quarta-feira, setembro 25, 2019

15 CURTAS BRASILEIROS



O HOMEM NA CAIXA

Belo conto de horror sobre um mágico que, por um infortúnio, vai preso. Dizer mais do filme pode estragar as surpresas. Os diretores conseguem criar um interesse pelo personagem e pelo seu destino a todo instante. No começo, pensei se tratar de um drama político, depois fui vendo que se tratava de outra coisa. A animação é simples, mas realista, e com efeitos de movimento muito eficientes. O final fecha tudo com chave de ouro, lembrando, por alguma razão, algum conto de Poe. Direção: Alvaro Furloni, Ale Borges e Guilherme Gehr. Ano: 2018.

PLANTAE

Animação em tons épicos e sem nenhum diálogo sobre a repercussão fantástica de uma árvore que acabou de ser cortada frente ao homem responsável pelo ato. Podia funcionar como um belo libelo a favor da natureza, mas acabei não vendo muita graça, por mais que haja beleza na arte desenhada e na música utilizada para enfatizar o aspecto espiritual da árvore. Direção: Guilherme Gehr. Ano: 2018.

LÉ COM CRÉ

Animação lindinha e muito inteligente que traz depoimentos reais de crianças sobre determinados temas, sendo que elas são substituídas em imagens por bonecos (um elefante, uma criança, um adulto etc.). Adoro a maneira poética como a criança descreve certas coisas, como o dinheiro, o medo, e a diferença entre meninos e meninas, exatamente os temas abordados no curto espaço de tempo de LÉ COM CRÉ. Bem que podia ser um pouco maior na duração. Direção: Cassandra Rios. Ano: 2018.

ORAÇÃO AO CADÁVER DESCONHECIDO

Muito interessante esta incursão na ficção científica dentro de uma trama com clima de sonho. Há algo entre a primeira e a última semana que me pareceu fora de lugar, mas que talvez por isso tenha feito com que o filme tenha um caráter enigmático para mim. Fiquei impressionado com os efeitos visuais para um filme de orçamento muito limitado. Direção: Sávio Fernandes. Ano: 2019.

MARCO

Antes de mais nada, fiquei impressionado com a atriz principal do filme, que até já conhecia de um filme do Leonardo Mouramateus, se não me engano. Aqui ela é uma jovem mulher que volta à sua cidade natal por um motivo muito especial. Antes de chegar lá, o filme a mostra passando em um bar, andando com uma amiga, conversando com um tio, saindo com os amigos, para só entrar na questão do drama familiar. Que fica um tanto confuso no final, mas o que temos é um conjunto de belas cenas. Direção: Sara Benvenuto. Ano: 2019.

O TEMPO DO OLHAR E O OLHAR NO TEMPO

Samuel Brasileiro já havia mostrado em outros filmes, pelo menos os que eu vi, como no coletivo O ANIMAL SONHADO (2015) e o curta BIQUÍNI PARAÍSO (2015), que tem domínio da linguagem narrativa mais convencional, por assim dizer. Aqui o que temos é um trabalho mais experimental, com a presença da avó e de fotos sendo descritas. Basicamente é isso, mas há algo de muito poético no modo como ele dispõe as imagens e a fala. Ano: 2019.

MARIE

Alguém banque logo um longa-metragem para Leo Tabosa. Tudo neste filme é tão profissional e bonito e intenso que eu fiquei maravilhado. Ele teve a sorte de trabalhar antes, no curta NOVA YORK, com Hermila Guedes. Aqui é com Rômulo Braga, um baita ator. A história envolve dois amigos de infância que viajam para enterrar um senhor idoso em longo trajeto. Um deles passou pela transição de gênero e agora se chama Marie. O filme é composto por umas seis ou sete cenas, mas é impressionante como cada uma é disposta de maneira elegante, com um enquadramento específico com câmera parada, a fotografia deslumbrante de Petrus Cariry e a intensidade dramática. Há uma em especial que me deixou muito arrepiada. É o tipo de filme que a gente lamenta não ser visto por mais pessoas, justamente por ser um curta. A atriz transgênero Wallie Ruy é sensacional! Ano: 2019. (Foto)

RUA AUGUSTA, 1029

Interessante como este filme nos coloca dentro de um cenário de ocupação, tendo a polícia no encalço, parecendo ser muito real e transitando ora pela linguagem do documentário, ora pela dos filmes de found footage (se é que foi essa a intenção ou foi algo acidental). O filme é bem conciso, mas reflete um mês em que houve uma forte ocupação de prédios em São Paulo, durante o ano de 2015. Em um cenário político em que os empresários e a elite são os donos de tudo, inclusive da verdade, é preciso lembrar que a moradia é um direito de todos. Direção: Mirrah Iañez. Ano: 2019.

