
Só fui saber que Satoshi Kon havia realizado essa série quando li um artigo sobre ele por ocasião da exibição no Festival de Veneza de PAPRIKA (2006), seu mais recente longa-metragem. Poucas semanas depois, como num passe de mágica, lá estava eu de posse dos 13 episódios de PARANOIA AGENT (2004), uma série muito louca sobre pessoas desesperadas e angustiadas que encontram a salvação nas mãos de um agressor que aparece na figura de um garoto com um bastão de beisebol.
A série já começa bizarra com a abertura, que mostra os personagens da série dando gargalhadas como se tivessem tomado algum tipo de droga, alcançado a iluminação ou descoberto algo muito importante a respeito da vida. A série vai apresentando os personagens aos poucos. A primeira a ser destaque é Tsukiko, uma garota tímida que criou um bonequinho que virou uma verdadeira febre no Japão, o Maromi, um cachorrinho cor-de-rosa e com os olhos bem grandes. O problema é que a companhia em que ela trabalha está pressionando a garota para que ela crie um outro personagem o mais rápido possível, mas Tsukiko está carente de idéias. Angustiada e perturbada, ela é atacada por um sujeito e acorda num hospital. Ela descreve para a polícia que o tal agressor é um menino de boné, sorriso brilhante no rosto, patins e um taco de beisebol.
Os episódios seguintes mostram outras pessoas que têm suas vidas mudadas graças ao "Shounen Bat", apelido que o agressor recebe pela mídia. Temos o garotinho que é confundido com o tal sujeito por causa de seus patins, boné e sorriso brilhante; temos a garota que tem vida dupla, sendo que à noite ela é prostituta; temos o policial que faz negócios com a Yakuza e precisa ele mesmo cometer assaltos para pagar suas dívidas.
Depois de quatro episódios excepcionais, a série começa a cair um pouco a partir do quinto, quando a trama vai ficando cada vez mais intrincada e os episódios vão trazendo situações cada vez mais bizarras. Alguns episódios não têm uma ligação direta com a trama principal, mas apenas com a lenda urbana do "Shounen Bat". É o caso do episódio "Happy Family Planning", que mostra um grupo de três amigos que se conhecem pela internet e decidem fazer um suicídio coletivo para pôr fim às suas vidas miseráveis. Esse é um dos episódios mais interessante e que até pode ser visto independente da série, ainda que eu não recomende. Outro episódio de destaque é o que lida com a força do boato, mostrando um grupo de senhoras que conta estórias absurdas sobre o "Shounen Bat".
A série perde a força quando fecha com os três últimos episódios a trama principal, com um dos policiais encarregados do caso se transformando numa espécie de super-herói e o seu parceiro indo parar num mundo bidimensional. Muita loucura. Muitas perguntas ficam no ar e alguns dos personagens mais interessantes, como Harumi Chono - a menina de vida dupla -, são deixados de lado. No fim das contas, eu fiquei sem saber qual foi a intenção de Satoshi Kon ao criar essa série. Ainda assim, não é sempre que se pode ver uma série animada tão bem cuidada e que ainda incita à reflexão.
Agradecimentos a Marcelo Reis, que muito gentilmente me enviou de surpresa uma cópia dessa brilhante série. Valeu, meu chapa!