terça-feira, março 31, 2009

MEU NOME É DINDI























E chega com certo atraso em Fortaleza, mas pelo menos em glorioso scope e em película, o trabalho de estreia de Bruno Safadi. Por mais que se espere uma obra anti-convencional, o filme não deixa de surpreender. E essa é uma das principais qualidades de MEU NOME É DINDI (2008), que bebe muito da fonte de Julio Bressane, lembrando em vários momentos o ótimo CLEÓPATRA. Como Safadi já foi assistente de Bressane, a aproximação é compreensível. Trata-se de um filme que tem cara de obra de estreia, com aquela vontade de ousar esteticamente, de experimentar.

A cena em que Dindi (Djin Sganzerla) e Marcão (Gustavo Falcão) acordam na praia é impregnada de uma atmosfera sombria, de pesadelo, que se torna mais evidente graças a um escurecimento repentino da fotografia, dando a impressão de estar anoitecendo (se é que não estava mesmo), aumentando o ar de opressão. A teatralidade das interpretações pode depor um pouco contra o filme, pois o exagero na expressão de Djin quando se sente acuada ou está em estado de paranoia torna sua personagem pouco convincente. Ainda assim, trata-se de um filme que deve ser louvado por fugir do lugar comum, por buscar caminhos estéticos alternativos.

O uso do plano-sequência para causar estranheza demonstra um apuro visual refinado do diretor. A cena dos avós de Dindi saindo do mar chega a ser assustadora. Mais até do que nos momentos em que Safadi se esforça para dar ao seu filme um ar de pesadelo, como nas cenas em que Carlos Mossy aparece (seria ele um personagem real ou apenas fruto da imaginação e dos traumas de Dindi?); ou numa das melhores cenas do filme, aquela em que o casal de namorados resolve assistir uma misteriosa fita VHS, o que me fez lembrar A ESTRADA PERDIDA, de David Lynch. Safadi, ainda que surpreenda, nessa sequência, está longe de conseguir fazer a plateia sentir medo como muito bem faz o cineasta americano. Por isso, MEU NOME É DINDI é um filme cujos resultados estéticos nem sempre funcionam, mas que não deixam de ser sempre interessantes, intrigantes. O próprio fato de a câmera seguir a personagem quase que o tempo inteiro causa um leve desconforto.

Na trama, Dindi é uma jovem mulher que está passando por sérios problemas financeiros e com o risco de perder a quitanda que herdou da mãe e da avó. Uma quitanda que fez história, que foi frequentada no passado por celebridades e que hoje vive em decadência por causa da concorrência com os grandes supermercados. Nota-se já a partir da sinopse que há uma romantização do passado, cheio de memórias agradáveis, em detrimento do presente, onde impera a tristeza, a paranoia e a perda. A conclusão, brusca e enigmática, deixa no ar algumas perguntas sobre as reais intenções do diretor e roteirista e sua estranha e intrigante obra.

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