O GRANDE AMOR DE UM LOBO

O filme que mais alegrou o público no festival por conta de seu jeito moleque de contar a história de um garoto que quer ser cineasta e conta exatamente como será seu filme. Há muita inteligência em usar tanto o humor quanto os poucos recursos para que haja um resultado mais do que satisfatório. A história se passa no município de São Miguel do Gostoso, lugar paradisíaco que tem uma estreia ligação com a história do Diário de um Cinéfilo. Curiosamente, o produtor do filme é Eugenio Puppo, que deve ter ajudado os jovens talentos lá da cidade para a materialização desta obra. Direção: Adrianderson Barbosa e Kennel Rógis. Ano: 2019.

ILHAS DE CALOR

Filme simpático sobre grupo de estudantes de uma escola de Viçosa, uma cidade do interior de Alagoas. O filme traz tanto a realidade de uma sala de aula, sempre um tanto complicada para quem é professor, tendo que lidar com agente da ordem para dirimir o caos, mas há principalmente a liberdade dos estudantes fora da sala de aula, mas dentro das dependências da escola, seja para brincar, seja para namorar. O personagem Fabrício inicia e finaliza o filme. É seu o ponto de vista mais explorado. Direção: Ulisses Arthur. Ano: 2019.

POP RITUAL

Mais uma vez Mozart Freire dá uma aula de filme caprichado na direção de arte. Este aqui talvez seja o seu trabalho mais bem acabado até o momento. O que vemos é um padre que prende um vampiro em uma cama para utilizar de seu sangue. Há ecos de NOSFERATU pela aparência do rapaz que faz o vampiro, mas há quem vá se lembrar de A FORMA DA ÁGUA também. É um filme que se sustenta apenas com as imagens, sem a necessidade de diálogos, e ainda consegue passar uma mensagem política dentro desse cinema de gênero. Ano: 2019.

EU, MINHA MÃE E WALLACE

Filme muito bonito, todo pautado nos silêncios, nos olhares, nos diálogos curtos, na tensão entre os personagens a partir da chegada de um rapaz que esteve distante de todos (Fabricio Boliveira). Não há trilha sonora, e os olhos são todos muito discretos e simples, mas a carga emocional que o filme é capaz de passar é impressionante. Direção: Irmãos Carvalho. Ano: 2018.

COPACABANA-AUSCHWITZ

Filmes sobre o holocausto sempre me doem muito, pois lembramos o quão baixo o ser humano é capaz de chegar em termos de maldade. Este curta aqui é narrado por um sobrevivente dos campos de concentração e o diretor opta por um registro mais de imagens da natureza, opondo o céu azul do Brasil com o céu cinza da Alemanha no inverno dos anos 40. A simplicidade está mais a favor do que contra o filme, mas ainda assim, eu esperava me emocionar mais. Porém, sei que o problema pode ser comigo, que ando com a sensibilidade um pouco alterada. Direção: Jaiê Saavedra. Ano: 2018.

NOIR BLUE - DESLOCAMENTOS DE UMA DANÇA

Um filme que teve um hype bem grande entre o circuito mais fechado de cinéfilos. Eu particularmente gosto mais do filme graças à voz doce da diretora, que fala sem pressa de sua ida à África em busca de suas origens, do quanto ela tem em comum, como brasileira negra, com aquele continente tão receptivo e alegre. São as palavras dela que dão o tom de prazer do doc, mais do que as imagens. E é isso que me incomoda um pouco. Se bem que, como eu sou um apreciador forte das palavras, então, está valendo. Direção: Ana Pi. Ano: 2018.

A PRIMEIRA FOTO

O filme faz parte de uma leva de obras afetivas e familiares que lidam com a questão da ausência/presença de alguém. O diretor (ou eu lírico), que foi rejeitado pelo pai, assume o avô como verdadeiro pai e o que vemos é uma bonita homenagem a um homem. Há o recurso da fala suave presente em outros trabalhos do tipo (inclusive em NO INTENSO AGORA, do João Moreira Salles) e aqui das imagens esmaecidas ou desgastadas pelo tempo. Achei que poderia ser de menor duração, mas entendo e respeito o tempo e a necessidade do artista. Direção: Tiago Pedro. Ano: 2018.

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