No início dos anos 2000, o nome de Alexandre Aja foi celebrado como um dos expoentes de um vindouro novo cinema de horror produzido na França. Tal foi o rebuliço que causou o seu ALTA TENSÃO (2003), que trazia alguns elementos de violência gráfica que seriam bastante característicos daquela década, que trouxe exemplares extremos como A INVASORA, de Alexandre Bustillo e Julien Maury; EM MINHA PELE, de Marina de Van; MÁRTIRES, de Pascal Laugier; (A) FRONTEIRA, de Xavier Gens; e, por que não?, IRREVERSÍVEL, de Gaspar Noé, e DESEJO E OBSESSÃO, de Claire Denis.
Aja foi logo acolhido por Hollywood e seu primeiro filme nos Estados Unidos também foi bem recebido, embora fosse um remake de um clássico, VIAGEM MALDITA (2006). Pena que seus trabalhos seguintes não foram assim tão inspirados. ESPELHOS DO MEDO (2008) é bem esquecível; o remake PIRANHA 3D (2010) tem um interessante tom de comédia; e os posteriores, AMALDIÇOADO (2013) e A NONA VIDA DE LOUIS DRAX (2016), praticamente passaram batidos. Ou seja, nos Estados Unidos, Aja ganhou a fama de só ter tido sucesso com duas refilmagens.
Por isso seu nome deixou de ser tão importante agora, quando surge com o novo trabalho. PREDADORES ASSASSINOS (2019) é vendido com o nome de Sam Raimi, um tanto afastado da direção há alguns anos e agora assumindo mais a cadeira de produtor. O que temos neste novo filme de Aja é uma obra bem despretensiosa sobre uma garota que tenta salvar o pai de uma tempestade, mas tem mesmo é que salvar a ele e a si mesma de dois jacarés enormes que estão no porão da velha casa da família.
As questões familiares são poucos exploradas. Apenas o suficiente para que saibamos da ligação de proximidade entre Haley (Kaya Scodelario, que parece estar se "especializando" em filmes de gênero) e seu pai, Dave (Barry Pepper). Interessante notar que ambos estiveram na franquia MAZE RUNNER. Esse pode ter sido um dos motivos da reunião da dupla nesta difícil luta contra dois animais imensos e ávidos por carne e sangue.
O filme tem o mérito não só de nos manter tensos e na torcida pela salvação dos heróis, quanto pela criatividade em trazer tentativas dos personagens de lidarem com essa situação desesperadora. Não bastasse o fato de eles estarem feridos e incomunicáveis com a cidade, o nível da água está subindo e o tempo que lhes resta é muito pouco para ficarem simplesmente esperando a tempestade passar.
Como filmar na água é por si só uma tarefa complicada para qualquer cineasta, há que se dar o devido crédito a Aja, que leva seus heróis a situações bem intensas e até mesmo apavorantes. Outra coisa positiva é que o diretor não queria fazer um filme sobre jacarés tornados gigantes através de radiação ou coisa do tipo. Ou muito menos jacarés girando dentro de um tornado (para citar a franquia trash SHARKNADO). Isso faz com que seu trabalho fique mais próximo do realismo e muito mais fácil de ser comprado pelo espectador.
+ TRÊS FILMES
GODZILLA II - REI DOS MONSTROS (Godzilla - King of the Monsters)
Mais uma superprodução que é um desperdício de tudo: do talento de seus atores, do dinheiro gasto e também de nosso tempo na sala escura. Logo o tempo, o mais precioso dos bens. Mas, enfim, cinema é risco também e eu tinha gostado do primeiro GODZILLA. Este aqui é fraco em tudo: tanto no desenvolvimento dos personagens, quanto na idealização e luta dos monstros, quanto na falta de uma história minimamente interessante (já que a direção também não ajuda). É possível que haja público interessado e até entusiasmado, mas para isso é preciso comprar o filme desde o início, já que o filme parece não querer ganhar o espectador em nenhum momento. A primeira cena do Godzilla é para ser algo épico, mas é só mais um monstro em CGI que ninguém (ou pouca gente) liga. Direção: Michael Dougherty. Ano: 2019.
BRIGHTBURN - FILHO DAS TREVAS (Brightburn)
Muito bom quando vemos um filme de terror com tal domínio de narrativa e inteligente ao reinventar a origem do Superman: o que aconteceria se o garoto que caiu na Terra fosse poderoso e também muito malvado? BRIGHTBURN é envolvente e parece um exemplar raro de filme de terror de qualidade estreando em nosso circuito. Fiquei até curioso para ver o longa anterior do diretor, A COLMEIA (2014), que deve ter estreado só em algum canal de streaming e quase ninguém deve ter visto. Direção: David Yarovesky. Ano: 2019.
OPERAÇÃO OVERLORD (Overlord)
Não vi em IMAX, mas acho que vale ver sim, para melhorar a experiência. Foi um dos filmes recentes que mais me surpreendeu positivamente. O trailer não me pareceu nada atraente. Quando vi estava dentro de um drama de guerra intenso que descamba para um horror com gore e tudo. E é um filme que não se prejudica com os seus excessos. Muito bom! As cenas iniciais no avião são tão boas, que lembram as cenas de aviação dos filmes dos anos 30. Direção: Julius Avery. Ano: 2018.
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