quarta-feira, agosto 06, 2008

MY FAIR LADY – MINHA BELA DAMA (My Fair Lady)



MY FAIR LADY (1964) representa a velha Hollywood agonizando e sendo aplaudida pelo luxo e pelo glamour por uma Academia careta, que o contemplou com 8 Oscars, inclusive os de melhor filme e direção. É quase sempre uma unanimidade entre a crítica e os fãs do diretor dizer que George Cukor ganhou o Oscar pelo filme errado. E concordo com isso, já que a impressão que fica ao ver MY FAIR LADY é que Cukor deveria ter parado de dirigir com ADORÁVEL PECADORA (1960). Arrisco dizer isso sem mesmo ter visto os filmes seguintes do diretor. Espero que esteja errado, já que ainda tenho dois dele para assistir. Uma pena, aliás, uma tragédia Marilyn Monroe ter morrido durante as filmagens de SOMETHING’S GOT TO GIVE (1962), um dos mais famosos filmes inacabados da História do Cinema e que deve ter mexido bastante com Cukor. Poderia quem sabe ser um de seus melhores trabalhos, já que o ano de 1962 acabou se tornando um ano chave para o fim da Era de Ouro de Hollywood – vide HATARI!, de Hawks, e O HOMEM QUE MATOU O FACÍNORA, de Ford, para citar dois exemplos famosos.

Os prêmios para MY FAIR LADY talvez se devam principalmente à luxuosa produção, à direção de arte caprichada, à própria ambição do filme, que se arrasta por quase três horas, ao fato de ter sido filmado em belíssimo technicolor e em 70 mm e, provavelmente, ao gosto antiquado dos membros da Academia. Comparando a premiação de MY FAIR LADY com a última cerimônia do Oscar, que deu os prêmios principais da noite para uma obra ousada e tão diferente quanto ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ, dos irmãos Coen, não deixa de ser uma grande conquista para uma renovação na Academia, por mais atrasada que ela tenha chegado.

Quanto a Cukor, na entrevista a Peter Bogdanovich, contida no livro "Afinal, Quem Faz os Filmes", ele concordou que o seu Oscar de direção poderia ter vindo por um filme muito melhor. É o típico caso de prêmio merecido mais pela carreira do diretor do que pelo filme em si. Quando Bogdanovich mencionou isso na entrevista, Cukor falou com sabedoria: "Bem, você não acha que as recompensas da vida funcionam assim? Não é simples causa e efeito."

A trama de MY FAIR LADY é boba, baseada na peça PIGMALIÃO, de George Bernard Shaw, e tornada ainda mais chata com as intermináveis cantorias e uma Audrey Hepburn sem o menor encanto, por mais que o filme tente mostrar a sua evolução no modo de falar e na beleza física, ao longo da narrativa. Se ao menos as canções fossem boas, como as de A NOVIÇA REBELDE, o filme até poderia ter me agradado. E dá pra notar quando Audrey passa a ser dublada nas canções. Além do mais, não gostei de Rex Harrison. E aquela canção lá no final, do seu personagem reclamando do porquê de as mulheres não serem como os homens soou meio estranho. A relação dele com a jovem florista, pobre e de vocabulário e comportamento vulgar, que ele apostou em transformar numa espécie de duquesa, parece meio dúbia, mais de pai para filha do que de atração física ou amor romântico, tendo em vista a sua solteirice convicta e a sua amizade com o Coronel, que fica parecendo uma espécie de relação homossexual velada - não que haja nada de errado com isso.

Nos anos 60, os musicais começavam a rarear, mas foi nessa década que outros dois outros musicais famosíssimos fizeram bastante sucesso. Refiro-me a AMOR, SUBLIME AMOR (1961) e A NOVIÇA REBELDE (1965). Quer dizer, provavelmente ainda havia público - pelo menos até a primeira metade da década - para esse tipo de filme, mesmo com a contracultura "bombando" e os cinema europeu deixando os americanos comendo poeira.

Ficam fantando agora apenas dois filmes para eu terminar a minha peregrinação pela obra de Cukor. Infelizmente, não consegui cópia de JUSTINE (1969), que parece ser um filme importante de sua filmografia, e vou dar um salto lá para o final dos anos 70.

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