sexta-feira, junho 19, 2009

LABIRINTO DE PAIXÕES (Laberinto de Pasiones)



Sinto que minhas lembranças dos filmes de Pedro Almodóvar estão ficando meio turvas. Trata-se de um cineasta de quem acompanho a carreira no cinema há bastante tempo. Por isso está sendo muito bom ter a chance de ver obras que ainda não vi e poder rever algumas outras, sob outra ótica, quase como se fosse a primeira vez, seguindo a leitura do livro "Conversas com Almodóvar", de Frederic Strauss. Assim, chego a LABIRINTO DE PAIXÕES (1982), segundo longa-metragem do diretor e até então inédito para mim. Como fiquei bem entusiamado com o espírito punk e anárquico de PEPI, LUCI BOM E OUTRAS GAROTAS DE MONTÃO (1980), decepcionei-me um pouco com uma maior "domesticação" no segundo trabalho de Almodóvar. Também percebi que é um filme que tem personagens demais e passa a impressão de que o diretor não conseguiu dar conta de tanto personagem. Ainda assim é um filme que tem momentos bem engraçados e que segue o espírito da obra anterior. A simpatia pelo filme já começa pela protagonista, que é uma atriz que eu adoro: a argentina Cecilia Roth. Ela já havia aparecido no filme anterior de Almodóvar, mas num papel bem menor, de apresentadora de televisão.

O início do filme já mostra a tara da personagem por homens. Enquanto ela passeia pelas ruas de Madri, vemos closes das pélvis dos transeuntes. Sua personagem, indo até um consultório de uma terapeuta, comenta que sofre de fotofobia. Não deixa de ser curioso esse detalhe, já que o próprio Almodóvar confessou sofrer desse mal. Quem também é motivo de interesse no filme é o jovem Antonio Banderas, que se tornaria o mais famoso ator espanhol do mundo, apesar de sua carreira atualmente em Hollywood não estar tão bem. Hoje, Javier Bardem, que também já trabalhou com Almodóvar (em CARNE TRÊMULA, 1997), é que é o grande astro espanhol da atualidade. De todo modo, Banderas deve muito de sua fama internacional a Almodóvar, com quem ainda faria mais quatro filmes.

LABIRINTO DE PAIXÕES foi um filme que teve menos apoio da crítica e mais sucesso de público que o anterior. O que é compreensível, já que é um filme menos ácido, um pouco mais comportado e com cenas mais engraçadas, como as piadas envolvendo flatulências - a cena do elevador é de provocar boas gargalhadas. Inclusive, pode-se dizer que as cenas mais engraçadas são justamente dos coadjuvantes. Como a série de sequências que mostram a jovem que é constantemente abusada sexualmente por seu próprio pai, que ficou perturbado com a fuga da esposa e toma remédios para aumentar a libido e pensa que a filha é a esposa desaparecida.

A trama principal gira em torno de Sexilia (Cecilia Roth), a ninfomaníaca que se apaixona pelo filho do imperador de Tirão (acredito eu, um país fictício), que não por acaso é homossexual. Perto do fim do filme, um flashback explicativo e em tom de deboche vai mostrar a razão pelo qual tanto Sexilia quanto o filho do imperador se tornaram, respectivamente, ninfomaníaca e homossexual. Pareceu-me uma solução um tanto contraditória e estranha para um cineasta tão abertamente gay quanto Almodóvar procurar origens traumáticas para mostrar porque um garoto se torna homossexual e porque uma mulher é tão obcecada por sexo, quando a tendência hoje é acreditar que esse tipo de quadro vem da própria genética, já nasce com a pessoa. Mas não deixa de ser mais um dado a se refletir sobre a personalidade do diretor impressa em seus filmes.

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