sexta-feira, abril 21, 2023

A MORTE DO DEMÔNIO – A ASCENSÃO (Evil Dead Rise)



Muito provavelmente, THE EVIL DEAD (1981) foi o filme de terror mais marcante do início de minha cinefilia. Foi um barato ver o público pulando em meio aos jump scares e se divertindo com o senso de humor muito próprio que casa incrivelmente bem com o horror. Lembro que fui mostrar, anos atrás, o DVD do filme a meu sobrinho e, com 10 minutos de projeção, ele ficou com medo e pediu para parar. Vi o filme no lançamento nos cinemas brasileiros, em 1989, no saudoso Cine Fortaleza, local de muitas emoções em meus primeiros anos como cinéfilo. Chegou com o título “Uma Noite Alucinante – Como Tudo Começou” (eu não tenho total certeza desse subtítulo e não achei em lugar nenhum na internet, mas tenho quase certeza e lembro das letras vermelhas na fachada do cinema). A escolha por esse subtítulo aconteceu porque o mesmo filme já havia sido lançado no mercado de vídeo como “A Morte do Demônio” em 1985 (será que tinham medo de competir com o VHS?) e a sequência de 1987 havia saído em vídeo como “Uma Noite Alucinante”. Ou seja, há essa confusão de títulos por aqui. Mas tudo bem, um monte de filme de horror barato e bacana sofre com isso também, tanto aqui, quanto nos Estados Unidos, na Itália etc. 

Sei que naquele maio de 1989, eu saí do cinema tão feliz com a sessão, com aquele espetáculo tão singular, que chamei meus amigos da igreja para rever o filme comigo no fim de semana. Acho que foi a segunda vez que fiz isso – a outra foi com CORRA QUE A POLÍCIA VEM AÍ, que fiz questão de levar meus amigos para ver também. Aliás, esse foi outro marco de cinema em que o público embarcou com muito prazer. Se THE EVIL DEAD foi o filme com o maior número de pulos da cadeira por minuto, a comédia do trio ZAZ foi o título com o maior número de piadas por segundo – e que pelo menos naquela época funcionou bem demais para a audiência. 

Os anos 1980 trouxeram essa marca de humor e leveza que foi se perdendo com o tempo. Os filmes de horror do período eram recheados de muito humor, às vezes de maneira não intencional. Tanto que, na época que vi HELLRAISER – RENASCIDO DO INFERNO, e me deparei com um drama muito sério e pesado, fiquei impressionado com esse novo encaminhamento, um prenúncio de uma nova tendência. O atual momento é de filmes de horror menos centrados no humor e mais na dramaticidade.

Mexer com a série clássica de Sam Raimi e todas as suas hipérboles e manter a aura séria é algo corajoso, mas não impossível, como pôde se ver em A MORTE DO DEMÔNIO (2013), o remake dirigido por Fede Alvarez, que ficou muito bonito visualmente e que se adequou aos novos tempos. Eu diria que o novo filme, A MORTE DO DEMÔNIO – A ASCENSÃO (2023), dirigido por Lee Cronin, é ainda mais bem-sucedido.

Ao optar por se distanciar da floresta e contar uma nova história a partir das ideias originais – o livro e como os corpos mortos se comportam quando invadidos pelos maus espíritos –, Cronin (THE HOLE IN THE GROUND, 2019) se vê com liberdade para criar imagens belas e poderosas, algumas delas impressionantes, como uma das cenas vistas pelo olho mágico do apartamento onde se passa a maior parte da trama. Além do mais, o próprio prólogo já adianta que o novo capítulo da franquia não se destacará pelas sutilezas no uso de imagens gráficas. O gore é muito bonito e é de dar gosto ver os personagens banhados em sangue, embora uma das cenas de desfecho tenha me parecido muito conveniente em termos de enredo. Mas, se não quero ver o filme como uma obra tão preocupada com o enredo, é tranquilo relevar.

