domingo, agosto 03, 2008

SENTA NO MEU QUE EU ENTRO NA TUA



A vontade e a curiosidade que eu tinha de ver SENTA NO MEU QUE EU ENTRO NA TUA (1985) remonta desde o início de minha cinefilia, quando vi a capa da fita estampada numa contracapa de uma revista - não me lembro se da SET ou do Guia do Vídeo Erótico. O fato é que por alguma razão esse filme veio parar em minhas mãos, numa cópia tão boa que eu fiquei até admirado. Recebi pelo correio através de um leitor do blog, que ficou sabendo do meu interesse pelo filme e fez a gentileza de copiar do raríssimo vhs que ele tinha para um dvd-r. Maravilha.

E como já havia verificado com OH! REBUCETEIO, de Cláudio Cunha, o cinema pornô que se fazia na época da Boca do Lixo era muito mais criativo que os filmes de hoje, que contam com estrelas da televisão em queda ou modelos de sucesso de revistas masculinas que têm aceitado participar de produções pornôs pela grana que dá, como Regininha Poltergeist, Julia Paes, Tammy Gretchen, Vivi Fernandez e Marcia Imperator. O exemplo mais recente foi o de Leila Lopes, que já foi atriz da Globo e aceitou participar de um pornô desses. Mas a mulher é tão metida a besta que a entrevista que ela deu para o blog Boteco Sujo foi uma das mais engraçadas que eu já li há muito tempo. Enquanto isso, os tarados de plantão (eu, inclusive) ficam torcendo para que Nana Gouveia e Viviane Araújo aceitem participar de uma produção dessas também. Quer dizer, se por um lado, o pornô brasileiro tem a ganhar com uma melhor seleção de mulheres bonitas, por outro, falta nesses novos exemplares o senso de humor, a criatividade e até mesmo o tesão dos filmes da Boca. Acho que o único filme pornô da Boca que eu cheguei a ver no cinema foi um com a Márcia Ferro: EU, MÁRCIA F., 23 ANOS, LOUCA E DESVAIRADA, de Juan Bajon. Quer dizer, eu cheguei a pegar o finalzinho dos cinemas pornôs de rua, embora na época não soubesse separar o joio do trigo, destacando o que prestava do que não prestava. Aí era na sorte mesmo.

Ody Fraga, o diretor de SENTA NO MEU QUE EU ENTRO NA TUA, era um dos diretores mais atuantes da Boca e começou fazendo filmes softcore no final da década de 60, e, nos anos 80, com a popularização do pornô nacional, que apelava até para sexo com animais, ele entrou de cabeça no gênero, embora as cenas de sexo explícito desse filme em especial não contem com a costumeira ejaculação masculina no final. A única que o filme tem parece falsa. O filme é dividido em dois episódios que contam com idéias bem divertidas. O primeiro, "Alô, Buça", é sobre uma mulher cuja genitália começa a falar e a ter vontade própria. Os closes da vagina da mulher se mexendo, como se estivesse mesmo falando, são bem divertidos e estranhos. Nesse primeiro episódio, nota-se que a mulher vive numa casa bem liberal. Ela chega em casa e o marido está fazendo sexo com a empregada e ela fala com ele com a maior naturalidade, como se não houvesse problema algum. E ainda conta do cara com quem ela tinha feito sexo durante a tarde e de como ela ficou admirada quando a sua boceta começou a falar. O marido não acreditou até ver com os próprios olhos. A vagina passa, então, a exigir parceiros melhores, urinando naqueles que ela não aprova. Esse episódio é protagonizado pela bela Silvia Dumont mas também conta com Debora Muniz, estrela do curta-metragem recente de Dennison Ramalho, AMOR SÓ DE MÃE. Há também uma participação especial do lendário anão Chumbinho, que mais parece uma criança.

O segundo episódio, "O Unicórnio", começa com um sujeito reclamando de uma baita dor de cabeça. Em seguida, vemos uma cena de sua mulher transando com outro. A primeira coisa que vem à cabeça nessa hora é que a dor de cabeça do cara só pode ser chifre. Só que começa a crescer mesmo algo estranho na cabeça do sujeito, que no começo do filme estava tentando transar com a secretária, mas não conseguia ter uma ereção. Com o tempo, vai nascendo um cacete gigante na cabeça do homem e sua libido passa a reaparecer e a subir exponencialmente. Sem falar que as mulheres ficam loucas pelo cacete na cabeça dele. Para disfarçar e poder andar na rua, ele passa a usar uma boina. Ele vai a um médico para solucionar o seu problema, quando percebe que é uma médica. E uma médica bem safada. Aliás, quem não é safado nesse filme? Pena que o filme não tenha uma carga erótica tão forte quanto suas idéias e seu senso de humor. Talvez por tentar parecer mais uma comédia mesmo.

Ody Fraga é considerado por muitos apreciadores do cinema produzido na Boca do Lixo como um "gênio do sexo". Seu primeiro filme, VIDAS NUAS (1967), foi sucesso de bilheteria, graças às cenas de strip-tease enxertadas pelo produtor Antonio Polo Galante. A famosa sátira de Branca de Neve e os Sete Anões, HISTÓRIAS QUE NOSSAS BABÁS NÃO CONTAVAM (1979), bastante conhecida de quem tem mais de trinta anos por sua exibição na televisão, foi escrita por ele. Infelizmente, depois de vários sucessos no território exploitation, Fraga chegou ao fundo do poço quando aderiu ao pornô com animais, em seu último trabalho como diretor, MULHERES TARADAS POR ANIMAIS (1986), que era um subgênero que estava fazendo sucesso a ponto de ser exportado para o exterior. Se os alemães "arregaçavam" com o fist fucking, os brasileiros traziam mulheres transando com cachorros ou bodes ou "brincando" com cavalos. Hoje em dia esses tempos parecem tão remotos que muita gente mais jovem não faz idéia do quanto era comum ir a uma videolocadora na época (final dos anos 80, início dos 90) e dar de cara com esse tipo de fita.

Agradecimentos a Ricardo Fontes, que gentilmente me cedeu a cópia.

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