sexta-feira, janeiro 24, 2014
AMOR BANDIDO (Mud)
Que filme lindo este AMOR BANDIDO (2012). Que, aliás, merecia um título brasileiro mais decente. De todo modo, o que importa é o filme e não o que nomeiam por aqui. E o terceiro trabalho de Jeff Nichols só mostra o quanto este cineasta tem evoluído desde SHOTGUN STORIES (2007), sobre uma briga entre famílias de irmãos, e o aclamado O ABRIGO (2011), que flerta com o cinema fantástico. O elemento em comum entre os três filmes é o homem e a natureza. Todos se passam em regiões do interior dos Estados Unidos, nunca em cidades. No caso de AMOR BANDIDO, o lugar é situado no Arkansas, estado-natal do diretor.
Por mais que Matthew McConaughey esteja em uma fase espetacular e este filme seja mais uma prova disso, AMOR BANDIDO não seria o que é sem a presença dos dois garotos que entram em contato com seu personagem, o misterioso Mud, um homem que está vivendo numa ilha do outro lado do Rio Mississipi, perto de onde eles moram. Os meninos, Ellis (Tye Sheridan) e Neckbone (Jacob Lofland), encontram um barco preso em uma árvore, mas logo descobrem que alguém está morando no barco. No caso, Mud. O sujeito se mostra amigável, apesar da arma que carrega consigo.
Dos dois meninos, o que mais dá um show no filme é Ellis. E o filme é principalmente sobre sua visão de mundo, da perda da inocência. Ao acreditar que pode ajudar o foragido da polícia Mud a encontrar sua cara-metade Juniper (Reese Whitherspoon) e fazer com que os dois fiquem juntos novamente, Ellis tem fé no amor. Do mesmo jeito que também acredita que a garota por quem está apaixonado é sua namorada, mesmo tendo estado com ela apenas uma vez e ela ser mais velha que ele.
Quem foi garoto e nunca passou por situação similar, de se apaixonar por uma garota ou mesmo por uma mulher mais velha? Logo, é fácil se colocar nos sapatos de Ellis. E uma vez que fazemos isso, torna-se doloroso vê-lo conhecendo o desencanto, quando encontra Juniper com outro cara. Aquela cena é como uma facada no peito, que é posteriormente passada para o peito de Mud. Mesmo sendo homem feito e tendo passado por situações semelhantes na vida, inclusive com a mesma mulher, ainda sofre, pois é um sonhador.
Toda essa situação de perigo dos garotos, de terem apenas 14 anos e já se mostrarem corajosos diante de tudo que a vida traz, de experimentar o amor e a dor, é a alma do filme. Mas a geografia também faz a sua parte. Se fosse um filme urbano raramente teria a mesma força. Todo aquele ambiente fora do comum, com os barcos, pessoas vivendo de ferro-velho, casas à beira do rio etc., é essencial para que as questões humanas se confundam com a natureza selvagem.
Michael Shannon, o protagonista dos dois primeiros trabalhos de Nichols e que também marcará presença no próximo, aparece aqui apenas como coadjuvante. Ele é o tio de um dos garotos. Um tio que age com amor com o menino. Aliás, as questões familiares também são importantes para o filme. Tanto em relação a Mud e Tom (o personagem de Sam Shepard), quanto com relação à família dos garotos e a família do homem que foi assassinado por Mud. Esse elemento familiar já se manifestava fortemente em SHOTGUN STORIES e em AMOR BANDIDO é parte importante da trama. É, certamente, o filme mais emotivo e afetivo de Nichols até o momento. E vejo isso como um elogio.
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