quinta-feira, março 10, 2022
SEIS FILMES INDICADOS AO OSCAR 2022
Ultimamente meu tempo e energia para ver filmes andam um tanto em baixa. Por isso, a postagem de hoje reflete um pouco tanto esse cansaço quanto a falta de tempo/energia para ser dispendida com as coisas que amo. Como os filmes do Oscar não estão lá me empolgando tanto, vamos falar um pouco sobre seis deles.
APRESENTANDO OS RICARDOS (Being the Ricardos)
Até poucos anos atrás um dos motivos de eu gostar muito da temporada do Oscar vinha do fato que, pelo menos nessa época, os lançamentos nos cinemas ficavam mais voltados ao público adulto. De uns anos pra cá, com muitos desses filmes indicados saindo direto em streaming, eu percebi que muitos desses filmes são bem chatos e que, em casa, minha preguiça de vê-los aumenta bastante. É o caso deste APRESENTANDO OS RICARDOS (2021), de Aaron Sorkin, que mesmo contando com um par de atores de que gosto muito e tendo uma ideia muito interessante, é desses filmes para se ver com o olho no relógio e torcendo para acabar logo. O assunto abordado é interessante: os Estados Unidos da época do macarthismo e o quanto isso repercutiu na época em que Lucille Ball foi acusada de ser comunista. O filme se divide entre alguns poucos dias do ocorrido e flashbacks que documentam os primeiros momentos do casal Lucille e Desi. Como Javier Bardem é um grande ator e é uma simpatia, até dá para entender sua indicação, assim como a indicação da Nicole Kidman. Já a indicação do J.K. Simmons, por um papel tão pequeno e bem pouco brilhante, só se justifica por ele já ser um nome muito querido e famoso da indústria. Indicações: atriz (Nicole Kidman), ator (Javier Bardem), ator coadjuvante (J.K. Simmons).
OS OLHOS DE TAMMY FAYE (The Eyes of Tammy Faye)
Além da força da interpretação de Jessica Chastain, muito do mérito do filme está em conseguir incorporar o espírito brega e confuso de seus protagonistas. Isso faz com que OS OLHOS DE TAMMY FAYE (2021, foto), de Michael Showalter, consiga fugir um pouco do tradicional filme biográfico de pessoas famosas. Os retratados aqui são o casal de televangelistas americanos Jim Bakker e a personagem-título, sua esposa. Como são poucos os filmes que adentram os bastidores desse universo do evangelismo, não deixa de ser muito interessante acompanhar essa história regada a escândalos e muitas curiosidades. Andrew Garfiel quase compromete o filme com sua interpretação, mas Chastain equilibra, mesmo com toda a pesada maquiagem. Ou talvez por causa da maquiagem e das próteses, já que esse tipo de make-up que transforma as pessoas retratadas em criaturas de um mundo bizarro é essencial para a criação da obra como ela é. E da própria protagonista, que logo no começo do filme lembra muito uma drag queen, e lá pelo meio entenderemos sua relação com o mundo LGBT. Indicações: atriz e maquiagem e cabelos.
TICK, TICK…BOOM!
Um filme que eu não teria visto se não tivesse entrado em uma das categorias mais importantes do Oscar. No caso, a de melhor ator. E de fato, é louvável o desempenho de Andrew Garfield no papel do músico Jonathan Larson. Um ator que nem sequer cantava, mas que aceitou a tarefa com coragem. Na verdade, o que não me pegou em TICK, TICK…BOOM! (2021), de Lin-Manuel Miranda, e que me deixou um bocado aborrecido foram as canções. Não sei se é o caso de conhecê-las melhor para aprender a gostar delas (isso é muito comum em se tratando de música), mas não foi o caso de gostar de primeira vez. E a gente sabe que gostar das canções já é meio caminho andado para amar um musical do tipo, com um pé no clássico e outro no moderno. De todo modo, vale muito ver, até para conhecer um pouco da vida do compositor de Rent. Indicações: ator e montagem.
