terça-feira, junho 19, 2007

A LONGA VIAGEM DE VOLTA (The Long Voyage Home)



Engraçado eu ter comentado recentemente que tinha achado O ÚLTIMO HURRAH (1958) um filme teatral. Coincidentemente, nas minhas buscas pelos filmes de John Ford - que acabam atrapalhando a ordem cronológica inicialmente pretendida para essa peregrinação -, tive a oportunidade de baixar este A LONGA VIAGEM DE VOLTA (1940). Esse sim é provavelmente a obra mais teatral do diretor. E não poderia ser diferente, já que o filme é baseado num grupo de peças de Eugene O'Neill e se passa quase que totalmente dentro de um navio. Já tinha visto um filme baseado numa obra de O'Neill: LONGA JORNADA NOITE ADENTRO, de Sidney Lumet, e fiquei me perguntando: será que a maioria dos dramaturgos americanos gosta de mostrar personagens bêbados ou viciados na bebida?

Porém, como é comum em filmes baseados em peças teatrais, levei um tempinho para me acostumar e deixar de imaginar que estava vendo teatro filmado, mesmo em se tratando de John Ford na direção. A LONGA VIAGEM DE VOLTA é um filme atípico na carreira de Ford. Há uma maior preocupação no desenvolvimento dos personagens do que na trama. Também não há um protagonista, embora John Wayne, lá pelo final do filme acabe brilhando mais do que os seus companheiros de elenco.

A fotografia em preto e branco de Gregg Toland, poucos meses antes de trabalhar em CIDADÃO KANE, de Orson Welles, é um dos pontos mais positivos do filme. Muito bonito ver, por exemplo, o barco saindo da forte neblina e se aproximando da câmera. Dos filmes de Ford, A LONGA VIAGEM DE VOLTA é um dos mais louvados nesse aspecto. Toland é até hoje um dos diretores de fotografia mais respeitados de todos os tempos, tendo ficado famoso por causa da técnica de profundidade de campo utilizada no filme de estréia de Welles. Toland gostava de experimentar e A LONGA VIAGEM DE VOLTA é cheio dessas experiências do fotógrafo.

Interessante como Ford gosta de mostrar as suas raízes irlandesas em seus trabalhos. Em duas ou três vezes no filme, os personagens pedem para tocar uma música irlandesa para animar a festa. E a música tocada é bastante familiar. Até parece aquela música tocada nos filmes de cavalaria do diretor - tenho mais lembrança de RIO GRANDE (1950). Será a mesma música? Uma das coisas mais bonitas do filme é o sentimento de irmandade que existe entre os homens que deixam suas vidas e suas famílias, talvez fugindo de algum problema ou de algum amor não resolvido, para se dedicar à rotina no mar e no perigo da guerra.

Acho que o fato de eu ter visto o filme com legendas em espanhol tenha atrapalhado um pouco a apreciação e eu acabei não curtindo o filme tanto quanto gostaria. Tudo bem que eu prefiro ver filme com legendas em espanhol do que ver sem legendas, mas às vezes elas atrapalham. Eu me confundo querendo ao mesmo tempo ouvir o diálogo em inglês e ler as legendas em espanhol. Felizmente, o próximo Ford que eu verei - CAMINHO ÁSPERO (1941) - será uma cópia com legendas em português.

John Ford recebeu uma dupla indicação ao Oscar de direção no ano seguinte. Tanto por A LONGA VIAGEM DE VOLTA quanto por AS VINHAS DA IRA (1940). Ganhou pelo segundo, só que ele não compareceu à premiação. Preferiu sair pra pescar com o Henry Fonda na costa do México.

P.S.: Não deixem de conferir o teaser trailer de PORTO DOS MORTOS, primeiro longa-metragem de horror de Davi de Oliveira Pinheiro.

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