quarta-feira, junho 06, 2007

O DEMÔNIO DA NOITE (He Walked by Night)



Fazendo um link com a recente obra de David Fincher, falemos de um filme que se assemelha em muitos sentidos a ZODÍACO. Se o trabalho de Fincher pode ser considerado um anti-filme de serial killer, O DEMÔNIO DA NOITE (1948) seria um anti-film noir que também mostra a obsessão de um grupo de policiais para pegar um criminoso. O que destaca esse assassino de outros é que ele consegue, de posse de um rádio da polícia e muita inteligência, evitar a captura. Ele também costuma fugir sempre que necessário pelo sistema de esgotos de Los Angeles, um enorme túnel subterrâneo construído para evitar que a cidade tenha problemas de enchentes. Também dificulta a captura do criminoso o fato de ele não ter nenhum registro anterior na polícia.

Não tão violento e sádico quanto o Zodíaco, o assassino de O DEMÔNIO DA NOITE é mostrado como um sujeito misterioso cujas motivações são uma incógnita para o espectador. Na verdade, o mais importante do filme não são as ações criminosas do sujeito - que nem são tantas assim -, mas as investigações para pegá-lo; o jogo de gato e rato entre polícia e bandido. E mais importante ainda é a estética cenográfica e a fotografia estilosa de John Alton que lembra muito o expressionismo alemão. Alton foi parceiro de Anthony Mann em vários trabalhos. Inclusive, Mann também é diretor do filme, ainda que não creditado. O crédito foi para Alfred L. Werker, que deixou o filme no meio das filmagens, sendo substituído por Mann. O filme tem alguns pontos que o diferenciam do gênero noir, como a ausência da femme fatale e a falta de uma narração em primeira pessoa. Em vez disso, a adoção de um tom semi-jornalístico.

Pesquisando pela internet, soube que O DEMÔNIO DA NOITE foi inspirado nas ações de Erwin "Machine Gun" Walker, o bandido cuja história inspirou a série de tv DRAGNET (1951-1959). E a história real de Walker é ainda mais interessante do que a mostrada no filme e bem que Hollywood poderia explorar em outro filme, se é que já não o fez e eu não fiquei sabendo. Vejam só: em 1946, Walker confessou seus crimes e foi condenado à morte. 36 horas antes do dia de sua execução, ele tentou o suicídio. Com isso, sua execução foi interrompida e ele foi internado num hospital psiquiátrico. Anos depois, em 1959, ele foi considerado são e voltou para a prisão, mas sua sentença foi cancelada. Em 1973, houve um novo julgamento e Walker foi posto em liberdade. Depois disso, ele mudou de nome, casou-se e mudou de vida. Outro detalhe morbidamente interessante é que o pai de Walker, assim que soube da prisão do filho e da sentença à morte, cometeu suicídio.

Agradecimentos à Carol Vieira, que fez a gentileza de me emprestar o filme. O DEMÔNIO DA NOITE foi lançado em DVD no Brasil pela Aurora.

P.S.: Está no ar a nona edição da Revista Zingu! O destaque desse mês é o dossiê Jairo Ferreira. Por enquanto, eu só li o editorial do Matheus e o depoimento do Eduardo Aguilar sobre sua amizade com o Jairo. Tenho a impressão de que a revista está cada vez melhor, mais madura e com textos cada vez mais caprichados, mas sem ser cansativos. Imagina como estará daqui a um ano, hein.

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