sexta-feira, dezembro 24, 2021

GAVIÃO ARQUEIRO (Hawkeye)



O império da Marvel em 2021 atingiu níveis ainda mais impressionantes com a chegada das séries e minisséries exibidas no streaming da Disney. Começou muito bem com WANDAVISION, a melhor até o momento, e entre altos e baixos chegou neste fim de ano com a despretensiosa GAVIÃO ARQUEIRO (2021), uma minissérie muito simpática que segue aquela linha de cenas de ação meia-boca e dramaturgia pouco satisfatória das anteriores (ou da maioria delas, pelo menos). Mas há uma série de trunfos numa série que conta com jovens atrizes belas e carismáticas que injetam sangue novo e energia nos projetos presentes e futuros da companhia.

O primeiro grande mérito é a presença de Hailee Steinfeld no papel de Kate Bishop. Embora a personagem tenha sido criada em 2005 por Allan Heinberg e Jim Cheung para o título dos Jovens Vingadores, a minissérie GAVIÃO ARQUEIRO tem o espírito inspirado mais na excelente série do herói escrita por Matt Fraction e desenhada por Alexandre Aja. Os próprios créditos (que aparecem no final e não no começo dos episódios) emulam elementos dos quadrinhos, como o uniforme roxo e o cãozinho caolho.

Falo de Kate Bishop antes do próprio Clint Barton pois a personagem é que parece dar mais gás à série. E isso parece que faz parte de um ritual de passagem de bastão que vem acontecendo na Marvel, com a despedida de super-heróis importantes, como Homem de Ferro, Viúva Negra, Capitão América e o natural envelhecimento dos atores e atrizes. Ao mesmo tempo, a Marvel está apostando em novos personagens que possam servirão para substituí-los.

O interessante da dinâmica de Barton e Bishop na minissérie é que, enquanto Barton está cansado e querendo se aposentar e passar o natal com família, Kate está animadíssima, cheia de fôlego e vontade de começar a ser uma super-heroína. Fã de Barton desde que o viu lutando nos eventos do primeiro filme dos Vingadores, e dominando o arco e a flecha, ela traz uma energia muito mais gostosa de ver. E eis que, mais à frente, a série nos presenteia com o encontro de Kate com Yelena Belova (Florence Pugh), outra jovem atriz surgida recentemente, no filme VIÚVA-NEGRA, e cuja química com Kate é tão agradável de ver que a vontade que tem é que tenhamos uma série só com as duas.

A cena de Yelena chegando ao apartamento em que Kate está instalada é talvez o ponto alto de toda a minissérie. Ela prepara um macarrão instantâneo, fala com aquele inglês com sotaque russo engraçado, e imediatamente as duas se gostam, embora Kate tema pelo fato de que Yelena pretende matar seu amigo Clint Barton, culpando-o pela morte de sua irmã Natasha, ocorrida em VINGADORES – ULTIMATO. Mais adiante, no episódio seis, a série trará outro embate, dessa vez mais dinâmico, entre as duas personagens. Há a cena do elevador e depois aquela cena em que uma delas reconhece que ambas já gostam uma da outra. Ou seja, se rolar um filme ou série sobre os Jovens Vingadores, com as duas personagens (ou projeto semelhante), já teremos um motivo para comemorar.

A qualidade dos episódios de GAVIÃO ARQUEIRO é crescente, pelo menos até o quinto. O que estraga um bocado o último é a presença de cena de Vincent D’Onofrio, que já havia interpretado Wilson Fisk, o Rei do Crime, na série do Demolidor. Não aprovei a escolha do ator para reprisar o personagem, mas tudo envolvendo o vilão é feito de escolhas ruins, até nos figurinos. Sem falar que, apesar de ser um homem que tem a força de arrancar a porta de um carro, ele é vencido facilmente. Mas podemos mais uma vez colocar a culpa na falta de um trabalho melhor de coreografia e lutas nessas séries da Marvel.

Há também uma outra personagem feminina importante, Eco (Maya Lopez). Surda e aqui na minissérie também ela usa uma prótese na perna (uma novidade, em comparação com os quadrinhos), ela é uma protegida de Fisk, embora não saiba que o Rei do Crime é responsável pela morte de seu pai. No futuro teremos uma minissérie dedicada à personagem, mas há em GAVIÃO ARQUEIRO um episódio que já apresenta um pouco seu passado. Infelizmente trata-se de uma personagem que não se desenvolve bem na conclusão da minissérie. Mas talvez não tenha havido tempo hábil para dar conta de tantas coisas, já que há ainda os casos envolvendo a personagem da mãe de Kate (Vera Farmiga), do Espadachim, do capanga do Rei e aqueles mafiosos meio toscos apresentados para, talvez, dar um ar mais leve à obra. Afinal, trata-se da minissérie de Natal da Marvel.

Entre prós e contras, diria que o resultado foi positivo.

+ DOIS FILMES

007 - SEM TEMPO PARA MORRER (No Time to Die)

E a despedida de Daniel Craig na pele de James Bond foi de fato surpreendente. Mas foi também um exemplar de um cinema de ação burocrático nos quesitos ação e espionagem típicos da franquia e sem muita competência quando a intenção é explorar os sentimentos do agente pela personagem de Léa Seydoux (que está de fato encantadora). Em alguns momentos 007 - SEM TEMPO PARA MORRER (2021), de Cary Joji Fukunaga, parece videogame, principalmente nas cenas em que Bond atira em um espaço quase escuro, enquanto aparecem mais e mais inimigos pelo caminho. A trama é ok e diria que seria mais interessante se o filme não fosse tão longo. Mas acho que queriam fazer algo grandioso e o momento (de despedida) talvez fosse propício. O que valeu bastante nessa fase de Craig (uma das melhores) foi a presença de um Bond mais humano, menos mulherengo (até porque os novos tempos não permitem) e capaz de se apaixonar pelas mulheres que aparecem pelo caminho, casos de Vesper, em 007 – CASSINO ROYALE, e de Madeleine, em 007 CONTRA SPECTRE e neste. Gosto também do grau de dramaticidade que essa nova era trouxe, mas que aqui me pareceu incapaz de emocionar.

A NOITE DO FOGO (Noche de Fuego)

Ando bem desatualizado com o que está acontecendo no México, mas, a julgar por alguns filmes recentes vistos sobre a situação do país, há uma questão política bem complicada. De todo modo, como A NOITE DO FOGO (2021), de Tatiana Huezo, é narrado pelos olhos da menina Ana, que não sabe muito bem o que está acontecendo, compartilhamos de sua angústia, de sua inquietação e do fato de não compreendermos o que ocorre naquele mundo de adultos. O que se sabe é que meninas estão desaparecendo, que há um cartel que domina aquela região de plantação de papoulas e que os professores da escola são agredidos ou silenciados. Tive um pouco de dificuldade de me conectar com o filme, mas muitas imagens me ganharam, de uma beleza plástica admirável. A NOITE DO FOGO é o representante do México para o Oscar na categoria de filme internacional e está presente na shortlist.

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