quinta-feira, maio 23, 2013

GIOVANNI IMPROTTA























Às vezes a boa vontade e o otimismo quanto aos filmes que entram em cartaz faz com que encaremos uma obra como esta, que é ruim na mesma proporção que tem atores e atrizes talentosos no elenco. Aliás, não consigo lembrar de outro filme cujo elenco tenha sido tão mal aproveitado quanto neste GIOVANNI IMPROTTA (2013), estreia na direção de longas para cinema de José Wilker. É como se víssemos um grupo de grandes intérpretes da televisão e do cinema cometendo um crime. O que, metaforicamente e hiperbolicamente, não deixa de ser verdade.

O personagem Giovanni Improtta surgiu no livro de Aguinaldo Silva, O Homem Que Comprou o Rio, lançado nos anos 70. E o autor resolveu utilizá-lo na novela SENHORA DO DESTINO (2004-2005), que acabou fazendo bastante sucesso junto ao público. Uma das características do personagem é a sua tendência a procurar palavras mais difíceis e acabar dizendo-as erroneamente. Há também um mau uso dos pronomes pessoais, que serve para provocar risadas na plateia. Ou pelo menos deveria. Infelizmente o máximo que consegue são algumas risadas de muita boa vontade por parte de alguns espectadores.

No filme (e também no romance), o personagem é um bicheiro, um contraventor, como ele mesmo se proclama, orgulhoso por não ser um criminoso e não precisar fugir da polícia. Seria até um personagem que poderia render um bom filme, se tivesse um roteiro bom ou se Wilker tivesse timing para comédia. Mas talvez o principal problema seja mesmo o roteiro, assinado por Mariana Vielmond, filha de Wilker. E nisso vale destacar o quanto Andréa Beltrão se sai bem como a esposa de Improtta, trazendo uma personagem que se torna dissonante com o filme. Um caso de extremo profissionalismo da atriz, uma das melhores e mais subestimadas da televisão e do cinema brasileiros.

No mais, há grandes nomes veteranos do cinema (e da tevê) que têm um passado glorioso, mas que resolveram se submeter a esta roubada. Nomes como Hugo Carvana, Milton Gonçalves, Othon Bastos, Paulo Goulart, além de nomes novos como os de Gregório Duvivier e André Mattos e a participação do humorista e apresentador Jô Soares.

Wilker disse que não quis fazer uma comédia com uma "crítica social sisuda, carrancuda", mas com um tom mais leve. Acaba sendo tão insignificante e medíocre que só critica mesmo os evangélicos, já suficientemente escrachados em tantos programas e redes sociais. O pastor evangélico vivido por Thelmo Fernandes, inclusive, até por usar algumas palavras supostamente tiradas da Bíblia, teria um bom potencial para ser um personagem divertido.

Além do mais, o filme tem um ar antiquado (bicheiro deixou de ser holofote para a imprensa, não?), mas não chega a ser esse o problema, já que o próprio Hugo Carvana faz comédias antiquadas, mas ainda assim bem dignas. José Wilker, se quiser provar sua força como diretor numa outra oportunidade, precisa pensar melhor para não repetir os mesmos erros. E Cacá Diegues, o produtor, ao insistir que Wilker dirigisse, parece que queria fugir de mais um filme ruim em seu currículo.

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