Na trama, Beth (Lily Sullivan) é uma jovem mulher que trabalha para uma banda de rock e volta para Los Angeles a fim de falar com sua irmã mais velha Ellie (Alyssa Sutherland) e rever seus três sobrinhos, dois adolescentes e uma criança. A família habita um apartamento que, depois de um terremoto, fica sem acesso às escadas. É devido ao terremoto também que o filho de Ellie achará o livro dos mortos e alguns vinis com conteúdo sinistro. Os discos e o livro desencadearão a entrada em cena de demônios ou espíritos malignos que se apossam dos corpos mortos de suas vítimas. Como acontece no primeiro e nos outros filmes, cada pessoa que é morta por essa criatura maligna também se transforma. E aqui capricharam bastante nos efeitos de maquiagem. 

Senti falta de uma construção maior de suspense ou mesmo de medo, mas acredito que esse segundo aspecto depende mais do espectador – não sou mais o adolescente que viu o primeiro filme no cinema e saiu encantado e gratificado pelos sustos, pelo gore e pelo humor. A opção por um trabalho mais sério, como o filme de 2013, é compreensível. O cinema de horror mais “sério” de hoje não impede que o novo diretor homenageie não apenas Sam Raimi, mas também vários cineastas do gênero dos anos 1980, na beleza plástica, nas ideias e na forma feliz como lida com os clichês.

+ TRÊS FILMES

PÂNICO AO ANOITECER (The Town That Dreaded Sundown)

Considerado um precursor de SEXTA-FEIRA 13, PÂNICO AO ANOITECER (1976), de Charles B. Pierce, é baseado numa história real ocorrida numa pequena cidade do interior do Arkansas, que sofreu com os ataques de um homem encapuzado que usava diferentes métodos de matar suas vítimas, escolhidas aparentemente de maneira aleatória. Há uma narração usada para enfatizar o tom documental que faz lembrar alguns noirs produzidos na velha Hollywoood, mas que também funciona muito bem para que o filme não precise tanto de uma estrutura muito amarrada. Afinal, os personagens principais são os policiais encarregados de pegar o tal "assassino fantasma". Um dos méritos do filme é ter um visual bem cru e realista, que lhe confere uma veracidade que só perde um pouco quando o personagem do próprio diretor aparece fazendo algumas trapalhadas. Parece ter sido uma tentativa de tornar o filme menos pesado para as audiências, usando um alívio cômico pouco engraçado. Há cenas bem intensas e aterrorizantes e destaco a da jovem que é amarrada na árvore e morta com o uso de um trombone. Menos pela morte e mais pela ótima performance da atriz. Também podemos destacar outra atriz que se saiu muito bem em cena aterrorizante com o assassino, Dawn Wells, cujo nome aparece em destaque no cartaz. Filme visto no box Slashers VIII.

A FACE DA CORRUPÇÃO (Corruption)

Fico imaginando o impacto que este filme deve ter tido na época de seu lançamento, pois até hoje é uma obra que tem um grau de intensidade na violência e nos atos dos personagens que aterrorizam, especialmente quando a trama passa a se tornar mais interessante do que se esperava. Na história, Peter Cushing é um cirurgião que namora uma modelo (Sue Lloyd) e que se dedica a reconstituir parte do rosto dela, depois que um acidente numa boate a deixa com uma queimadura. A FACE DA CORRUPÇÃO (1968), de Robert Hartford-Davis, une o filme de cientista maluco com o filme de psicopata, e vai ficando mais interessante quando entram novos personagens, lá pela metade da narrativa, trazendo boas reviravoltas. Gosto do uso da câmera distorcida na cena do trem. Filme visto no box Obras-Primas do Terror 19.

TRILOGIA DE TERROR (Trilogy of Terror)

Seria interessante se atualmente a onda de filmes de segmentos ainda estivesse em alta. Este telefilme dirigido por Dan Curtis e baseado em contos de Richard Matheson contém todos os segmentos estrelados por Karen Black. O primeiro segmento de TRILOGIA DE TERROR (1975) a mostra como uma professora de literatura que é cortejada por um de seus alunos. O final é surpreendente. O segundo segmento mostra a atriz vivendo duas personalidades diferentes e o terceiro é o que apresenta o boneco de madeira da capa, que ganha vida e sai perseguindo a mulher pelo apartamento. É o mais longo dos três e tem um suspense eficiente, embora eu ache que tenha sido mais impactante na época de sua exibição na TV. Filme visto no box Obras-Primas do Terror 19.

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