A TRAGÉDIA DE MACBETH (The Tragedy of Macbeth)
Talvez a preocupação excessiva com a parte plástica tenha prejudicado um pouco o andamento narrativo desta adaptação da peça clássica. Ainda assim, é difícil não haver momentos impressionantes, seja pelo próprio texto de Shakespeare, que já carrega uma aura de maldição desde o encontro de Macbeth e Banquo com as três bruxas, passando pelo pensamento venenoso de Lady Macbeth e pelos atos assassinos do protagonista. Mas mesmo os instantes de perturbação da mente do casal Macbeth vão perdendo a força à medida que o filme vai chegando à sua conclusão. Momento arrepiante de A TRAGÉDIA DE MACBETH (2021): Frances McDormand gemendo de horror quando está sonâmbula. Denzel Washington também está ótimo como o primeiro Macbeth negro da história do cinema americano (confere?). A fotografia marcante ficou a cargo de Bruno Delbonnel, o mesmo do excelente INSIDE LLEWYN DAVIS – BALADA DE UM HOMEM COMUM (2013), um dos melhores filmes dos irmãos Coen. Que os irmãos retornam. Juntos, eles são melhores. Indicações: ator, direção de arte e fotografia.
LICORIZE PIZZA
Muito provavelmente precisarei rever, pois assisti em uma sala com uma leve tremedeira na projeção, mas o suficiente para tirar o meu prazer de ver e me deixar com dor nos olhos ao final das mais de duas horas de exibição. Trata-se da terceira história de amor da carreira de Paul Thomas Anderson, e não dá para negar que LICORICE PIZZA (2021) é um filme cheio de momentos interessantes, de cenas memoráveis e que foge muito das convenções, em sua estranheza visual, narrativa e na construção dos personagens. Não sei se não senti uma maior conexão com a relação do casal de personagens por culpa da sala 7 zoada (nota mental: não pisar mais lá nos próximos dois anos) ou se é uma falta de sintonia entre mim e o cineasta no que se refere a questões amorosas – lembro que também não me senti "aceso" com EMBRIAGADO DE AMOR (2002) na época que o vi nos cinemas. Deixando um pouco a raiva de lado, impressionante como Bradley Cooper está bem e toda a sequência envolvendo o ator é muito boa. No mais, vou seguir ruminando o filme e quem sabe veja no futuro em outra sala que não me ofereça dor e aflição em vez de prazer. Indicações: filme, direção e roteiro original.
A FILHA PERDIDA (The Lost Daughter)
Uma bela estreia na direção de longa-metragem de Maggie Gyllenhaal. E uma escolha bastante arriscada adaptar o romance de Elena Ferrante, tão cheio de nuances e de complexidades no que se refere a questões envolvendo a maternidade, a carências afetivas e a sentimentos ambíguos. Em A FILHA PERDIDA (2021), temos Olivia Colman como uma professora de literatura comparada que está passando as férias na Grécia e situações de seu passado, feridas abertas, começam a vir à tona com muita força a partir do momento que ela se enxerga no lugar de uma jovem mulher na praia, com sua filha pequena. Ainda acho que o filme sofre um pouco no andamento e minha relação com a protagonista foi de distanciamento - talvez por eu não ser mãe, quem sabe. Por outro lado, já tive uma compreensão maior nos flashbacks da personagem, vivida por Jessie Buckley. Aliás, essa atriz deveria estar recebendo mais atenção. Eu diria, mais até do que a própria Colman. Ela foi o melhor elemento de ESTOU PENSANDO EM ACABAR COM TUDO, de Charlie Kaufman, e me fez prestar mais atenção ainda nela neste A FILHA PERDIDA. Em tempo, Dakota Johnson também está muito bem. Indicações: atriz (Olivia Colman), atriz coadjuvante (Jessie Buckley) e roteiro adaptado.
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