iria mostrar em NO TEMPO DAS DILIGÊNCIAS (1939), a sua obra-síntese. A cópia que eu consegui é bem boa, restaurada e com uma trilha sonora que funciona que é uma beleza. A vantagem de pegar filmes mudos pela internet é que não há a preocupação de você pegar um filme dublado em outra língua - baixei, por exemplo, uma cópia dublada em francês (argh) de MOGAMBO (1953) - ou de não conseguir legendas que sincronizem direito, já que as legendas dos filmes mudos já vêm impressas no celulóide.

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