sexta-feira, janeiro 03, 2014
FROZEN – UMA AVENTURA CONGELANTE (Frozen)
A influência de John Lasseter na Disney veio para ficar desde o momento em que a produtora do Mickey resolveu distribuir TOY STORY (1995), da Pixar. Hoje, com a compra definitiva da Pixar pela Disney e a criação do novo Walt Disney Animated Studios, os laços entre as duas companhias se estreitaram no que se referem também ao estilo de animação. Houve, por exemplo, uma espécie de troca quando a Pixar produziu uma história de princesas em filme de época – VALENTE (2012) –, enquanto a Disney produziu um filme sobre um personagem de videogame que se revolta com sua rotina e com o modo como é visto e discriminado – DETONA RALPH (2012).
Depois do filme que se passa no mundo dos videogames oitentistas, a Disney resolveu voltar às tradições com FROZEN – UMA AVENTURA CONGELANTE (2013), de Chris Buck e Jennifer Lee, com direito a várias sequências musicais, como nas animações clássicas. Inclusive, apesar de a dublagem brasileira para essas animações ser tradicionalmente caprichada, fica sempre no ar uma vontade de ouvir as canções na versão original, coisa que cada vez tem sido mais difícil devido à quase nula distribuição de cópias legendadas de animações no país. Ainda assim, as versões são bonitas e nada chatas.
Ao contrário, uma delas tem um papel muito importante ao mostrar a passagem do tempo entre as duas irmãs, Anna e Elsa, princesas de um reino próspero. Devido a uma maldição que envolve Elsa (ela é capaz de fazer congelar tudo ao redor), Anna é privada de sua companhia durante muitos anos. Aliás, ainda que Anna seja a protagonista e a personagem mais simpática – depois do boneco de neve Olaf –, Elsa é a personagem mais fascinante, pela sua caracterização trágica. Ela é atormentada por não poder ter a companhia de ninguém, nem conseguir controlar seus poderes, que acabam trazendo muita tristeza para toda a região. E isso faz com que ela seja não uma vilã, mas uma vítima. Essa é uma mudança bem importante nesta adaptação da história clássica de Hans Christian Anderson, "A Rainha da Neve".
Assim, o filme praticamente não tem vilões, o que faz com que ele fuja do lugar comum das principais histórias, que muitas vezes pecam por possuírem vilões chatos e enfadonhos. Aqui, quando o vilão mostra a cara, nem dá tempo de ter raiva dele. Curioso como o filme é centrado no amor como elemento essencial para o fim de todos os males, inclusive uma maldição desse tipo. E esse amor está presente em todos os personagens, inclusive no já citado boneco de neve (dublado muito bem pelo Fábio Porchat) e pela rena Sven, além, claro, do rapaz que ajuda Anna em sua jornada em busca da irmã, o vendedor de gelo desempregado Hans.
O trabalho de animação e direção de arte é belíssimo e mostra o quanto vale a pena ver as produções dos dois melhores estúdios de animação americanos da atualidade, a Disney e a Pixar. Os demais sempre ficam atrás, tanto nos aspectos técnicos quanto na construção de enredos e personagens. No caso de FROZEN, a cena da construção do castelo de neve por Elsa é especialmente bela.
Mas o que consegue ser ainda melhor é o curta que antecede o longa-metragem. Trata-se de uma homenagem aos 85 anos do camundongo Mickey e ao primeiro curta em que ele apareceu, O VAPOR WILLIE (1928). Para tornar o trabalho ainda mais admirável, os realizadores recuperaram a voz do próprio Walt Disney dublando o Mickey, tornando HORA DE VIAJAR! (2013), de Lauren MacMullan, um dos melhores curtas animados dos últimos anos. O pequeno filme traz Mickey, Minnie e o Bafo de Onça em situações divertidas. Além de emular o estilo de animação da época (preto e branco e tela quadrada), há uma brincadeira metalinguística deliciosa e que faz com que a apreciação deste curta seja ainda melhor se visto em 3D. Eis um caso em que essa tecnologia se mostra importante para que nossos sorrisos se amplifiquem.
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