segunda-feira, junho 01, 2009

ELAS CANTAM ROBERTO



Apesar de a Globo ter feito a "gentileza" de não exibir o especial ELAS CANTAM ROBERTO integralmente - faltaram as apresentações de Adriana Calcanhoto, Marina Lima e Paula Toller, só pra ficar entre as favoritas da casa -, não posso passar em branco o evento, uma das mais bonitas homenagens que já fizeram a um cantor ainda em vida. Mesmo aqueles que não curtem Roberto Carlos não devem deixar de conferir a performance assombrosa, magistral de Marília Pêra, interpretando, "120...150...200 Km por hora" (1970). Marília mostra o que uma grande atriz é capaz. Ela se apresentou toda de preto. E as cortinas pretas e o tom dramático e até aterrorizante que ela imprimiu à canção fez tremer as bases do Theatro Municipal de São Paulo. Há que se dar crédito também à sua coragem de interpretar a canção num registro próximo do exagerado, como se saída de um filme de Pedro Almodóvar. Todas as palavras das sequências faladas da canção são pronunciadas por Marília como se cada palavra fosse muito importante. Como num filme de Tarkovski, onde cada imagem é fundamental. Seria uma versão da canção para os dias paranóicos de hoje, tal o olhar de assombramento de Marília, que sente como se estivesse de fato num carro a 200 Km por hora à noite, em alguma estrada perigosa. De arrepiar.

Boa a apresentação de Cláudia Leitte. Fiquei surpreso positivamente. Além de ela ser linda de se ver, ela cantou de olhinhos fechados uma das mais belas e sensiveis canções do Rei: "Falando sério" (1977). Ana Carolina também fez outro momento memorável com sua linda versão de "Força estranha" (1978). E olha que eu nem sou tão fã assim dessa música. Mas a mulher tem uma voz poderosa e fez da composição de Caetano Veloso algo especial. Hebe Camargo também foi outra surpresa boa. Ela, esbajando amor, resgatou em estilo old school, quase como música de seresta, "Você não sabe" (1983), faixa pouco conhecida, mas que agradou praticamente a todos. Outra canção que caiu como uma luva para sua intérprete foi "Desabafo" (1979). Fafá de Belém, com seu estilo romântico exacerbado, interpretou uma das canções de amor próprio frágil, que tão bem Roberto soube fazer. Só o começo da canção já diz tudo: "Por que me arrasto aos seus pés?".

Claro que nem tudo foi uma maravilha. A interpretação de Sandy para "As canções que você fez pra mim" (1966) foi bem fraquinha e sem graça. Parece que a menina estava preocupada demais com a técnica. E nem nisso ela se saiu bem. Quem também pareceu bem insegura foi a jovem Luiza Possi. E isso ficou ainda mais aparente, quando entrou a mãe da moça, Zizi Possi, para fazer o dueto e juntas interpretarem "Canzone per te" (1968). Outros pontos baixos da noite: "Esqueça" (1966), com Wanderléia e Daniella Mercury; e a religiosa "Todos estão surdos" (1971), com Fernanda Abreu.

Entre os momentos bons, mas que não me emocionaram: "Não se esqueça de mim" (1977), com Nana Caymmi e belo arranjo de violão; e "Sua estupidez" (1969), que ficou a cara da Alcione, parecendo uma canção do repertório dela. Não achei ruim as duas canções interpretadas por Ivete Sangalo: "Os seus botões" (1976) e "Olha" (1975). E ela teve o privilégio de abrir e fechar o especial, convidando no final o Rei em pessoa para interpretar "Emoções" (1981) e depois fechar o espetáculo com chave de ouro com todas as divas cantando junto com ele a maravilhosa "Como é grande o meu amor por você" (1967). Difícil não emitir um sorriso de satisfação com esse momento de alegria e puro amor. É nesses momentos que se percebe que a música pode mesmo fazer do mundo um lugar melhor, elevando nossa sintonia espiritual. Parabéns ao Rei por seus cinquenta anos de carreira. E vamos aguardar a chegada do DVD, que contará com o show integral.

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