terça-feira, março 10, 2009

THE MINDSCAPE OF ALAN MOORE





















Aproveitando a chegada de WATCHMEN aos cinemas, nada como ver o documentário THE MINDSCAPE OF ALAN MOORE (2003), que é basicamente uma longa entrevista com o mago/escritor - ou um monólogo, já que não aparece a figura do entrevistador. Para quem tem interesse nos aspectos mais mágicos da vida do escritor, ele expõe detalhes de suas crenças e de seus interesses, embora eu tenha achado um pouco confusas as partes que falam de esoterismo, já que ele fala do assunto de forma geral e muito rapidamente. É algo mais fácil de se apreender para quem já tem alguma iniciação em coisas como a cabala ou o tarot. Algumas frases de efeito são ditas sobre o assunto, como quando Moore diz que se deve ter cuidado quando você fica dizendo por aí que você é um mago, pois um dia você pode acordar e perceber que é realmente um. Por outro lado, ele frustra um pouco as expectativas de quem quer saber mais detalhes sobre seus conhecimentos de magia, ao dizer que a arte é uma forma de magia, fazendo interessantes comparações linguísticas, como a palavra "spell", que ganha sentidos distintos na magia e na literatura. Ele também tece interessantes comentários sobre como os publicitários lidam com uma espécie de magia das palavras que leva as pessoas ao materialismo. Essas e outras ideias seriam melhor compreendidas numa revisão do documentário e principalmente através de debates e aprofundamentos sobre os assuntos.

Interessante notar que alguns artistas que recebem o título de gênio acabam tendo uma relação forte com a religião, a magia ou o esoterismo. Penso em Leonardo Da Vinci, Fernando Pessoa ou mesmo Raul Seixas. Esse aspecto da personalidade do artista o coloca numa espécie de pedestal, já que se cria uma aura de mistério, principalmente quando se põe em conjunto a excelência de suas obras. Alan Moore, com sua barba enorme, seu jeito excêntrico, sua rebeldia diante das grandes organizações (DC Comics, Hollywood), suas experiências de vida e sua obra excepcional, se enquadra nessa categoria. Nem mesmo ele sabia que se tornaria uma celebridade, já que antes dele (e de Frank Miller) o escritor de histórias em quadrinhos era um artista conhecido apenas por um pequeno nicho, que eram os fãs das obras. Aquelas pessoas que gostam, por exemplo, do Demolidor, mas que depois percebem que gostam mesmo é dos escritores que tornaram o personagem tão especial. Até me identifiquei quando Moore falou de seu primeiro contato com os quadrinhos americanos de super-herois. Sobre o quanto aqueles personagens que desafiavam as leis da física e eram capazes de feitos que um ser humano normal jamais será capaz deixaram-no fascinado.

Não é para menos que sua passagem pela DC Comics foi histórica, já que ele tinha mesmo um carinho imenso por personagens como Superman, Batman e Lanterna Verde. E fez histórias maravilhosas com esses personagens. Sem falar na passagem espetacular pelo título do Monstro do Pântano, que foi sua estreia nos quadrinhos americanos. Mesmo quando ele se desligou da DC e passou a trabalhar em editoras independentes, ele não deixou de homenagear o Superman, através de novas criações, como Tom Strong e Supremo. O documentário, aliás, não dá ênfase à briga dele com a editora. Ele deve ter as suas razões e apesar de muitos elegerem "Watchmen" como sua obra máxima, pra mim, foi com "Do Inferno" que ele alcançou o máximo de sua genialidade, com seu esforço e detalhismo ao descrever não apenas o mistério em torno de Jack, o Estripador, mas de oferecer um contexto da Inglaterra vitoriana como um todo, não faltando espaço para nos ensinar até detalhes relacionados à maçonaria.

O documentário também conta um pouco sobre a infância turbulenta de Moore, da cidade do interior onde ele nasceu, da escola em que frequentou e de sua indisciplina, levando à expulsão e a um dificuldade de encontrar empregos "normais". Sua salvação profissional se deu através dos quadrinhos. Se ele não sabia desenhar, ele compensou isso com uma inteligência na criação de ideias, enredos e conceitos. Era só encontrar um desenhista com quem ele quisesse trabalhar e a mágica estaria pronta. O documentário não aprofunda as experiências de Moore com as drogas (dizem que foi pelo fato de ele vender LSD na escola que ele foi expulso), mas já fala de uma obra recente de Moore, a excepcional "Lost Girls", que aqui no Brasil foi lançada em encadernação de luxo em três edições. Ele fala sobre a sua intenção de criar uma obra pornográfica que fosse ao mesmo tempo inteligente, sabendo que nem sempre o cérebro, quando sexualmente estimulado, consegue pensar direito. Portanto, a arte de fazer pornografia ao mesmo tempo inteligente e excitante é coisa para poucos. No mais, o documentário, antecipa WATCHMEN - O FILME ao apresentar algumas cenas simuladas de sequências adaptadas da HQ. Há uma cena em que um sujeito interpreta Rorschach, que é o personagem da série mais fácil de se fazer uma caracterização sem a necessidade de uma grande produção.

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