segunda-feira, março 28, 2022

OSCAR 2022



Não dá para dizer que não foi uma noite memorável. Mas é triste saber que será lembrada como a noite em que Will Smith levou o Oscar depois de ter dado um tapa no apresentador de uma das premiações, Chris Rock, famoso por algumas piadas infames e que cometeu o erro de fazer uma piada besta com a condição física da esposa de Will, Jada Pinket-Smith. Mas o erro foi maior ainda de Will, de partir para a agressão em rede mundial. Seu ato até agora está repercutindo e há quem o defenda e há quem o condene. Eu estou pendendo mais para condenar o seu ato, e acabei por admirar ainda mais Denzel Washington, que, durante o discurso acalorado de Will, falou para ele tomar cuidado no que poderia dizer. Sim, isso foi um acontecimento tão tenso que eu sequer lembrei de anotar o vencedor da categoria melhor documentário anunciado por Rock. Tive que ver em algum site depois. Naquela hora, ninguém queria saber, na verdade, a não ser talvez os premiados.

A cerimônia estava me rendendo muita raiva no início, com a pressa e desrespeito da academia em ter deixado de fora da apresentação ao vivo oito prêmios que são, sim, muito importantes. Eles foram apresentados de maneira muito rápida e editada, como que numa tentativa desesperada de conquistar o espectador do Tik Tok, ou talvez de acreditar que a impaciência é a marca do público jovem. O resultado é que metade da cerimônia aconteceu de forma atropelada. 

Ao menos duas das apresentações musicais foram bem legais: “We don’t talk about Bruno”, bastante divertida, da animação ENCANTO, e “No Time to Die”, cantada por Billie Eilish, música-tema de 007 – SEM TEMPO PARA MORRER, e a que conquistou o troféu.

Quanto às premiações, é mesmo muito estranho que ATAQUE DOS CÃES, indicado a 12 estatuetas, só tenha ganhado a de melhor direção para Jane Campion. Talvez o modelo de cálculo que valoriza os filmes com menor rejeição tenha resultado na vitória de NO RITMO DO CORAÇÃO, um filme bem menos ambicioso e simples, mas que de alguma maneira tinha como trunfo a questão da inclusão dos deficientes auditivos – um tema que também comparece no curta AUDIBLE e no japonês DRIVE MY CAR. Será que a academia resolveu usar essa bandeira como tema para essa edição? Inclusive, tivemos o prêmio de ator coadjuvante para Troy Kutsur, que fez o discurso mais bonito da noite, em linguagem de sinais e traduzido para o inglês. Mas também é possível pensar que a academia não queria mais uma vez premiar uma produção da Netflix. 

O campeão em número de estatuetas da noite foi DUNA, de Denis Villeneuve. Aliás, é curioso que justamente os filmes mais odiados ou desprezados pela maioria da minha bolha cinéfila tenham sido os grandes vencedores. DUNA faturou um monte de categorias técnicas e é compreensível. E pode até repetir o feito na segunda parte, caso se torne mais querido por um público maior. 

Quem estava linda e muito elegante na noite era Jessica Chastain, que fez um discurso em prol das pessoas LGBTQI+, ao receber o Oscar por OS OLHOS DE TAMMY FAYE. A minha favorita, Kristen Stewart, por SPENCER, ficou para a próxima oportunidade. De todo modo, neste ano, a categoria mais bonita e também mais acirrada e confusa foi mesmo a de melhor atriz. Todas as concorrentes eram ótimas, cada uma à sua maneira.

No mais, espero que a Academia tome novas providências para que os erros desta edição não se repitam na próxima. Sei que é preciso repensar estratégias para conquistar também o público mais jovem e o prêmio não ficar esquecido com o passar dos anos, mas não creio que será dessa maneira desrespeitosa. No fim das contas, por razões inesperadas e nada felizes, o Oscar furará a bolha da cinefilia na televisão e na internet, quando se comentará e se discutirá bastante o incidente de Will Smith.



Os Premiados

Melhor Filme – NO RITMO DO CORAÇÃO
Direção – Jane Campion (ATAQUE DOS CÃES)
Ator – Will Smith (KING RICHARD – CRIANDO CAMPEÃS) 
Atriz – Jessica Chastain (OS OLHOS DE TAMMY FAYE) 
Ator Coadjuvante – Troy Kutsur (NO RITMO DO CORAÇÃO) 
Atriz Coadjuvante – Ariana DeBose (AMOR, SUBLIME AMOR
Roteiro Original – BELFAST 
Roteiro Adaptado – NO RITMO DO CORAÇÃO 
Fotografia – DUNA 
Montagem – DUNA 
Trilha Sonora Original – DUNA 
Canção Original - "No Time to Die”, de 007 – SEM TEMPO PARA MORRER 
Som – DUNA 
Efeitos Visuais – DUNA 
Direção de arte – DUNA 
Figurino – CRUELLA 
Maquiagem e cabelos – OS OLHOS DE TAMMY FAYE 
Filme Internacional – DRIVE MY CAR (Japão) 
Longa de Animação – ENCANTO 
Curta de Animação – THE WINDSHIELD WIPER 
Curta-metragem live action – THE LONG GOODBYE 
Documentário – SUMMER OF SOUL, OU QUANDO A REVOLUÇÃO NÃO PÔDE SER TELEVISIONADA 
Curta Documentário – THE QUEEN OF BASKETBALL



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