sábado, janeiro 04, 2014

THE CANYONS























Já fazia um tempão que não via um filme de Paul Schrader. Ele, que foi um cineasta de prestígio em décadas passadas, além do reconhecimento como grande roteirista, hoje vive um momento em que seus trabalhos se situam cada vez mais à margem dos principais lançamentos. O último filme que vi dele foi MINHA PARA SEMPRE (1999), que não é exatamente um de seus melhores exemplares. Depois deste filme, Schrader ainda dirigiu mais quatro, antes de THE CANYONS (2013), que pelo visto terá o mesmo destino dos anteriores. Ou seja, lançado direto em vídeo ou apenas na televisão.

Curiosamente, THE CANYONS é outro projeto que não foi assim tão bem recebido, mas que tem os seus admiradores. Há fatores que fazem com que seja um filme no mínimo atraente: primeiro, tem a Lindsay Lohan em cenas de sexo. Ainda que ela esteja decadente por causa do vício nas drogas, a moça ainda tem poder de sedução. Uma pena que tenha trilhado um caminho tão tortuoso e autodestrutivo. Segundo, o filme é baseado em um roteiro de Bret Easton Ellis, autor dos romances que deram origem a ABAIXO DE ZERO (1987), PSICOPATA AMERICANO (2000) e REGRAS DA ATRAÇÃO (2002). Todos, no mínimo, interessantes.

Uma das coisas que chama a atenção logo no início do filme é a apresentação de cinemas de rua fechados e abandonados, dando a entender que se trata de mais uma obra a discutir a chamada "morte do cinema", ou pelo menos do cinema como o conhecemos. Em vez disso, os filmes que interessam para um de seus protagonistas, Christian (o ator pornô James Deen), são vídeos pornográficos feitos por ele mesmo em que outros homens transam com sua mulher, Tara (Lindsay Lohan).

A psicopatia e o clima oitentista, tão presentes em PSICOPATA AMERICANO, também aparecem em THE CANYONS, já que Christian, o personagem de Deen, apesar de parecer muito liberal no que se refere ao relacionamento com a esposa, mostra-se bastante ciumento ao desconfiar que ela tem alguma relação com o jovem ator que ele contratou, Ryan, vivido por Nolan Gerard Funk.

E de fato Tara teve um romance com Ryan antes de conhecê-lo. Foi num momento em que ambos viviam atrás de pequenos papeis em Los Angeles, com dificuldades até de pagar o aluguel. Tara é uma personagem autodestrutiva, que aceita as perversões sexuais e o comportamento de Christian, mas que tem sua vida balançada quando vê novamente Ryan.

Pena que o filme perca os trilhos ao longo da narrativa, que começa bem envolvente. A impressão que dá é que o roteirista não sabia muito bem o que fazer com os personagens. Há neles potencial para uma boa condução, mas não é isso que acontece. Mesmo assim, o filme tem uma beleza plástica que remete a alguns dos melhores trabalhos de Schrader, como GIGOLÔ AMERICANO (1980) e MISHIMA: UMA VIDA EM QUATRO TEMPOS (1985), para citar dois casos em que a direção de arte e a fotografia são de fato impressionantes.

Mesmo com todos os deslizes, THE CANYONS reacendeu em mim a vontade de ver e rever a obra de Paul Schrader, um cineasta que, sem dúvida, merece mais atenção e reconhecimento.

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