quarta-feira, maio 07, 2008

A ILHA DOS PRAZERES PROIBIDOS



Depois de ver O DRAGÃO DA MALDADE CONTRA O SANTO GUERREIRO, de Glauber Rocha, deu vontade de assistir com mais freqüência clássicos do cinema brasileiro. Opções é que não faltam em casa. Comecemos, então, por A ILHA DOS PRAZERES PROIBIDOS (1979), o maior sucesso de bilheteria da carreira de Carlos Reichenbach. O filme é bastante ousado, não apenas no que se refere ao erotismo, que eu considero de menor intensidade que o mostrado no filme seguinte, IMPÉRIO DO DESEJO (1980), mas por tratar de temas bastante complicados naquele momento de ditadura militar pesada e de perseguição aos artistas. Os censores temiam que os artistas colocassem algum conteúdo "impróprio" em suas obras. Mas o sexo estava liberado. De forma a driblar os censores, Carlão não apenas satisfez a vontade do produtor da Boca do Lixo, Antônio Polo Galante, que queria um filme com muita sacanagem, como também conseguiu fazer um filme político utilizando metáforas, trocando inteligentemente a política pelo sexo.

Na trama, Ana (Neide Ribeiro) é uma suposta jornalista que trabalha no Estado de São Paulo - jornal que até hoje leva o estigma de jornal de direita e de ter apoiado a ditadura. Na verdade, ela é uma assassina profissional, que é contratada por uma corporação cuja missão é eliminar os subversivos. Parte deles estariam nessa tal ilha, que se localiza aparentemente em outro país. Para se chegar lá é preciso primeiro atravessar um rio e depois os guardas do local fiscalizam a bagagem dos estranhos que entram no lugar em busca de armas ou qualquer outro objeto suspeito.

Roberto Miranda é o personagem que, sem saber de nada e vivendo tranqüilamente com sua namorada/esposa numa casa próxima às margens do rio, é o guia da espiã, que pede que ele a leve para conhecer a ilha e algumas pessoas que ela deseja conhecer para fazer umas entrevistas, no caso com os dois refugiados que estão em sua lista negra. Depois de matar a namorada do rapaz sem que ele saiba, os dois partem para a tal ilha. O primeiro personagem que conhecemos da ilha é um rapaz meio louco, vivido por Fernando Benini, que passa os dias numa barraca ao lado de duas moças gostosas e liberadas sexualmente. A primeira vez que Benini aparece ele está fotografando a nudez de uma dessas belas jovens. Às vezes os diálogos não fazem sentido, especialmente quando está em cena o personagem de Benini.

Como é comum ver em alguns filmes do diretor, a sacanagem e a baixaria convivem lado a lado com a erudição e com as referências a cineastas apreciados por Carlão, como Jean-Luc Godard e Samuel Fuller, no caso. As citações eruditas, que causaram estranheza no público atual durante as exibições do recente FALSA LOURA (2008), já se faziam presentes em A ILHA... Uma das coisas que eu mais gostei foi a utilização de duas canções de John Lennon no filme: "Real Love" e "God", duas das mais inspiradas faixas do ex-Beatle. Há também Pink Floyd na trilha sonora, mas como não sou muito ligado no som da banda, nem reparei. E olha que o Carlão falou que a música é do disco DARK SIDE OF THE MOON, que foi o único disco da banda que eu comprei, embora tenha-o vendido num sebo.

A ILHA DOS PRAZERES PROIBIDOS teve alguns cortes feitos pela censura, mas nada que chegue a atrapalhar o andamento da narrativa. Para criar a personagem da espiã assassina, Carlão se inspirou em literatura barata, em livros vendidos em bancas de jornal, pulp fiction. Literatura barata, pouca grana, pouco tempo para realizar o filme (apenas três semanas) e o resultado foi essa maravilha. Viva o cinema bom e barato!

Agradecimentos ao amigo Sandro Ramos, que fez a gentileza de gravar esse filme pra mim do Canal Brasil.

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